
Quando se fala em político enrolado, a figura de Pedro Lucas Fernandes, deputado federal pelo Maranhão e líder do União Brasil na Câmara, se destaca com brilho próprio – ou melhor, com a sujeira de quem parece ter mergulhado de cabeça no lamaçal da velha política. Uma reportagem escancarou um esquema vergonhoso envolvendo uma emenda de R$ 1,25 milhão indicada por ele para recuperar estradas vicinais no município de Arari (MA). Resultado? O dinheiro sumiu. E o deputado? Lavou as mãos.
A estrada que liga o povoado de Canarana ao centro da cidade continua praticamente intransitável, principalmente durante o período chuvoso. Moradores, como a lavradora Dulce da Conceição, seguem isolados, sem acesso a hospitais ou escolas. Mesmo assim, o recurso público destinado para melhorar a vida dessas pessoas desapareceu como mágica – sem deixar rastro, sem obra e sem explicações plausíveis.
Pedro Lucas, claro, tenta se esquivar da responsabilidade: “Confesso que desconheço para onde foi a emenda”, disse, como se fosse um cidadão qualquer, alheio ao próprio ato de legislar. Ora, deputado, se não sabe para onde vai o dinheiro que você mesmo indica, está fazendo o quê no Congresso?
A situação é ainda mais revoltante porque o recurso foi enviado por meio de emenda Pix – aquela modalidade que transfere o valor integral direto para a conta do município, sem qualquer controle efetivo. No caso, a verba caiu na gestão do ex-prefeito Rui Filho, aliado político de Pedro Lucas. Coincidência? Difícil acreditar.
A atual prefeita de Arari, Maria Alves Muniz, diz com todas as letras: “O dinheiro sumiu.” E a análise dos extratos bancários da prefeitura mostra que o valor foi transferido para outras contas municipais, misturado com verbas de custeio, e então pulverizado em pagamentos a empresas suspeitas – entre elas, um lava-jato, uma loja de artigos esportivos e até uma firma de manutenção de ar-condicionado. Uma dessas “empresas” funciona (ou funcionava) num imóvel fechado, onde antes havia um escritório de advocacia. A suposta proprietária da loja é beneficiária do Bolsa Família e sequer sabia que era dona de empresa.
Esses indícios, segundo especialistas, lembram práticas de lavagem de dinheiro, com transferências sucessivas que dificultam o rastreamento. A comparação feita por Gregory Michener, da FGV, é direta: “É um método similar ao de facções criminosas.” Isso mesmo: o modus operandi de algumas prefeituras com dinheiro público se aproxima do crime organizado. E Pedro Lucas, ao fingir ignorância, atua como cúmplice por omissão ou conveniência.
O ex-prefeito Rui Filho, por sua vez, tentou justificar o gasto da verba com emergências causadas por enchentes – mas os repasses aconteceram em setembro, meses depois das cheias. Ou seja, a desculpa é tão furada quanto as estradas que continuam intransitáveis.
Enquanto isso, crianças seguem sem transporte escolar, lavradores sem acesso à cidade, e a população de Arari sendo feita de boba. Não é só a prefeitura que deve explicações. A responsabilidade política, ética e moral também é do parlamentar que indicou o recurso. Fingir surpresa ou alegar desconhecimento é uma afronta à inteligência do eleitor.
Pedro Lucas, o líder do partido no Congresso, deveria ser exemplo de transparência. Em vez disso, aparece como mais um personagem de um enredo repetido: emendas desviadas, obras fantasmas e aliados políticos beneficiados às custas do sofrimento do povo.
Quem não fiscaliza o próprio dinheiro, compactua com seu sumiço. E quem faz política como Pedro Lucas Fernandes, honestamente, está mais sujo que pau de galinheiro.