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Cooperativas: Solução para os pequenos agricultores

“A saída definitiva é trazer para o Maranhão a cultura das cooperativas de produção. Estamos buscando junto ao país que melhor usa essa tecnologia das cooperativas, a Alemanha, para uma proposta com concepção de um HUB de Inovação e foco na inclusão social”

A maioria dos pequenos agricultores maranhenses não tiveram acesso à alfabetização, vivem isolados, em geral, sem acesso a crédito como o Pronaf – o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – sem assistência técnica e muitos trabalham por subsistência apenas.

Quando fui governador eu sabia disso, já que conhecia o que se passava nos povoados, na área rural, entrava nas casas e conversava com os moradores. Via o quadro de pobreza predominante, mas também testemunhava que as pessoas tinham um senso muito forte de hospitalidade, sempre oferecendo pelo menos um café. Lembro que um dia estava indo para a inauguração de uma importante estrada próxima a São João dos Patos. O hoje deputado federal, Aluísio Mendes, era o piloto do helicóptero em que seguíamos e minha missão era representar a governadora Roseana Sarney na solenidade. Já estávamos relativamente próximos do nosso destino quando, de repente, caiu um temporal violento que nos tirou totalmente a visibilidade. Baixamos a altitude ao máximo para manter contato visual com a copa das arvores até que a chuva, muito forte, aumentou muito o risco e Aluísio resolveu procurar uma clareira para pousarmos. Não estava fácil, mas encontramos uma pequena clareira e conseguimos pousar. Permanecemos dentro do helicóptero, debaixo de uma chuva torrencial, aguardando passar, para prosseguirmos viagem, quando de repente ouvimos uma batida no vidro da aeronave, com insistência. Era uma senhora, idosa, ensopada pela chuva, com uma bandeja nas mãos com um bule de café e algumas xícaras. Não acreditávamos no que víamos, ficamos estupefatos e comovidos com um gesto tão eloquente de humanidade e hospitalidade. Era inacreditável o que estávamos vivendo ali. A senhora, ensopada pela chuva, mantinha um sorriso no rosto, nos mostrando que a solidariedade não tem limites para o povo – mesmo em circunstâncias adversas, como ela enfrentava para nos confortar, nos servindo um café no meio do temporal.

É claro que ela não sabia quem éramos e teria feito com qualquer um. Nunca mais a esqueci e isso me fez olhar diferente e com mais orgulho para o povo do Maranhão. Esse fato mostrou que tudo pode ser feito se você guardar esse sentimento de ir até o fim para ajudar. Levei essa lição para o governo.

Quando fui eleito governador, minha secretária de Agricultura foi a ex-prefeita de São Luís, Conceição Andrade, uma mulher preparada, próxima das comunidades rurais, que sabia muito bem as dificuldades da pobreza e dos pequenos agricultores e havia sido advogada de trabalhadores rurais. Os órgãos que prestavam assistência técnica aos pequenos agricultores, tanto o federal quanto o estadual, haviam sido extintos. A produção caiu muito como consequência. E a pobreza aumentou. Resolvemos então criar as Casas da Agricultura Familiar em cada uma das cidades-polo do estado. Elas foram equipadas com patrulhas mecanizadas, tratores com arados, colheitadeiras, e todas as ferramentas necessárias à agricultura familiar. E, principalmente, com um grande números de técnicos agrícolas e agrônomos, além de veterinários. Os agricultores se cadastravam nas Casas e eram visitados pelos técnicos e todos tinham, no período certo, essas máquinas para ajudá-los. E eram nas
Casas que iam buscar as sementes selecionadas, fornecidas nas datas certas para o plantio. Queríamos fazer com que a sua produção não fosse apenas para a subsistência da família, mas que pudessem, aumentando a
produtividade, ter sobras para vender e ganhar dinheiro.

Faltava um elo muito importante: o crédito agrícola, o Pronaf. Os agricultores, na maioria com pouca instrução, não se dispunham a entrar em uma agência bancária para entender como funcionava o Pronaf e assinar formulários sem saber como funcionavam. Esse quadro nos levou ao penúltimo lugar entre todos os estados nordestinos e uma arrecadação do Pronaf de apenas 20 milhões de reais por ano.

Conseguimos assinar convênios em que as equipes técnicas das Casas eram capacitadas e preparadas para serem agentes dos bancos para levar o Pronaf até os agricultores e ajudá-los fazer suas propostas, explicando a eles como tudo funcionava. Foi um sucesso absoluto, passamos do penúltimo lugar para o segundo na captação do crédito no Nordeste, atrás apenas da Bahia. De 20 milhões de reais por ano passamos para 380 milhões de reais por ano, dinheiro que entrava direto no bolso dos agricultores, sem intermediários. Com isso a pobreza no estado caiu de 54% para 24%, um recorde histórico.

Hoje considero que para evitar essas idas e vindas de governos, a saída definitiva é trazer para o Maranhão a cultura das cooperativas de produção. Estamos buscando junto ao país que melhor usa essa tecnologia das cooperativas, a Alemanha, a colaboração necessária para fazermos as nossas. Na terça feira passada, dia 20, estivemos em videoconferência com o CEO da Fundação alemã Steinbeis-SIBE, Peter M. Dostler, buscando o apoio necessário. Ele vai nos mandar uma proposta para a criação de cooperativas e a concepção de um HUB de Inovação com foco na inclusão social. É tudo que precisamos.

Estamos no rumo certo.
Que tenham tido um ótimo Natal e tenham um Feliz Ano Novo!

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