Comitê pede instauração de CPI da Alumar e alerta sobre perigos dos lagos vermelhos

O Comitê de Defesa da Ilha de São Luís está pedindo a instauração de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar danos ambientais causados pelo Consórcio
de Alumínios do Maranhão (Alumar/Alcoa) na região metropolitana da capital
maranhense. A entidade, por meio do médico-veterinário Renan Nascimento de
Morais, denunciou os perigos dos chamados lagos vermelhos, onde são despejados os
rejeitos da bauxita.
Em entrevista ao repórter Nelson Melo, Renan, demonstrando preocupação com a
situação, destacou que os tanques de bauxita da Alumar já estão vencidos, sendo que
são revestidos de plásticos, o que gera uma série de consequências catastróficas para
um ambiente insular como São Luís. De acordo com o médico-veterinário, a empresa,
por suas características e finalidades, jamais deveria ter sido instalada aqui, justamente
por se tratar de uma ilha.
Ele disse que, segundo a Associação dos Práticos do Estado do Maranhão (Apem),
vários animais já foram extintos das regiões atingidas pelas ações da Alumar na
Grande Ilha, como guaxelos, que desapareceram dos mangues da Baía de São Marcos.
Assim como uma espécie de caranguejo gigante, que simplesmente sumiu devido à
contaminação de mercúrio nos manguezais, e alguns tipos de peixe, que acabaram
morrendo em virtude da poluição das águas.
Segundo o entrevistado, essa destruição da flora e da fauna nativa é comprovada em
pesquisas sobre os impactos socioambientais nas comunidades rurais do entorno do
Distrito Industrial de São Luís, como o estudo feito pelo doutor Antônio Carlos Leal,
do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Maranhão (Ufma).
Essas pesquisas mostram, como frisou Renan, que após as instalações dessas indústrias
na capital maranhense, o rendimento familiar se tornou abaixo de um salário-mínimo.
Ademais, prosseguiu o membro do Comitê de Defesa da Ilha de São Luís, 15% dessas
famílias dependem de carros-pipa, poços ou cacimbas para obter água em suas casas.
“E mais de 85% dos moradores apontaram algum tipo de impacto ambiental na região
e responsabilizam as indústrias por conta dessa mudança no meio ambiente”, assinalou
Morais. Em quase 30 anos, uma parcela imensa da paisagem natural sumiu, incluindo
o manguezal, que foi devastado para a construção da Alumar.
Comunidades de pescadores de Itapecuru, Santa Cruz e Tainha desapareceram para
ceder lugar ao “grande empreendimento”, como se expressou o pesquisador Antônio
Leal, segundo citação feita pelo veterinário. Renan também citou o químico e
economista Raul Ximenes Galvão, que, em seu famoso artigo “Alcoa, a ‘besta-fera’
nas terras de São Luís”, assinalou que a Alumar foi instalada na capital maranhense
debaixo de protesto da comunidade ludovicense, pois foi construída em um
“ecossistema específico e especial”, com formação ligada ao relevo continental,
apresentando topografia irregular, com tabuleiros elevados.
Por esse e outros motivos, o médico-veterinário solicita a instauração da CPI da
Alumar, mas com a participação de químicos e outros profissionais de fora do
Maranhão, para que suas conclusões acerca da poluição causada pelo Consórcio sejam
imparciais. Essa equipe técnica, como pontuou Renan, vai averiguar os impactos
ambientais no perímetro que compreende as comunidades Cajueiro, Jacamin e outras
da zona rural ludovicense. Segundo ele, há relatos de moradores muito enfermos
devido aos problemas resultantes dos lagos vermelhos, em virtude das substâncias
nocivas ao organismo e à vegetação.
Ele comentou que a empresa foi beneficiada, durante 20 anos, com isenção fiscal, o
que facilitou as atividades da Alumar na ilha. Nesse ponto, o médico-veterinário
mencionou a questão das licenças ambientais, relembrando as tragédias que ocorreram
com relação às barragens em Mariana, em 2015, e Brumadinho, neste ano, em Minas
Gerais. O entrevistado pede mais comprometimento do poder público para evitar esse
tipo de situação calamitosa e também da sociedade, enfatizando o importante papel do
seu pai, o escritor, poeta e folclorista José Nascimento de Morais, que foi presidente
do Comitê de Defesa da Ilha de São Luís e sempre agiu no sentido de preservar as
belezas culturais e naturais da nossa cidade.
Nota da Alumar
O Consórcio de Alumínio do Maranhão – Alumar – formado pelas empresas Alcoa,
Rio Tinto e South32 opera dentro dos mais altos padrões internacionais. Trabalhamos
alinhados às várias agências ambientais e regulatórias, incluindo as Secretarias do
Meio Ambiente no sentido de garantir excelência operacional e evitar
riscos. A Alumar foi planejada e implantada com modernas tecnologias e
mantém o seu sistema em conformidade com as suas políticas de saúde, segurança e
meio ambiente.
Sobre as ARBs
As Áreas de Resíduos de Bauxita nascem de minuciosos projetos de engenharia e são
construídas com alto controle de qualidade, a fim de garantir a sua
operacionalização, sem oferecer riscos. O ciclo de vida das ARBs envolve projeto,
construção, operação e reabilitação. Todas as etapas passam por processo de
monitoramento, para garantir a integridade estrutural das áreas. As ARBs são áreas
especialmente construídas para a atividade de disposição do resíduo alcalino oriundo
do processo de refinamento da bauxita, minério de cor avermelhada, para obtenção
de Alumina, e são dimensionadas com base na produção da Refinaria, na geração de
resíduo e no balanço hídrico da planta. Atualmente, a produção de Alumina é de 3,7
milhões de toneladas por ano.
As ARBs são formadas pelos Sistema de Contenção, Sistema de Impermeabilização e
Sistema de Drenagem de Fundo. Este método construtivo não utiliza o próprio resíduo
como material de construção e sim o solo local, conforme investigação geotécnica
realizada para a implantação de cada área. Tais diques possuem altura máxima de 25
m. Todas as ARBs possuem a parte interna (taludes e fundo)
impermeabilizados com sistema composto por três barreiras de proteção.
Adicionalmente, um fator muito relevante é a presença de sistemas de drenagem de
fundo, cuja função é aliviar a pressão hidrostática no interior das áreas.Tal pressão é
monitorada através de piezômetros elétricos. A Alumar possui sete áreas de
Disposição de Resíduos de Bauxita. E destas, três já foram fechadas e reabilitadas.
Aplicando os melhores recursos tecnológicos e as mais rigorosas normas de
engenharia do mundo, a Alumar, em parceria com a UFMA, tem desenvolvido
pesquisas para a transformação sustentável do resíduo.