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Deus e o Filósofo

Deus e o Filósofo.
Há quem pense que ao se abordar a filosofia existencialista todos negam a existência de Deus, mas um estudo meticuloso nos leva a estudar um célebre nome, Gabriel Marcel (1887), o qual se tornou vulgar por sua filosofia de que o homem é um ser encarnado, posicionamento que tem sua progênie através da reflexão metafisica, cuja proposição, eu existo, leva-nos à seguinte afirmativa: Eu sou o meu corpo.
O homem não é apenas matéria extensa visível, mas nele há uma junção do corpo com o eu, o que se chama de encarnação. Nessa junção, denominada também de intimidade-concreção, ou seja, alma e corpo, existe um mistério. Marcel esclarece que o ser encarnado aparece como corpo, mas jamais sem identificar-se com ele, sem distinguir-se dele. Na apresentação do corpo não existe apenas a individualidade, mas sim participação.
A participação pode ser vista como o sentir, o que trivialmente pode ser entendido como sujeito, de modo que vai viver em um ambiente que não há barreiras, fronteiras, assim, o “eu existo” passa a ser visto como um universo existente, não se trata apenas de objetos, mas de criar um relacionamento que envolve experiências, o que se pode configurar como o eu e o tu, o tu e eu, de modo que categoricamente se afirma que o homem é encarnado, essa é a sua real essência.
Em sua análise, quando Gabriel aborda o assunto da encarnação, ele trata de outro ponto bastante interessante, o qual é denominado de homem viator (homem itinerante), nesse poliedro esclarece que deve haver um sentido para a vida, ou seja, o sentido de minha vida, caso isso não exista não há identidade no ser, mas ele será simplesmente o ter. O ser encarnado é na verdade um itinerante, ele é um homem que busca um sentido para a vida.
Essa peregrinação ou viagem leva o homem à reflexão, o que gera uma fenomenologia e metafísica da esperança. Gabriel Marcel diz que por meio da esperança a vida humana encontra sua estrutura, visto que o ser encarnado não pode viver neste mundo sem esperança. Diante dessa sua peregrinação neste mundo o homem pode encontrar obstáculos, pode estar diante de coisas que pareçam um escândalo, que lhe instigue a desistir, a estar subjugado, provações que não consigam superar, e estar preso apenas no ter.
A esperança torna-se para esse ser no mundo o grande expediente, o instrumento que serve de base para sua elevação, sem jamais negar o ser-no-mundo, mas que diante de cada situação pode sublimá-la para o seu bem, ou melhor, situações, problemas que poderiam levar a situação de desespero, de possessão, são transformados em bênçãos pela ação da esperança.
O que se pode entender na esperança é a transcendência, que leva o homem a uma grande viagem, fazendo-o entender que existe um ser além de todos os objetos, além daquilo que é fornecido pela matéria. Marcel diz que pela esperança se entende que há um princípio misterioso que existe no próprio homem, que não pode não querer aquilo que ele quer, se aquilo que ele deseja de fato merece ser carinhosamente querido, mas que de fato é querido por sua totalidade.
Marcel diz que a transcendência não vem ao homem através de meras argumentações, de posicionamentos ou pressuposições lógicas, porém, ela é intuitiva. Em seus posicionamentos está claro que o homem foi feito para Deus e jamais pode deixar de reconhecê-lo quando o mesmo passa em sua proximidade, aliás, Santo Agostinho acertadamente diz que nossa alma está inquieta até encontrar Deus.
Aos filósofos, Marcel diz que a atitude de cada um diante de Deus não deve ser de mera especulação, interpelação, interrogação, mas sim de adoração, de humildade, oração. O filósofo deve falar a Deus, não de Deus. O filósofo deve firmar-se em terra sólida, isso não acontece por meio de viés epistemológicos, mas pela reflexão metafísica.
O apóstolo Paulo destacou a importância da esperança, ele diz que por ela Abraão creu contra a esperança (Rm 44.18), no demais, afirmou que nessa esperança devemos nos alegrar (Rm 12.12), e quem quer ter uma vida pura deve firmar-se na esperança de Cristo Jesus (1 Jo 3.3).
Nenhum filósofo ou qualquer outra pessoa, pelo conhecimento que tiver, pode negar que sua encarnação não envolva corpo e alma, razão pela qual no seu ser há uma sede de Deus, e que ela jamais pode ser saciada por meras especulações filosóficas, assim, pois, para aproximar-se do Deus transcendente e imanente é preciso abscidir-se dos argumentos racionalistas e buscá-lo de todo coração (Dt 4.29). Jeremias disse que o nosso Deus é tanto de perto como de longe (Jr 23.23), e Paulo corrobora que é Nele que vivemos, existimos e somos (At 17.28).
Pr. Osiel Gomes

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