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A histórica atual temática racial

Por Osmar Gomes dos Santos

Uma Lágrima de Mulher é um típico drama romântico que marcou o início da carreira de Aluísio Azevedo. Mas foi apenas um breve ensaio, sem adentrar em pontos cruciais que mais tarde marcariam sua trajetória.

O Pensador foi um periódico que deu um tom mais realístico à sua voz e reunia escritos e que agregava um tom mais ácido à crítica que marcou o contexto social da época: a temática racista.

Embora a dita abolição só tenha iniciado em 1988 – e até hoje não concretizada –, quase um século antes Aluísio já elevava o tom da corrente abolicionista, muito influenciado pelo positivismo que ganhava força naquele momento.

Mais do que se admirar e se deixar levar por uma corrente ideológica que pretendia ao progresso, Azevedo era humanista e retratava nas folhas brancas a realidade como ela é. Com suas múltiplas habilidades, ouso dizer que, hoje, ele se arriscaria facilmente ser um cientista social.

Não é fácil naquele momento, quando parcelas de grande influência de nossa sociedade, incluindo a Igreja, defendiam a manutenção da economia escravocrata.

Aluísio foi intenso nos jornais, nos discursos e manifestações, mas seu perfil enquanto libertário e defensor de uma sociedade justa e igualitária, sem dúvida, ficou marcado em suas obras.

Assim, em 1881 é lançada a obra que seria um divisor de águas na literatura brasileira e que marcaria a vida do escritor. Além de marcar o início da fase naturalista brasileira, O Mulato foi o ápice da crítica aberta ao regime vivido e foi de encontro com parcelas conservadoras.

Com a esteriotipação de personagens, promoveu ampla abordagem de temáticas raciais, com destaque para o racismo, escravidão e a hipocrisia social instalada em uma sociedade que lucrava sobre o suor do trabalho escravo.

O país vivia uma conjuntura efervescente com a campanha abolicionista e Aluísio embarcou nessa temática para ancorar suas análises. O contragolpe foi imediato, tendo os 19 capítulos da obra recebido pesadas críticas.

Contraste que mais tarde levou para outros contos, especialmente O Cortiço, que mais uma vez destaca o paralelo entre dois mundos. Um que se inspirava em uma proposta da “belle époque” e outro que sofria as agruras da exclusão nas periferias.

Na essência de suas obras, algo tão atual para nós quanto o era há mais de um século: um país repleto de desigualdade; a carne negra explorada a baixo preço; a predominância do negro nos bolsões de pobreza.

Fatores que contribuem para o afundamento do abismo social que vivemos. Aluísio ainda vive, fato. Mas precisamos de mais homens e mulheres de coragem para levantar a voz e dizer: basta, somos todos iguais!

E assim, quem sabe não ecoa o brado forte da liberdade para que todos da nação possam ser alcançados com os raios vívidos que à terra desce de um céu formoso. Que resplandeça a imagem do cruzeiro, para além da pátria amada por todos, mas de uma pátria que a todas e todos possa amar.

Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

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