
Em maio, mais de 1,23 milhão de famílias no Maranhão — praticamente metade da população do estado — dependerão do Bolsa Família para sobreviver. O programa social, que deveria ser uma ponte para a superação da pobreza, vem se consolidando como muleta permanente em uma realidade onde falta emprego, desenvolvimento e dignidade.
Com um repasse total de R$ 853,7 milhões apenas neste mês, o Governo Federal injeta recursos massivos no estado, enquanto os indicadores de pobreza seguem entre os piores do país. O valor médio do benefício no Maranhão, de R$ 692,55, é o reflexo de um modelo assistencialista que alivia a miséria, mas não a resolve.
O cronograma de pagamento — iniciado nesta segunda-feira (27) — segue o velho ritual: distribuição de valores conforme o final do Número de Identificação Social (NIS), numa coreografia burocrática que esconde a ausência de políticas estruturais para geração de renda, trabalho e independência financeira.
R$ 49 milhões em benefícios extras e ainda sem saída
Os benefícios complementares, que somam R$ 49 milhões, atendem quase 1 milhão de crianças e adolescentes, além de gestantes e nutrizes. Mas, em vez de celebrar números, deveríamos questionar por que tantas crianças seguem crescendo em contextos de extrema vulnerabilidade.
Em vez de sinalizar avanço, os dados escancaram o fracasso do Estado em garantir um futuro minimamente digno para sua população mais jovem.
Vulnerabilidade como rotina
O programa também beneficia 2.579 famílias em situação de rua, mais de 10 mil indígenas, quase 80 mil quilombolas e milhares de pessoas resgatadas de trabalho análogo à escravidão. A pergunta que fica: por que o Maranhão continua a gerar essas situações de miséria extrema ano após ano, governo após governo?
O dado mais alarmante talvez seja o número de famílias com crianças em situação de trabalho infantil — 377 neste mês — em pleno 2025. O número oficial pode ser apenas a ponta do iceberg de um problema estrutural que o assistencialismo não é capaz de resolver.
Capitais e pequenos municípios igualmente dependentes
São Luís, capital do estado, lidera em número absoluto de beneficiários: 129.904 famílias. Mas é em cidades pequenas como Jenipapo dos Vieiras, com apenas 17 mil habitantes, que se vê o retrato mais fiel da miséria: o município registra o maior valor médio do benefício, R$ 803,78. Em outras palavras, quanto mais pobre a cidade, maior o valor necessário para mitigar o abismo social.
Um programa que sustenta, mas não transforma
No Brasil, mais de 20 milhões de famílias serão atendidas pelo Bolsa Família em maio, somando um investimento de R$ 13,64 bilhões. O número é expressivo — e preocupante. Não por sua dimensão financeira, mas porque expõe a falência de uma política pública que se tornou permanente para milhões de brasileiros.
Enquanto isso, promessas de geração de empregos, educação de qualidade, capacitação profissional e infraestrutura seguem no papel.
No Maranhão, onde metade da população vive na dependência direta do programa, é urgente perguntar: até quando o Bolsa Família será tratado como solução, e não como um sintoma daquilo que continua sendo ignorado?