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Exclusivo! Dr. Cutrim concede entrevista ao JIB e fala sobre o atual cenário do sistema de segurança do Maranhão

Neste final de semana, o experiente delegado da Polícia Federal, ex-secretário de Segurança Pública do Maranhão e ex-deputado estadual, Dr. Raimundo Cutrim concedeu entrevista exclusiva para a redação do Jornal Itaqui-Bacanga (JIB).

Perito no assunto, Dr. Cutrim fez uma avaliação do atual cenário do sistema de segurança pública do Maranhão. No seu ponto de vista, existem muitas falhas a serem corrigidas para a oxigenação e revitalização das instituições (Polícia Civil e Militar, além do Corpo de Bombeiros).

Redação JIB – Dr. Cutrim é visível que no sistema de segurança tem uma defasagem grande que compromete a efetividade do trabalho das instituições. O que o senhor pensa sobre esse tema?

Dr. Cutrim – Hoje a Polícia Militar, a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros têm uma defasagem muito grande. Só para se ter uma ideia, a Polícia Militar não possui 11 mil policiais militares. Desses 11 mil, muitos estão à disposição de outros órgãos, os condicionais, que estão na Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas, e a Procuradoria Geral de Justiça. Tem ainda aqueles que estão com problemas de saúde que estão afastados. Então hoje existe um vão muito claro. No Corpo de Bombeiro continua com o mesmo efetivo quando eu saí, não cresceu nada. Olha que o trabalho do Bombeiro cresceu muito teve uma evolução em termo de trabalho, mas em termo de efetivo não. […]. Embora tenha definido em lei que todo ano tem concurso (CFO), o Bombeiro cresceu muito a cabeça, junto com a Polícia Militar, mas a base não tem.

Redação JIB – Na sua opinião o quadro do Corpo de Bombeiros e Polícia Militar estão adequados para atender a demanda da população maranhense?

Dr. Cutrim – O Corpo de Bombeiros não tem dez soldados, é uma brincadeira! A maioria foi se promovendo e hoje não se tem mais saldado. A Polícia Militar tem um efetivo de 11 mil homens, quando o previsto é de 15.329 homens. Então isso aí é uma realidade, é uma média de 650 pessoas para um militar. Mas de acordo com as Organizações das Nações Unidas (ONU) o certo é 250 pessoas para cada um.

Redação JIB – O concurso público resolveria essa lacuna?

Dr. Cutrim – Hoje nós temos um problema muito sério desses concursos, que é a pendência jurídica. Você faz um concurso hoje de 200 vagas, é uma demanda jurídica muito grande, que muitas das vezes as pessoas que passaram em 201 não é chamado e quem passou em 20.000 mil é chamado. Então tem gente com pendência desde 2010. Isso é um atraso para a instituição.

Redação JIB – A forma como é conduzido o Curso de Formação da polícia no Maranhão é adequado?

Dr. Cutrim – O curso de formação que estão fazendo, com 60 a 90 dias, é um crime! Um curso com 90 dias o policial militar ou civil não tem condições de sair um policial bem preparado para a sociedade, porque ele não está preparado para atividade fim que é desenvolver o trabalho de proteção para a sociedade. Em São Paulo, o curso de formação são 11 meses e tem mais dois anos de estágio. Eu sugeria aqui que o Maranhão fosse de no mínimo 3 meses há 11 meses e acabar com curso de formação nos batalhões que não dá certo, não tem estrutura, colocava um em São Luís. Regionalizar não existe! Quando terminar o curso, de acordo com a classificação e as vagas eles vão ser distribuídos pela nota. Tem que ver se o estado tem orçamento, além dessa pendência jurídica que é um problema para a polícia. O outro problema também é que entra muita gente despreparada e o curso de policial não tem um exame toxicológico, a polícia tem que incluir, e, além disso, com o curso de 11 meses você tem o serviço de inteligência para fazer o trabalho de investigação social para saber a vida daquele policial. Entra gente sem a mínima condição de ser policial. Eu não acredito em um curso de 60 dias, não forma um profissional preparado.

Redação JIB – A Polícia Civil vem enfrentando dificuldades ao longo de gestões anteriores, qual sua avaliação?

Dr. Cutrim – A Polícia Civil está em uma situação gravíssima. Criaram muitas Superintendências sem agentes. A Polícia Civil, Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros precisam de concurso.

