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IMUNIDADE E IDH. E QUANDO A CAIXA VAI ACORDAR?

Um dos maiores males da humanidade é a indiferença, principalmente
com as pessoas mais humildes e desprotegidas. Uma das cenas mais
constrangedoras dessa pandemia é o pagamento a milhões de
pessoas que estão precisando desesperadamente dos R$ 600,00
destinados àqueles que devido ao isolamento social e que precisam,
fundamentalmente, deste dinheiro para comer. Mas, o que acontece?
Devido ao já costumeiro apagão da internet, o sistema de cadastro não
funciona e as pessoas não têm outra saída senão tentarem falar com
alguém nas agências da Caixa, o que é outro sofrimento. Lá se
aglomeram centenas de pessoas todos os dias pelo Brasil afora,
pessoas que, empurradas pela necessidade, começam a chegar nas
primeiras horas da noite, ficando lá guardando lugar na fila, que logo se
forma, até que lá pelas 9h do dia seguinte finalmente as portas são
abertas e as pessoas começam a ser atendidas. Esse quadro, que é
mostrado diariamente pela televisão, se repete dia, após dia.
Então vem a pergunta óbvia: por que a Caixa não se prepara para
atender durante as 24 horas do dia? Se as pessoas estão lá durante
toda a noite, por que não são atendidas durante toda a noite já que
estão mesmo lá? Se isso fosse feito, as pessoas receberiam o seu
dinheiro e não precisavam ir para a rua, se aglomerarem e se
infectarem.
Em grande parte, a rebeldia dos moradores de São Luís – cidade que
grande parte de sua população vive de pequenos negócios, muito
pequenos mesmo – devido à pandemia e ao consequente isolamento
social, se não recebem esse dinheiro do governo não têm como botar
comida na mesa, tornando quase impossível ficar em casa em
isolamento. Se o dinheiro do Governo Federal não chega ,não há outro
jeito, eles vão tentar ganhar alguma coisa saindo e rompendo o
isolamento, pois esse dinheiro é importantíssimo para a sobrevivência.
Vamos lá pessoal, vamos ajudar! Caixa, cai na real!
Pobreza maranhense – Quando assumi o governo, uma das primeiras
providencias que tomei foi chamar Ricardo Paes de Barros, do IPEA
(que mais tarde formulou o Bolsa Família) para fazer um diagnóstico
sobre o Maranhão. No fim dessas conversas, eu tinha achado o slogan
do governo, a palavra-chave, curta, que ia mostrar a nossa intenção. A
nossa meta era evoluir para um determinado valor do IDH, que nos
colocava em outro patamar. No começo quase ninguém sabia o que
significava IDH, mas depois ficou bem popular.
Ou seja, ali estávamos nos comprometendo com nada mais, nada
menos do que em elevar o Índice de Desenvolvimento Humano. Ou

seja, Educação (alfabetização e taxa de matrícula), Longevidade
(esperança de vida ao nascer) e Renda (PIB per capita). Isso facilitou
muito o nosso trabalho, pois todos sabiam qual era a nossa prioridade.
E, principalmente, uniu nossa equipe de trabalho em torno de uma
meta determinada.
O professor José Lemos nos ensinava o que fazer, moldando muitos
dos nossos programas. Três programas fortes que faziam parte desse
elenco de medidas eram: O PRODIM, empréstimo do Banco Mundial
para combater a pobreza; o Água em Minha Casa, para oferecer à
população água de boa qualidade, não contaminada e o Banheiro em
Minha Casa, que tentava diminuir ao máximo as fossas tão populares
ainda naquela época. Havia também muitos outros programas que
compunham um grande elenco de programas, como as Casas da
Agricultura Familiar, graças ao fortíssimo trabalho de Conceição
Andrade, sempre inteligente e experiente.
O certo é que o resultado disso foi um grande crescimento do PIB e a
diminuição da pobreza e da pobreza absoluta no estado, o que ocorreu,
de fato, basta ver nos dados do IBGE e do IPEA. Eu tenho amplo
material sobre tudo isso. É indiscutível o que aconteceu.
Hoje em plena pandemia por causa do corona-vírus, vemos que eu
estava certo. Não podemos aceitar a desigualdade e a pobreza como
naturais. O jornal O Globo, de domingo passado, dia 3, abriu manchete
para afirmar que “Taxa de mortalidade reduz à medida que cresce o
IDH da Região” e mostra um quadro dos bairros de São Paulo, capital,
com a correlação entre o IDH da região e a taxa de mortalidade na
mesma. Rapidamente, vou mostrar alguns desses dados: em
Parelheiros, com IDH de 0,680, a taxa de mortalidade pelo coronavírus
é de 50 (por cada 100 mil habitantes). Em Cidade Tiradentes, com IDH
de 0,708, a taxa de mortalidade é de 39. Já em Pinheiros, com IDH de
0,942, a taxa é de 5 e, em Vila Mariana, com IDH de 0,938, a taxa é de
6. Quem quiser acesse o jornal para ver por inteiro a tabela que
comprova inteiramente a assertiva. Ou seja, o Covid-19 deixa mais
mortos nas periferias, escancarando o abismo social em que vivemos.
E falamos da cidade mais rica do Brasil.
O enorme avanço da doença – principalmente porque a recomendação
básica de lavar as mãos com água e sabão, (evidentemente, água não
infectada), não está ao alcance de grande parte da população que vive
em aglomerados urbanos densos, e pobres, sem água tratada e sem
esgoto – é agravado pela impossibilidade de manter isolamento social,
com muitas pessoas em pequenos cômodos. Quando alguma pessoa
fica doente, gripada ou com febre, o risco de estar infectada e
contaminar todo mundo é altíssimo e vem o desespero, pois os

hospitais de emergência e as UPA já se aproximam da capacidade
máxima de atendimento.
E vem a pergunta: quando tudo isso passar, vamos continuar a viver do
mesmo jeito? Vamos olhar para a nossa sociedade extremamente
desigual e achar que tem que ser assim mesmo? Vamos tolerar praias
e águas poluídas, esgotos correndo pela rua e virar a cara? Se
fizermos isso, estamos condenando o nosso próprio futuro, pois a
pandemia nos mostrou que tudo isso que aconteceu, não separa ricos
e pobres, iguala a todos na possibilidade de infecção. E o SUS não vai
ser prioridade, a nossa indústria médica, a busca por novos sistemas
de saúde pública baseados em inteligência artificial, vídeos
conferências?
Não posso acreditar que será assim. Me animei porque estou vendo
pessoas de alto padrão de vida, poderosas, que começam a expor
pensamentos animadores nesse sentido. Abílio Diniz, mega
empresário, na revista Veja, disse: “Vamos começar a criar um mundo
novo, com um olhar mais preocupado com a desigualdade e a inclusão
social”.
É animador. As pessoas, acima de tudo, estamos buscando uma base
digna para todos, ou todos pagaremos por isso.
No livro A Loja de Tudo, que trata de como o Jeff Bezos criou a
Amazon, o autor Brad Stone cita que Bezos gosta de citar uma frase de
Alan Kay que definia sua filosofia de trabalho: “É mais fácil inventar o
futuro do que prevê-lo”.
Pois bem, vamos inventar o nosso futuro. É mais fácil do que deixar
acontecer. E melhor para todos nós.

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