Polo Coroadinho passa quase 90 dias sem homicídios dolosos apesar da disputaentre facções


Nelson Melo
Considerada uma marca expressiva, o Polo Coroadinho, localizado em São Luís e
composto, oficialmente, por 18 bairros, passou 84 dias consecutivos sem um registro
sequer de homicídios dolosos, apesar da disputa territorial entre duas facções
criminosas. O período começou em dezembro de 2018 e foi rompido no dia 27 de
fevereiro passado. O aumento do efetivo da Polícia Militar e o incessante trabalho de
investigação da Polícia Civil foram apontados como fatores para essa realidade.
Ao repórter Nelson Melo, que realiza pesquisa sobre facções criminosas no Maranhão,
o major Raimundo Mulundu Martins Serra Júnior, comandante da 2ª Unidade de
Segurança Comunitária (USC) do Coroadinho/Bom Jesus, disse que a sequência de
dias sem crimes dolosos contra a vida foi “quebrada” no dia 27 de fevereiro, quando
mataram Wellington Pinheiro Diniz, de 32 anos, por arma de fogo na Vila Conceição.
Até então, o Polo Coroadinho, ocupado por aproximadamente 100 mil habitantes, não
havia sido palco de nenhum homicídio doloso desde o início de dezembro do ano
passado.
O major declarou, para efeitos de comparação, que, entre janeiro e fevereiro de 2018, a
região foi marcada pelo registro de 6 casos de mortes violentas. Isso mostra que o
início de 2019 está representando uma redução muito grande nesse aspecto, ainda mais
em um lugar no qual Bonde dos 40 e Comando Vermelho (CV) buscam manter e
conquistar territórios, como ocorre em qualquer outro local do Maranhão onde essas
facções estão presentes, tanto na região metropolitana como no interior.
Para o oficial, que já tem 24 anos na corporação, a chegada de 30 novos policiais
militares, em dezembro do ano passado, à USC do Coroadinho/Bom Jesus, foi
fundamental para esse saldo positivo com relação aos homicídios e outros delitos no
Polo, que é dividido pela unidade em quatro partes: Alto do São Sebastião, Coheb-
Sacavém, Parque Timbiras e Coroadinho. Ele frisou que 5 viaturas de área e 2 de
território livre fazem o patrulhamento ostensivo na região, possibilitando uma atuação
mais dinâmica e eficiente.
Conforme descreveu, as guarnições de área percorrem a Primavera, as imediações da
Unidade Mista do Coroadinho, a Coheb-Sacavém, o Alto do São Sebastião e o próprio
Coroadinho. Esses policiais são auxiliados pelas de território livre e também por outras
equipes, como a Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam) e o Batalhão de Choque.
Com o aumento do efetivo na 2ª USC, o número de abordagens triplicou, “com um
comandante em cada área específica”. O major citou, como exemplo, o período
carnavalesco, que foi tranquilo no Polo Coroadinho, sem nenhuma alteração negativa
nas comunidades.
Apesar da tranquilidade, salientou Serra, a USC não diminuiu sua atuação e continua
monitorando, com a ajuda do Grupo de Serviço Avançado (GSA) do Comando de
Policiamento de Área Metropolitana 3 (Cpam 3); o 10º Distrito Policial (DP), Bom
Jesus, e a Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), as facções na
região. A atenção maior se volta para o Alto do São Sebastião, área onde o CV montou
uma “base”. O comandante pontuou que esse trabalho conjunto tem a pretensão de
reduzir, de forma expressiva, a quantidade de homicídios no Polo, que, em 2018,
registrou 21 assassinatos.
O major Serra mencionou a Nelson Melo, durante a entrevista, que, em um período
compreendido de janeiro de 2015 a dezembro de 2018, a redução nos números de
homicídios no Polo Coroadinho chegou a 57,14%, “saindo de 49 crimes dolosos contra
a vida em 2015 para 21 no fim de 2018”.
Atuação da Polícia Civil
Também entrevistado pelo repórter Nelson, que já lançou dois livros sobre facções
criminosas (“Guerra urbana – morrendo pela vida loka”/”Guerra urbana – o homem
vida loka”), o delegado Rondinelli Araújo, titular do 10º DP, atribuiu esses 84 dias
sem homicídios dolosos no Polo Coroadinho à prisão de todos os “torres” e
“disciplinas” de facções criminosas no local. Um desses capturados foi Wilson Silva
Pereira, 30, o “Tim”, em fevereiro deste ano, sendo que é investigado como autor de
um assassinato ocorrido em dezembro de 2018 contra Alex Marcos Pereira Coelho.
Considerado líder do Bonde dos 40 no Morro do Zé Bombom, o criminoso, preso pela
Delegacia do Bom Jesus, tem mandado de prisão em seu desfavor representado pela
Superintendência de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP). É detentor de uma
extensa ficha criminal, sendo que sua retirada das ruas é sinônimo de tranquilidade no
Polo. Rondinelli comentou que, mensalmente, o 10º DP está cumprindo, em média, 3
mandados de prisão na região.
Araújo enalteceu o trabalho conjunto com a USC do Coroadinho nessa prevenção e
combate ao crime comum e organizado na localidade, o que resultou nessa queda
significativa nos casos de homicídios. O titular do 10º DP destacou a quantidade de
inquéritos instaurados na Delegacia do Bom Jesus, com posterior prisão dos autores de
crimes dolosos contra a vida. Ele observou que cerca de 95% dos assassinatos que
ocorrem no Polo Coroadinho são produtos da guerra urbana entre as duas facções
criminosas existentes na região.
A equipe de captura do 10º DP, como declarou, não para e sai a campo quando
necessário para cumprir mandados de prisão ou em outros tipos de operações, de
forma parceira com a Polícia Militar. Rondinelli Araújo enfatizou, ainda, que auxiliou
o Departamento de Combate ao Crime Organizado (DCCO) da Seic, no mapeamento
das organizações criminosas no Polo Coroadinho. Nesse sentido, atuou em conjunto
com o delegado Gil Gonçalves, para facilitar o combate aos faccionados em todos os
aspectos, incluindo o tráfico de drogas, atividade-fim dos criminosos.