Dez ‘cangaceiros’ que aterrorizaram Bacabal são presos e mais três morrem em confronto

Nelson Melo
Do dia 25 de novembro até quinta-feira (6), as forças policiais do Maranhão já tinham
prendido 10 envolvidos no ataque à unidade do Banco do Brasil ocorrido na cidade de
Bacabal. Seis bandidos morreram em confronto com a polícia nesse intervalo.
Somente em um caminhão-baú, foram apreendidas diversas armas pesadas, incluindo
duas metralhadoras .50. Também foram recuperados mais de R$ 45 milhões levados
do banco.
O repórter policial, escritor e pesquisador do crime organizado Nelson Melo está
acompanhando toda esta situação, que começou em um episódio que o jornalista
denominou de “noite do cangaço”, sendo que esse fato será descrito em detalhes no
próximo livro da quadrilogia “guerra urbana”, que Nelson iniciou em 2017, quando a
sua primeira obra foi lançada na Universidade Federal do Maranhão (Ufma), Campus
do Bacanga, em São Luís.
O repórter Nelson dividiu o episódio em partes, que são conhecidas no jornalismo
como intertítulos, da mais atual até o evento em si, para que o público compreenda da
melhor forma possível.
Participação em morte de PM em SP
Segundo informado em entrevista coletiva realizada na manhã desta quarta-feira (5),
no prédio da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP/MA), em São Luís, a
quadrilha que fez o assalto milionário em Bacabal recentemente é a mesma que
torturou e matou a policial militar Juliane dos Santos Duarte, em São Paulo. A PM foi
torturada e encontrada sem vida no porta-malas de um carro. Na coletiva, a polícia
apresentou os suspeitos presos e o armamento pesado apreendido com o bando.
A informação foi passada pelo delegado Jefferson Portela, titular da SSP/MA, durante
a entrevista coletiva, que foi acompanhada pelo jornalista Nelson Melo. Segundo ele, a
quadrilha tem fortes ligações com a base do Primeiro Comando da Capital (PCC) em
SP, sendo que a quase totalidade dos capturados é daquele estado. Um deles, Ricardo
Santos de Souza, o “Ricardinho”, é considerado o mais violento do bando, que
promove ações do “novo cangaço” por várias partes do Brasil, sobretudo no Nordeste.
A morte da PM em SP
O corpo de Juliane, que tinha 27 anos, foi achado no interior do porta-malas de um
automóvel, em 6 de agosto deste ano, na Rua Cristalino Rolim de Freitas, no Bairro
Campo Grande, na Zona Sul de São Paulo. Ela estava desaparecida há uma semana, na
comunidade Paraisópolis, para onde seguiu com o intuito de comemorar o nascimento
do bebê de um casal de amigos. Em seguida, foi para um bar. Lá, bandidos do PCC
descobriram que ela era policial militar.
Uma testemunha disse que, por volta das 3h, ao retornar do banheiro, Juliane teria
escutado alguém reclamar do sumiço de um aparelho celular. Neste momento, ela
“sacou a arma da cintura e colocou sobre a mesa, dizendo que ninguém sairia do local
até que o celular aparecesse, identificando-se como policial”. Cerca de 40 minutos
depois, de acordo com as amigas que estavam com a PM, quatro homens invadiram o
local, sendo três encapuzados, portando armas de fogo. A militar, segundo o relato, foi
baleada duas vezes e levada pelos homens.
Apresentação dos criminosos em São Luís
Foram apresentados, na entrevista coletiva, oito, dentre os dez presos pela Polícia
Militar do Maranhão, em Santa Luzia do Paruá, na noite de segunda-feira (3). No total,
foram capturados, além de “Ricardinho”, o motorista do caminhão-baú onde o bando
era levado, em uma ação de resgate, Derli Luiz Gilioli, natural do Paraná; Geuzimar
Venâncio de Oliveira, o “Sardinha”, natural de São Paulo; Alexandre Gomes de
Moura, natural de SP; Wagner Cézar de Almeida, natural de SP; Robson Cézar
Ferreira, de SP; George Ferreira Santos, o “Capenga”, de Salvador, Bahia; Fábio
Batista de Oliveira, o “Pardal”, de SP; José Eduardo Zacarias Barboni, de SP, e
Valdeir Carvalho dos Santos, conhecido como “Velho” ou “Coroa”, de São Paulo.
