
A pausa, no entanto, não é um caso isolado. O ritmo no Legislativo tem sido marcado por atrasos, sessões esvaziadas e pouca produtividade ao longo de 2025. Parlamentares relatam nos bastidores que este tem sido um ano “peculiar”, com muito debate e poucos avanços concretos.
Reclamações por baixa produtividade
Senadores e deputados concordam que o desempenho legislativo nas duas Casas está aquém do esperado, especialmente em pautas consideradas “relevantes”. Há críticas generalizadas à condução dos trabalhos e ao excesso de ausências de seus presidentes, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), da Câmara, e o senador Davi Alcolumbre (União-AP), do Senado.
Ambos têm feito viagens internacionais ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde que assumiram a presidência das Casas, o que, segundo parlamentares, tem afetado a articulação política e o andamento das pautas.
Viagens e esvaziamento das Casas
Entre março e maio, Alcolumbre esteve com Lula em viagens ao Japão, Vietnã, Vaticano, Rússia e China. Já Hugo Motta integrou comitivas ao Japão e Vaticano, e em seguida participou de eventos em Nova York.
Nas ausências de ambos, o Congresso praticamente parou. Durante os períodos em que Motta esteve fora, por exemplo, a Câmara teve apenas uma sessão com votação de projetos. No Senado, foram duas sessões, com foco em requerimentos protocolares.
Líderes partidários destacam que a falta de articulação afeta a definição de pautas, atrasando debates importantes e emperrando decisões estratégicas.
Câmara com ritmo lento
Apesar de ter prometido mais agilidade no comando da Câmara, Hugo Motta ainda não conseguiu imprimir o ritmo desejado. Entre fevereiro e maio, a Casa realizou 46 sessões deliberativas, com 61 propostas analisadas — um pequeno aumento em relação ao mesmo período de 2024, quando foram 32 sessões e 58 propostas.
Ainda assim, lideranças consideram os temas analisados em 2025 menos relevantes do que os que avançaram sob a gestão anterior de Arthur Lira (PP-AL), como o novo arcabouço fiscal.
Além disso, compromissos anunciados por Motta seguem sem avanço, como a reforma eleitoral e o pacote antifraude do INSS. A promessa de criar uma comissão para discutir o voto distrital misto, por exemplo, ainda não saiu do papel.
Na última semana, diante das críticas, o presidente da Câmara anunciou que passará a pautar projetos mesmo sem consenso, numa tentativa de reagir às pressões internas.
Senado também desacelera
No Senado, o cenário é semelhante. A Casa registrou 27 sessões deliberativas de fevereiro a maio — uma queda de 20% em relação a 2023 e 2024. Foram 53 propostas votadas até agora, contra 57 no mesmo período de 2024 e 65 em 2023.
Alcolumbre concentrou seus esforços em bastidores, buscando destravar emendas parlamentares e negociar a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Algumas matérias importantes aprovadas incluem a flexibilização do licenciamento ambiental e a renovação das cotas em concursos públicos.
No entanto, temas sensíveis seguem travados, como a regulamentação da segunda fase da reforma tributária, o projeto que limita supersalários e mudanças nas regras eleitorais.
Clima de recesso e pouca expectativa de retomada
Com o recesso oficial previsto para 18 de julho, a expectativa é de que junho também seja marcado por esvaziamento, impulsionado pelas festas juninas e pelo Fórum de Lisboa, que contará com a presença de diversos parlamentares.
Apesar de haver previsão de avanço em algumas indicações do governo no Senado ainda este mês, há consenso entre líderes de que a produtividade legislativa só deve voltar a crescer no segundo semestre.