
Eu fiz Engenharia no Ceará. Mais precisamente na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Ceará. Era uma escola nova e muito boa. E depois de mim e de Mauro Fecury, precursores, muitos outros maranhenses foram para lá também. Esses cinco anos de duração do curso foram excelentes para mim. Meu pai e minha mãe trabalhavam: meu pai, na Prefeitura e minha mãe, no Governo Federal. Éramos uma família de classe média, que tinha casa própria e vivíamos sem luxo, mas sem apertos. Nossas férias foram sempre em São José de Ribamar, em casas alugadas na cidade Achávamos maravilhoso tudo isso, adorávamos as férias e São Luís.
Para estudar fora, minha mãe conseguiu para que eu ficasse na casa de um tio, general Celso Aurélio Reis de Freitas e eu recebia de meus pais uma mesada, que dava para pagar os ônibus, 4 por dia, ir ao cinema e comprar alguns livros. A partir do quarto ano, eu consegui um estágio na Companhia de Eletricidade de Fortaleza, consegui ocupar uma casa na própria escola, almoçar e jantar no Clube do Estudante Universitário. E agradeci muito a oportunidade que tive nos primeiros anos, morando na casa do meu tio.
Daí não parei mais. Um professor me ofereceu estagiar no Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem do Ceará, onde fiz carreira, fui nomeado para o quadro de engenheiros, em pouco tempo, e também era auxiliar de ensino na própria escola. Nem pensava em voltar para o Maranhão naquela altura. Casado e com um filho, eu tinha muitos amigos, gostava de Fortaleza estava confortável, ganhando um bom salário. Comprei uma Rural Willis usada, em bom estado, para meu pai, tentando demonstrar a minha gratidão pela ajuda que me deu. Foi bom ter essa oportunidade porque, poucos anos depois, recebi a notícia que papai estava com um câncer generalizado, certamente facilitado por ser um fumante inveterado.
Vicente Fialho – Eu sou o mais velho dos filhos e não achei justo que minha mãe arcasse sozinha com a criação dos outros cinco, dois bem novos. E resolvi voltar a morar em São Luís, cidade que sempre adorei. Tirei férias e vim a São Luís tentar conseguir um emprego de engenheiro, inicialmente na Secretaria de Obras. Mas, informado de que só haveria essa possibilidade no interior, num tempo em que só havia estradas de terra, eu fiquei achando que seria muito difícil voltar, sem emprego. No avião, de volta encontrei o engenheiro Vicente Fialho, engenheiro formado na primeira turma da escola (eu fui da quinta), que me conhecia. E, quando Fialho soube que eu pretendia voltar – ele, que era na ocasião Diretor Geral do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) do Maranhão – me ofereceu para ser assessor dele.
Chegando em Fortaleza, fui conversar com o diretor geral do DER, um ex-professor meu, para pedir uma licença de dois anos. Ele me informou que, pelo estatuto, eu não tinha, ainda, direito a licenças, pois ainda não havia completado dois anos de meu ingresso como engenheiro efetivo, o ápice da carreira no órgão. Eu não tive dúvidas e pedi demissão do quadro do DER. E a mesma coisa fiz na escola. Gouveia, o diretor geral, incrédulo, não acreditava no que via e tentou me demover dessa ideia, sem sucesso. Larguei tudo o que havia conquistado em 9 anos no Ceará e voltei para começar tudo de novo. Isso mudou a minha vida, tive ajuda de Deus, sem nenhuma dúvida. Crisálida, minha mulher, diz que na verdade essa ajuda, muito bem demonstrada por muitos outros episódios, se deu por causa do meu gesto, largando tudo para ajudar minha mãe, não só com meus irmãos, mas também ajudando-a com os meses finais da vida de meu pai. Eu acredito nisso também e nunca tive motivos para arrependimentos.