Estudo internacional indica contaminação fecal extrema na praia do Olho d’Água
A pesquisa, intitulada “Fecal Contamination in an Amazonian Macrotidal Beach”, foi divulgada em 29 de novembro e analisou amostras coletadas entre junho e dezembro de 2022, período que abrange tanto meses de chuvas quanto de estiagem. Foram realizadas seis campanhas de coleta em três pontos do ambiente costeiro: água do mar, água intersticial (retida na areia) e sedimentos superficiais.
As análises laboratoriais apontaram altas concentrações de coliformes totais, E. coli e Enterococcus spp. em todos os tipos de amostra. Na água do mar — parâmetro utilizado para determinar a balneabilidade — os valores excederam significativamente os limites oficiais de 2.000 E. coli/100 mL e 400 Enterococcus/100 mL. Os piores resultados ocorreram no período chuvoso, influenciado pelo escoamento superficial, extravasamento de esgoto e aumento da vazão do Rio Pimenta.
O quadro apresentado pelos pesquisadores coincide com episódios recentes observados por banhistas, que registraram manchas escuras e mau cheiro no mar do Olho d’Água em maio deste ano. Situações semelhantes já haviam sido percebidas em março nas praias do Calhau e de São Marcos, reforçando a preocupação com a qualidade da água na orla da capital.
Além da água, o estudo mostra que a areia e a água retida no sedimento funcionam como reservatórios de micro-organismos fecais, sendo constantemente remobilizados pelas ondas e pela maré. Os autores destacam que não existe no Brasil norma federal que exija o monitoramento sanitário da areia, o que pode transmitir falsa sensação de segurança aos frequentadores.
Entre os fatores apontados para os níveis extremos de poluição estão: lançamento de esgoto sem tratamento, aporte de rios urbanos, grande variação de maré característica da costa amazônica, ocupação desordenada e intenso fluxo de pessoas. A exposição à água ou areia contaminada pode causar diarreia, infecções gastrointestinais, doenças de pele e ouvido, além de riscos mais graves para idosos, gestantes, crianças e pessoas com baixa imunidade.
O estudo cita ainda dados do Ministério da Saúde indicando que São Luís registrou centenas de internações no último ano por enfermidades associadas à água contaminada. A deficiência no saneamento básico agrava o cenário: quase metade da população não possui coleta de esgoto.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente informou que ainda não teve acesso ao estudo e, por isso, não pode avaliar sua metodologia. Sobre os dados oficiais referentes a 2022, a pasta afirmou que as medições realizadas apresentam valores na faixa de centenas a alguns milhares de unidades, classificando a água como imprópria, porém distantes dos números divulgados pela pesquisa. A secretaria reiterou que o monitoramento semanal segue métodos certificados e que não há legislação específica que estabeleça parâmetros sanitários para avaliação da areia das praias.





