
Eu estava sentado, certo dia, lendo um livro, quando vieram as notícias sobre a eleição de Donald Trump na ocasião de seu primeiro mandato. Eu aguardava por isso. Minhas atenas jornalísticas logo se acenderam com uma luz hermenêutica direcionada para o mundo no que compreende sua natureza apocalíptica moderna transglobalista.

De súbto, como jornalista, escritor e teólogo, observei os fatos daquele momento como elementos lincados ao protagonismo escatológico geopolítico. Na ocasião, Jared Kushner (então com 36 anos de idade), genro de Trump, orgulhava-se de sua habilidade no trato com homens mais velhos. Quando Donald Trump tomou posse, Kushner já tinha sido designado intermediário entre o sogro e a corrente dominante do partido dos republicanos mais moderados, interesses corporativos, os ricos de Nova York. Para uma elite assustada, o acesso a Kushner significava ter algum controle sobre uma situação volátil.
Diversas pessoas do círculo de homens de confiança de Trump confiavam também em seu governo — e com frequência manifestavam a Kushner suas preocupações com o amigo, o presidente eleito.
Um deles queixou-se ao genro de Trump o seguinte: “Dei bons conselhos sobre o que Trump tinha de fazer. No dia seguinte, ele procedeu assim durante três horas e, depois, saiu inapelavelmente do roteiro”. Kushner, que mantinha uma atitude de ouvir as coisas e não dar muito retorno, disse ao interlocutor que compreendia sua frustração.
Nós, jornalistas que acompanhavam os fatos internacionais, percebemos que todos esses figurões tentavam transmitir uma ideia da política no mundo real. E o mundo real da política também é o mundo real da espiritualidade. Por estranho que pareça. De um lado está a espiritualidade em Deus. De outro está a espiritualidade satânica. E bem aí está o protagonismo do Anticristo. O Anticristo não é um único homem governando o mundo. O Anticristo é um sistema. Só que esse sistema é governado por seres humanos infernais. E suas tramitações são forças invisiveis. Esta é a interpretação que vem à minha inteligência espiritual escatológica toda vez que leio e estudo o Apocalipse capítulos de 6 a 13. Vejo, no texto bíblico, uma sociedade secreta comprometida com a invocação ao dragão que representa Sataniel, o cristo das sociedades secretas.
Liguei para um amigo e comentei com ele que a política daquele momento dizia entender em medida muito maior do que o futuro do presidente americano, assim como o futuro do mundo. E o mundo percebeu que todos estavam preocupados, achando que Trump não percebia o que iria enfrentar. O problema é de complexidade internacional e, face ao destino que os globalistas pretendem dar ao mundo, nenhum chefe de Estado faz o que quer. Todos são controlados pelo sistema secreto global.
Um jornalista da mídia internacional disse que simplesmente não havia método na loucura do presidente Donald Trump. Na verdade, o método de governo de qualquer país é o que o sistema globalista movimenta na economia mundial e obriga os chefes de Estado a seguirem. Eles não fazem o que querem, repito. Eles são obrigados a tomarem decisões que o sistema global força eles procederem. Jornalistas costumam dizer o que pensam do que percebem do mundo e para onde ele caminha. E dificilmente erram. Isto porque nós, jornalistas, estudamos e acompanhamos o sistema com as lentes do conhecimento e da intelectualidade.
Cada um daqueles interlocutores do governo Trump oferecia a Kushner um verdadeiro manual de instruções sobre os limites do poder presidencial — que Washington tinha sido planejada para frustrar e minar o poder presidencial tanto quanto para conciliá-lo. Cada um dos líderes mundiais, inclusive empresários multimilionários, sabe exatamente para onde eles querem conduzir os destinos do mundo. A ideia central sempre é direcionar a humanidade para Sataniel, o dragão do Apocalipse. Não é por acaso que todas as grandes autoridades e os líderes globais são do alto grau da maçonaria, a sociedade e/ou irmandade secreta.
Um figurão republicano, da política nacional americana com influência global, pediu a Kushner que ele não deixasse que Trump esbravejasse com a imprensa, não esbravejasse com o Partido Republicano, nem que fizesse ameaças a congressistas, porque eles acabariam com Trump e seus aliados. E que ele não esbravejasse, acima de tudo, com os órgãos de inteligência. Do contrário eles achariam um meio de virar a coisa contra o governo. Todas essas instituições são controladas pelas forças internacionais das sociedades secretas, que trabalham invisivelmente para Sataniel. “Então, se preparem para dois ou três anos de investigação a respeito dos russos, cada dia com um vazamento novo”, disse o figurão republicano, de alçada nacional.
