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ARTIGO: AGORA O MUNDO PRECISA MUDAR

A pandemia pegou todo o mundo despreparado e
exposto. Nem os testes para saber se alguém está
doente estão disponíveis. E, sem eles, não temos dados.
Sem dados, não temos planejamento confiável e nem
sabemos, com certeza, quantos estão infectados,
quantos já foram infectados e quantos desenvolveram
anticorpos. Sem dados é impossível calcular a taxa de
mortalidade ou mesmo o total de infectados que, na
verdade, deve ser muito mais do que o divulgado. A falta
de dados é muito perigosa e pode levar a caminhos
errados.
Copiamos o que outros países estão fazendo sem saber
direito quando sairemos dessa. Se tivéssemos um
controle rigoroso do que está acontecendo, milhares de
pessoas que foram infectadas e se curaram, já
desenvolveram anticorpos e poderiam voltar a trabalhar,
minorando as consequências econômicas do isolamento
social rigoroso. E isso está acontecendo nesta época
que tem à disposição toda essa parafernália tecnológica.
Mas aí fica a pergunta: nós temos um grande parque
industrial, em parte ocioso, por que o governo não lidera
um acordo para produzir aqui tudo o que precisamos?
Nos livraríamos de um mercado global altamente
disputado. Os E.U.A., por exemplo, de uma tacada só
mandaram 28 aviões para a China trazer tudo o que
pudessem de equipamentos e suprimentos para combate
ao vírus, prejudicando encomendas brasileiras. Os
Estados Unidos foram obrigados a corrigir o rumo
seguido, antes de acharem que era uma “gripezinha”
,
obrigados pelos milhares de infectados e de mortos que
se seguiram. Agora, estão tentando tirar o atraso e estão
fazendo 100 mil testes por dia, para saberem o que deve
ser feito. É uma mobilização de guerra, como estão
acostumados. E nós batendo cabeça. Cada um por si

não vai dar certo. Está muito desorganizado.
A humanidade parece não saber lutar contra os vírus.
Controlamos as epidemias do passado, cada vez mais
frequentes e perigosas, mas não conseguimos acabar
com os vírus ou mutações deles, como a AIDS, o Ebola,
a Gripe Suína, a Gripe Espanhola, as gripes e resfriados
comuns, sarampo, rubéola, catapora, caxumba,
poliomielite, febre amarela, raiva, hepatite A viral,
dengue, viroses, etc. e tantas mais. Elas estão aí mesmo
e continuam infectando pessoas e tirando vidas.
Mas, o que falar se uma grande parte da população
global continua vivendo em favelas, que milhões de
pessoas não têm esgoto, que muitos não têm nem água
tratada, nem energia elétrica e não têm acesso à
internet? Que outras não têm acesso a bons sistemas de
saúde pública, que a educação é precária, assim como a
mobilidade urbana? Creio, entretanto que muita coisa vai
mudar depois dessa crise. Há muito não víamos uma
OMS tão atuante, nem a ONU.
Atenção à pobreza – Acredito que o mundo que sobrar
vai encarar tudo de maneira diferente e procurar dar
mais atenção no combate à pobreza, às péssimas
condições de vida em favelas, ao saneamento porque,
mais do que nunca, a consciência de que todos estamos
no mesmo barco, veio para ficar. Ninguém está a salvo,
ricos ou pobres. Fugir para onde?
Na quarta-feira passada, na Folha de São Paulo, li um
artigo do Luciano Huck, que me chamou a atenção. No
artigo “A Cura”

, ele propõe discutir soluções para um dos
nossos maiores problemas, presentes em todo o país, as
favelas, verdadeiro tabu para a ação política pelos maus
exemplos das tentativas anteriores, baseadas apenas na
remoção. Essas comunidades se caracterizam pela falta
de estrutura básica mínima, qualidade de vida, algumas
gigantescas. A solução envolve políticas de

regularização fundiária, crédito, infraestrutura e o uso do
urbanismo como ciência. Passa, obrigatoriamente, por
oferecer imóveis residenciais acessíveis em áreas mais
assistidas das grandes cidades, dentro da lógica de que
morar bem é morar perto e, com essa opção, oferecer
aos moradores das favelas visando ao desadensamento
das mesmas. Muito diferente do Minha Casa, Minha
Vida, que não faz sentido, pois segregava as pessoas a
dezenas de quilômetros do emprego e de tudo.
Huck propõe recompactar as cidades, remodelar imóveis
degradados, fazer programas de zoneamento inclusivo.
O desenvolvimento imobiliário viria acompanhado de
percentuais de unidades sociais, por bairro, retribuindo
aos empreendedores com contrapartidas. Teríamos,
assim, um adensamento populacional das favelas que
tornaria bem menos complexos os processos de
urbanização dessas comunidades, possibilitando
investimentos em infraestrutura, lazer, educação e
cultura nas favelas. Alguns países já fizeram isso. Além
de água, esgoto e internet de alta velocidade, o estado
construiria uma infinidade de aparelhos urbanos como
praças, vilas olímpicas, bibliotecas, espaços
comunitários e, principalmente, a transformação de
escolas públicas em ambientes de excelência. A escola
como epicentro da comunidade.

Teríamos um novo modelo de propriedade nas favelas,
talvez de propriedade compartilhada na terra, como um
fundo imobiliário das comunidades, o que estreitaria os
laços e evitaria o avanço desmedido dos grileiros e
milícias. Nos EUA, existem os Community Land Trusts,
que são modos de proteger populações contra a
especulação imobiliária gananciosa. Para isso, seria
criado um Pacto pelas Cidades Brasileiras, que
envolveria os governos municipais e o governo federal.

O fato é que não é possível continuar assim, conclui.
Huck, pretenso candidato a presidente, ao se expor com
uma solução bem elaborada e pensada para um
problema gigantesco que envolve o Brasil todo, coloca
em novo patamar a disputa presidencial. Os outros terão
que mostrar o que pensam sobre os grandes problemas
brasileiros e não exibir apenas slogans e enunciados
superficiais, sem lastro. Isso seria um grande avanço.

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