A prisão dos suspeitos
O grupo foi preso logo após o caminhão-baú ter furado uma barreira policial, nas
proximidades de uma estrada vicinal, em Santa Luzia do Paruá, sendo que Derli
buscou os assaltantes de banco dentro de uma área de vegetação, em uma fazenda. Ele
seguia na frente do veículo com um dos criminosos que participou da “noite do
cangaço” em Bacabal. Na traseira, estavam os demais, com 10 fuzis calibre 556; 1
fuzil AK 47; 2 metralhadoras .50 (que é capaz de derrubar helicópteros e perfurar, sem
dificuldades, carros blindados); duas pistolas calibre 380; 449 munições de 556 e 17
coletes balísticos, sendo dois com placa de cerâmica, que segura tiro de fuzil.
Além de R$ 45.600.492 milhões, que estavam em malotes e sacos plásticos. Esse
dinheiro foi furtado da unidade do Banco do Brasil, denominada de Seret, em Bacabal.
Houve um confronto e três criminosos foram atingidos mortalmente e, evidentemente,
não resistiram. Tombaram nesse duelo Antônio Silva Santos, natural de Paraisópolis
(SP); Vadenilson Moreira, natural de Diadema (SP), e Renan Santos dos Prazeres.
Outros quatro também foram alvejados e sobreviveram, tendo sido levados ao hospital
mais próximo. E seis foram logo encaminhados à Delegacia Regional de Zé Doca.
Jefferson Portela disse que a Superintendência Estadual de Investigações Criminais
(Seic) está investigando em quais locais o grupo recebeu abrigo de Bacabal até Santa
Luzia do Paruá, pois o percurso não foi direto, uma vez que houve paradas no
caminho. “Iremos descobrir a cadeia de apoiadores locais do bando, pois os criminosos
se hospedaram nesse intervalo até serem interceptados no caminhão-baú”, declarou o
secretário.
A quadrilha
Segundo Jefferson Portela, a quadrilha que aterrorizou Bacabal é formada por 72
membros, com atuação em todos os estados do Nordeste, sendo um “braço” da facção
baiana Bonde dos Malucos (BDM), que é aliada do PCC. De acordo com declarações
do secretário, esta organização é a maior do Nordeste no que se refere a ataques a
instituições financeiras, sendo que possui bases em todos os estados dessa região
brasileira, mas dentro de uma rede que está em todo o Brasil.
O grupo tem como líder o baiano José Francisco Lumes, mais conhecido como “Zé de
Lessa”, que está no Paraguai, como a Seic já descobriu. Portela anunciou que está
agendada uma audiência com a Polícia Federal, para que se definam estratégicas de
localização dos membros da quadrilha que estão no exterior, em outros países da
América do Sul.
O ataque em Bacabal
O grupo chegou ao local por volta das 21h30 do último dia 25 de novembro e entrou
no recinto por meio do prédio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), sendo
que, dias antes da ação criminosa, a Seret foi abastecida com um grande volume de
dinheiro, na ordem dos milhões. Através de um buraco no teto, os bandidos entraram
ao local onde a grana estava armazenada.
Enquanto esse grupo subtraía o dinheiro da Seret, outra parte do bando atacava o
quartel do 15º Batalhão de Polícia Militar (BPM) com tiros de fuzil. Mas equipes do
Comando de Sobrevivência em Área Rural (Cosar), unidade do Batalhão de Operações
Policiais Especiais (Bope), contra-atacaram e abateram o líder do bando, Edielson
Francisco Lumes, o “Titi” ou “Dô” – que é irmão do “Zé de Lessa”, chefe de toda a
quadrilha. Também morreram seus comparsas, Gean Martins Rocha, natural de
Araguaína (Tocantins), e Warley dos Reis Sousa, o “Bombado” ou “Paulista”, natural
de Castanhal (Pará).

