Ricardo Paes de Barros é um técnico especializado em combate à pobreza e desigualdade. Formado pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), a mais respeitada escola de Engenharia do país, fez Economia na Universidade de Chicago, entre outros cursos em importantes instituições de ensino de ponta dos Estados Unidos. Com formação acadêmica sólida, chefiou no IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estudos sobre a pobreza brasileira e quando fui governador eu solicitei a ele um estudo que nos mostrasse as causas da pobreza no Maranhão e as soluções que tínhamos ao nosso alcance. No Governo, segui os ensinamentos, coloquei como meta mobilizadora melhorar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e tivemos um grande êxito, pois a pobreza no estado caiu de 52% para 27% quando saí.
Se essa política tivesse continuado, hoje teríamos muito a comemorar neste importante aspecto, principalmente com grandes investimentos em educação, em creches e em programas sociais que começaram atendendo às crianças na própria escola, com consultórios odontológicos, tratamento completo, chegando a eliminar cáries nos estudantes e em focos infecciosos. Mas o atendimento era muito mais amplo do que isso, pois identificávamos as crianças que tinham problemas de audição e tratávamos, cuidando também de problemas na vista, fornecendo armações e lentes sendo que os alunos escolhiam as armações que preferissem, entre uma coleção delas que lhes era apresentada. Tratávamos das verminoses e outros problemas, ensinando práticas de saúde, escovação de dentes e muito mais. As mães mais pobres, que perdiam dias de trabalho para levar seus filhos para consultas em hospitais deixaram de fazer, pois o colégio tratava da saúde dos alunos e depois estendemos a todas as crianças da família. Foi o programa mais bem avaliado do meu governo. Com tristeza, vi os governos que me sucederam encerraram o projeto, transferindo todos os equipamentos para hospitais e ambulatórios. O foco foi perdido.
Mas o que o Ricardo Paes de Barros está reclamando sobre o Bolsa Família? Reclama que o governo se perdeu na aplicação, que o programa perdeu o foco e que não falta dinheiro como anuncia o governo. Ele diz que o governo gasta 25% do seu orçamento na área social e que o Bolsa Família só recebe 0,5% desse total. Como no Brasil ninguém checa os programas sociais criados e, automaticamente, eles continuam a receber preciosas verbas sem nenhuma avaliação dos resultados, o programa que realmente funciona deixa de receber os recursos que precisa. Nem o Bolsa Família é avaliado, nem melhorado na sua porta de entrada e nem também na de saída, com ênfase na educação. Por outro lado, não foca nos extratos de extrema pobreza que, na verdade, ficam de fora geralmente por falta de instrução, computadores e internet, acabam por não participar do programa. E acha muito importante que as pessoas que conseguem empregos tenham assegurado o seu reingresso no programa, se perderem o emprego. Hoje, preferem não arriscar e aí não procuram empregos com medo de perder a Bolsa.
É bom ouvir Paes de Barros. O programa tem que ser avaliado sempre, atualizado e melhorado.