Redação JIB – Recentemente os policiais civis realizaram uma paralisação para chamar atenção, para alertar essas dificuldades.

Dr. Cutrim – Olha para você ter uma ideia, a Polícia Civil está praticamente extinta, os secretários anteriores acabaram com o sistema de segurança pública, principalmente a Polícia Civil, que está numa situação gravíssima. A Polícia Civil vem em busca de reajuste, mas os governos passados empurraram com a barriga e não deu coisa nenhuma. É um problema de orçamento! Mas tenho certeza que o governador Brandão vai ouvir. Quando secretário, ia, brigava, lutava com a governadora na época e defendia, que é o papel do secretário, é defender sua polícia, mas quem define é o governo. Tenho certeza que o governador tem boa vontade com o sistema de segurança pública, mas tem que sentar com ele para ver o que ele pode ajudar.

Redação JIB – A falta de reajuste na remuneração mexe diretamente no estímulo do policial?

Dr. Cutrim – Olha, em uma chefia o delegado regional recebe, eu acho, uma diária de R$ 200,00 reais. É uma indignidade há muitos anos esse mesmo valor gente. Como um delegado vai comandar uma delegacia regional do interior que pega cinco municípios, onde ele vai correr para um lado e para o outro por R$ 200,00? Isso é indigno. Não adianta dá uma diária de miséria, porque aí o secretário termina fazendo errado, o cara dá dez a quinze diárias que é um ato ilega,l responde por improbidade, para poder o cara comer.

Redação JIB – O que o senhor pensa em relação a essa quantidade de coronéis, não é um exagero?

Dr. Cutrim – Com relação a coronéis, nós temos entre 44 coronéis, é uma quantidade muito grande de coronéis para o efetivo. O que diz a lei? A lei diz que para ter um coronel é preciso entre 900 a 1.200 policiais, ora se nós não temos 11 mil, como vamos ter 42, 44 coronéis? É humanamente impossível você comandar um sistema desse com uma quantidade de coronéis dessa. A gestão anterior, o ex-governador Flávio Dino acabou com o sistema de segurança pública, ele colocou uma quantidade de coronéis muito grande, sem previsão legal e também criou uma quantidade muito grande de batalhões com os que já tinham, e um efetivo que não tem condições de ter essa quantidade… E outra coisa, o policial sai da academia como aspirante, depois tenente, aí 1° tenente, capitão, major, aá tenente-coronel. De tenente a major o salário se aproxima é uma diferença de 10% a 15%.  Quando chega de tenente-coronel para coronel estica muito, então tem que ser feito uma reforma que seja justo. Assim com o escrivão e o delegado, por isso na época implantei o Ciops, para ter uma polícia integrada.

Redação JIB – Outra coisa que é bastante comum atualmente, é a polícia receber o apoio das prefeituras, isso tem algum impacto negativo?

Dr. Cutrim –  Na minha época a polícia não ia mendigar gasolina no prefeito, depois que eu saí, já na gestão do Flávio Dino isso ocorreu, a prefeitura bancando a polícia. A polícia tem que ser independente, não tem que ser ligada à prefeitura e pedir esmola para prefeito, porque o estado tem que bancar sua instituição.

Redação JIB – É possível identificar que muitos policiais trabalhando paralelo no horário de folga, seja fazendo segurança de empresas ou segurança de autoridades, o famoso ‘bico’, qual sua opinião?

Dr. Cutrim – O que mais se vê hoje e isso tinha acabado é policial andando com prefeito, sendo segurança de prefeito. O comandante tem que fiscalizar e acabar com o ‘bico’. Como eu disse o ‘bico’ é milícia gente, e a lei é bem clara. A polícia tem dedicação exclusiva, ela não pode ter outra atividade remunerada, mesmo o policial de folga, se olhar ao pé da letra, é ilegal. Como acabar com isso? Vamos dar um reajuste, um reajuste que o governo possa dá e vamos criar uma lei que puna os empresários, os prefeitos e punir não só o policial. A polícia é do Estado, não é para estar na porta de a, b ou c, nem de comércio, a polícia tem que dar segurança para a população.

Redação JIB – Dr. Cutrim deixe suas considerações finais.

Dr. Cutrim – Quero agradecer o espaço, espero que tenha esclarecido as dúvidas e me coloco sempre à disposição do Jornal Itaqui-Bacanga, da imprensa de modo geral, mas também a nossa população a quem deixo meu abraço.

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