
No Paraguai, o termo sicário é falado até mesmo em rodas de conversas descontraídas
entre amigos. Mas a expressão causa pavor na população, pois designa um grupo de
criminosos que saem às ruas com apenas um propósito: matar. O conceito arquetípico
atravessa as fronteiras entre países e as divisas entre estados. No crime organizado,
esses pistoleiros são uma das “frentes” de combate ao inimigo. O Bonde dos 40,
facção que surgiu no Maranhão e já está no Piauí, tem uma célula que ataca os rivais
com vários tipos de armas de fogo. Trata-se do “Bonde do Madruga”.
O pesquisador, jornalista e escritor Nelson Melo se aprofundou no tema e descobriu,
com um policial militar, que o grupo foi fundado por José Roberto Penha Ribeiro. A
alcunha dele era “Pretinho”, mas, estrategicamente, mudou para “Madruga”. Essa
fonte do repórter, que será chamada aqui de “Siegfried”, herói lendário da mitologia
nórdica e personagem central da Saga dos Volsungos, contou que o “Bonde do
Madruga” tem como base o “Complexo DSL”, que engloba a Divineia, Sol e Mar e
Vila Luizão, em São Luís, sendo caracterizada como um território muito forte do
Bonde dos 40.
“Esse José Roberto é bandido das antigas, do tempo de ‘Fabinho Matador’. Naquela
época, eles ficavam ali reunidos. Tinha um tal de ‘Las Vegas’, que morou no Cohatrac
por um tempo. Todos andavam juntos. Tinha ‘Ômega’, ‘Extremo’, e outros”, observou
“Siegfried”. De acordo com o policial militar, essa turma entra em carros e faz
“rondas” nos territórios dos membros de facções rivais não para roubar, mas
exclusivamente para fazer ataques com armas de fogo.
Segundo o militar disse ao jornalista Nelson Melo, o “Bonde do Madruga” promoveu
ataques, por exemplo, na região do Coroadinho, e também na Praia do Meio. Neste
último local, o alvo deles era Mauro Campos Alves Neto, o “Maurinho”, filho de
“Mauro Velho da Cotia”. O rapaz, que é integrante do Comando Vermelho (CV), foi
baleado pelos oponentes, mas ele sobreviveu e continua encarcerado no Complexo
Penitenciário de Pedrinhas.
“Siegfried” pontuou que esse grupo é formado por vários bandidos, como Dignelson,
“Rato 7” e “Piloto”, embora, atualmente, existam poucos membros em relação ao
período de auge da associação criminosa. “Esse ‘Pretinho’ era homem forte da Vila
Progresso. Dignelson era ‘frente’ da invasão Leonel Brizola ou Recanto Luizão.
‘Piloto’ também era da Progresso”, comentou o policial. Conforme a fonte do repórter,
“Madruga” costumava gravar os vídeos quando o grupo saía para “caçar alemão”,
momento em que faziam questão de exibir as armas de fogo.
Outra característica de “Madruga” era sempre mencionar as alcunhas dos comparsas
que estavam com ele nos carros para os ataques nos territórios inimigos. José Roberto
foi preso pelo então Grupo de Serviço Avançado (GSA) com uma pistola. Depois, foi
capturado pela Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) com drogas. Durante a “Operação
Sem Exceção”, deflagrada pela Superintendência de Homicídios e Proteção à Pessoa
(SHPP) no “Complexo DSL” em agosto do ano passado, foi cumprido mandado de
prisão contra “Pretinho” no presídio.
Essa operação foi o resultado de uma investigação acerca de um duplo homicídio que
aconteceu na Divineia em outubro de 2017. Atualmente, José Roberto – que, há um
tempo, sofreu um acidente de motocicleta, sendo que ele teve que andar com o apoio
de uma bengala – está aprisionado no Complexo de Pedrinhas, mas o “Bonde do
Madruga” não foi desativado. Pelo contrário, continua sendo utilizado como um
elemento surpresa da facção para surpreender os seus adversários no crime organizado,
pois esses “sicários” nunca dão tiros de advertência.
Complexo DSL: considerada uma das áreas mais fortes do “B.40”, o “Complexo
DSL” compreende a Divineia, Sol e Mar e Vila Luizão, bem como áreas adjacentes,
como “Buraco da Gia”, “Invasão Leonel Brizola” e outras. É um local “fechado” e
com regras rígidas, tanto que, quando “Tanaka” tomou a Vila Conceição, no Altos do
Calhau, os faccionados do Primeiro Comando da Capital (PCC) migraram para aquele
complexo, onde os bandidos de lá não aceitaram com facilidade. Outros se exilaram na
Ilhinha, no São Francisco, onde a hospitalidade foi mais serena.
“Esse pessoal do ‘Complexo DSL’ é sangue ruim, mesmo. Há poucos meses, eles
expulsaram dois membros do Bonde e ainda decretaram um. E detalhe: o cara
decretado é um assassino de sangue frio, muito perigoso e com diversos homicídios,
com três mandados de prisão em aberto”, relatou o policial militar entrevistado por
Nelson Melo. Segundo “Siegfried”, a expulsão ocorreu porque eles “infringiram” o
estatuto da facção.
“Houve um tempo em que um membro do Bonde estava devendo cerca de R$ 28 mil
em drogas para um determinado traficante. Aí, ele estava sendo pressionado a pagar.
Com essa pressão, ele pediu uma arma de fogo para fazer assaltos e depois falou que
‘perdeu’ a arma para a polícia. Depois, descobriram que era mentira e que a arma
estaria guardada na casa de um familiar dele. Então, alguns membros do Bonde
decidiram decretar esse indivíduo. Aí, foram atrás dele. Como não o encontraram,
mataram o irmão dele, que nem era do crime. Aí, passou um tempo e um desses matou
um membro da facção na área do Parque Vitória”, comentou a fonte.