Naqueles dias, visitei Lucas — um amigo irmão de inteligência muito afinada — e comentamos a respeito das políticas internacionais, exatamente a partir dos Estados Unidos. E, então, observamos que, para o extraordinariamente Kushner, o genro de Trump, foi pintado um quadro nítido sobre espiões e seu poder, sobre como órgãos de inteligência passam adiante segredos a ex-membros, a outros aliados no Congresso ou até mesmo a gente do pode executivo e da imprensa.
Lucas, que é teólogo e assíduo leitor de todos os gêneros literários, fez análises perfeitas dos Estados Unidos com respeito às relações internacionais, em que os russos estão terminantemente envolvidos. Lucas, aliás, foi um dos meus dissipuladores, quando eu aceitei a Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador. Na minha carreira intelectual, para ser justo, devo muito a ele. Por isso considero seus pensamentos a respeito de teologia, geopolítica e outras áreas do conhecimento humano. E, naquele dia, nós tratamos muito sobre os problemas internacionais e do Brasil.
— Vamos resolver os problemas do mundo — brinca ele, sempre que vou à sua casa para almoçar, tomar café ou jantar.
Lucas e eu, agora, vimos pela imprensa internacional que um dos mentores mais assíduos de Kushner era Henry Kissinger. Ele, que tinha assistido de camarote à revolta da burocracia e dos órgãos de inteligência contra Richard Nixon, destacou os danos e coisas piores que o governo dos EUA poderia enfrentar.
“O estado profundo”, conceito integrante do léxico do Breitbart News, de Bannon, e usado tanto pela esquerda quanto pela direita americanas para designar uma rede de conspiração permanente voltada para influenciar o governo, tornou-se uma expressão usual de Trump. Ele cutucava a onça do estado profundo. Deram-se nomes aos bois: John Brennan, diretor da CIA; James Clapper, diretor nacional de inteligência; Susan Rice, conselheira de Segurança Nacional de Obama; e Ben Rhodes, imediato de Rice e um dos favoritos de Obama.
Foram traçados, então, os argumentos de cinema: uma conspiração de asseclas dos órgãos de inteligência, de posse de todo tipo de informação prejudicial sobre a irresponsabilidade e sobre os negócios escusos de Trump, com um esquema estratégico de massacrantes, constrangedores e perturbadores vazamentos, impediria a Casa Branca de Trump de governar. O sistema é governado pelo espírito do Anticristo, e o espírito do Anticristo são as forças invisiveis das sociedades secretas. E esse mesmo sistema é cheio de traição, corrupção e violência.
O que disseram a Kushner, reiteradamente, é que o presidente precisava se emendar. Tinha que ampliar sua rede de relacionamentos. Devia se acalmar. “Com essas forças não se podia brincar”, afirmaram eles, com seriedade máxima.
Durante toda a campanha, e com veemência ainda maior depois da eleição, Trump vinha criticando os órgãos de inteligência dos Estados Unidos — a CIA, FBI, Conselho de Segurança, ao todo dezessete distintos órgãos de inteligência — chamando-os de incompetentes e mentirosos. (Essa acusação estava “no piloto automático”, de acordo com um assessor). Entre as inúmeras e variadas mensagens ambíguas conflitantes com o conservadorismo ortodoxo, aquela tinha um tempero especial. A troca de farpas de Trump com a inteligência norte-americana incluía as informações falhas sobre a questão das armas de destruição em massa que precedeu a guerra do Iraque, uma ladainha sobre os erros dos serviços de informação de Barack Obama no Afeganistão-Iraque-Síria-Líbia e outros relacionados às guerras e, mais recentemente (mas de modo algum com menor ênfase), os vazamentos sobre suas supostas relações com os russos e seus subterfúgios.
