
Em 2023, o país registrou 2.518.039 nascimentos, o menor número desde o início da série histórica do IBGE, em 1976. A queda de 0,8% em relação a 2022 reflete mudanças culturais profundas, como a decisão de adiar ou até renunciar à maternidade e a formação de famílias menores.
Ao mesmo tempo, cresce a presença de pessoas mais velhas no mercado de trabalho. Dados compilados pela pesquisadora Janaína Feijó, da FGV Ibre, mostram que a participação de jovens entre 14 e 17 anos caiu 15% nos últimos 12 anos, enquanto o grupo entre 18 e 29 anos registrou retração de 6%. Já os trabalhadores com 40 anos ou mais tiveram aumento de 35% no mesmo período.
Entre os ocupados, o avanço é ainda mais expressivo: de 2012 a 2024, o número de adolescentes empregados caiu 8%, enquanto o grupo acima dos 40 anos cresceu 36%.
Força de trabalho mais velha, mas sem ganho proporcional de renda
Segundo o economista Bruno Imaizumi, da LCA 4intelligence, o aumento da expectativa de vida leva à permanência de pessoas mais velhas no mercado, mas isso não tem se traduzido automaticamente em melhores salários. O motivo, segundo ele, está na produtividade, que depende diretamente da qualificação educacional.
Embora o nível de escolaridade esteja avançando, o ritmo é considerado insuficiente. A pesquisadora Janaína Feijó alerta que será necessário investir continuamente na requalificação dos trabalhadores mais velhos, ao mesmo tempo em que setores como o de saúde e assistência social devem crescer, impulsionados pela maior demanda da população idosa.
Previdência sob pressão
O envelhecimento populacional também traz desafios para o sistema previdenciário. Com expectativa de vida chegando a 76,4 anos, o modelo atual — baseado na solidariedade intergeracional — depende da contribuição dos mais jovens para financiar os benefícios dos aposentados.
Entretanto, menos da metade da população em idade ativa está formalmente inserida no sistema previdenciário. O Relatório Global Previdenciário da Allianz classifica o sistema brasileiro entre os mais frágeis do mundo, atribuindo-lhe nota 4,2 (em uma escala de 1 a 7, onde 7 representa urgência máxima de reforma).
A projeção da seguradora indica que a razão de dependência de idosos deve dobrar nos próximos 25 anos, passando de 16% para 36%. O relatório também destaca a baixa idade média de aposentadoria e o alto nível de informalidade como obstáculos à sustentabilidade do modelo atual.
Déficit crescente e necessidade de reforma
Estudos oficiais indicam que o déficit do INSS, que cobre o setor privado, tende a quadruplicar nas próximas décadas, agravando os desafios fiscais do país. A elevada dívida pública reduz a margem de manobra do governo para cobrir déficits com recursos do Tesouro.
Diante desse cenário, especialistas defendem uma nova rodada de reformas previdenciárias. Para Bruno Imaizumi, o debate deve incluir a eliminação de privilégios, o aumento da idade mínima, a ampliação da formalização e o estímulo a planos de previdência complementar.
O consenso entre os analistas é que, sem ajustes estruturais, o sistema atual não será capaz de sustentar o envelhecimento acelerado da população brasileira.