Lucas e eu avaliamos que, de certa forma, as críticas de Donald Trump coincidiam com as da esquerda em seu meio século na tentativa de mostrar aos órgãos de inteligência dos Estados Unidos como bichos-papões. Mas, em uma estranha reviravolta, os liberais e os órgãos de inteligência agora estavam alinhados em seu horror a Donald Trump. Grande parte da esquerda — que rejeitara categoricamente a inequívoca qualificação de Edward Snowden como traidor de segredos nacionais pela inteligência, em vez de um delator bem-intencionado — de repente passava a aceitar a autoridade dos órgãos de inteligência quando estes aventavam assuntos escusos de Trump com os russos.
Trump estava perigosamente por fora. As coisas precisam tomar outros rumos.
Assim, Kushner achou que ele se sensibilizaria com a possibilidade de incluir uma aproximação com a CIA entre as prioridades do novo governo.
Agora, com a volta de Trump ao poder, finalmente, no mínimo oito fatores terão de acontecer nos próximos anos com vistas até 2035. Primeiro é projeção de um esquema global, em que mudanças enormes estão ocorrendo e vão continuar ocorrendo progressiva e simultaneamente nos quatros continente da terra. A segunda é uma espécie de terremoto demográfico em que a população terá que diminuir para que o planeta sobreviva, o que explica a ocorrência de guerras e doenças como a pandemia da Covid-19.
A terceira coisa é a primazia da globalização em quase um terço de tudo o que é produzido no mundo agora é transacionado de país para país. A quarta coisa é com relação aos dois polos da globalização, isto é, China e Estados Unidos. Entendo que as excepcionais forças das economias dos Estados Unidos e da China, combinadas com seus tamanhos absolutos, determinarão grande parte do curso da globalização ao longo dos próximos dez a 15 anos e, com isso, a trajetória econômica de várias outras nações. Agora, e durante a próxima geração, a globalização terá dois polos: um oriental (a China) e outro ocidental (os Estados Unidos), semelhante aos polos Norte e Sul da Terra.
O quinto fator é o que diz respeito à economia do declínio na Eropa e no Japão. E, com relação a isto, o lento desenvolvimento da força econômica do Japão e das três grandes economias da Europa é tão importante quanto a ascensão da China e o sucesso sustentado dos Estados Unidos.
O sexto fator traz à lume a nova geopolítica do superpoder único, em que o poder militar global dos Estados Unidos é tão comum que é fácil negligenciar o quanto é único em termos históricos. O que é capaz de modificar o mundo não é a a extensão de sua capacidade militar, política e econômica, mas a ausência de países que sequer se aproximam dessas condições. Esse quadro cria o que Stephen Walt, proeminente teórico no assunto, chamou de “desequilíbrio de poder em favor dos EUA sem precedentes históricos (…) em toda importante dimensão de poder”.
O sétimo fator diz respeito à crise que se aproxima na saúde, na energia e no meio ambiente global. A decadência evolutiva nestas três áreas pode tolher empresas e ganhos salariais em países avançados e, assim, afetar profundamente as perspectivas das famílias de classe média pelo mundo todo.
E, finalmente, o oitavo fator é no que tange sobre as imprevisibilidades da história: terrorismo catastrófico e os avanços tecnológicos significativos. No meu próximo encontro com Lucas, que será na próxima semana, vamos falar sobre o problema de que as nações não podem alterar as forças globais que agora moldam suas trajetórias. Embora os resultados não possam ser ordenados, as sociedades sempre têm margens para afetar as consequências das forças que não podem controlar diretamente.
No que concerne à imprevisibilidade do terrorismo, a quem temer? Particularmente, penso que a guerra dos EUA com o terrorismo ajudará a definir a geopolítica da próxima década, independentemente de quem for o presidente. A forma que essa guerra assumirá, no entanto, irá depender de como cada administração dos Estados Unidos define o inimigo e sua ameaça. No paradigma atual americano “nós-contra-eles”, o “eles” têm sido definidos de modo amplo como fundamentalistas e extremistas islâmicos. A trajetória futura da guerra contra o terrorismo dependerá, em boa parte, imagino, de como os presidentes americanos e o Congresso dustingam os fundamentos islâmicos, com os quais os ocidentais podem aprender a conviver, e os violentos extremistas islâmicos que não conviverão com ninguém.
Mas eu voltarei com este assunto, depois que eu ouvir o Lucas. Certamente ele vai abordar o fato de que o islã tem profundas divisões, o que deve ser levado em conta. E falaremos, também, como se dará a unificação do governo mundial, em meio a todo o protagonismo geopolítico em que o sistema do Anticristo ocorrerá.