
A última semana de abril será marcada por reuniões decisivas em Brasília que podem redefinir o equilíbrio de forças no Congresso Nacional. A principal expectativa gira em torno da criação da superfederação entre União Brasil e PP, que poderá se consolidar como a maior força da Câmara dos Deputados.
Se concretizada, a aliança — que deverá se chamar União Progressista — reunirá 107 deputados federais e 14 senadores, empatando em número de senadores com PL e PSD, e passando a liderar a Câmara. O PP já oficializou seu apoio à união há cerca de um mês. Agora, uma reunião da bancada do União Brasil está marcada para segunda-feira (28), com possível anúncio formal na terça (29).
Apesar de ambos integrarem a base do governo Lula — com quatro ministérios e o comando da Caixa Econômica Federal —, os dois partidos têm demonstrado sinais de insatisfação. Episódios de infidelidade política e articulações para as eleições de 2026 indicam um distanciamento em curso. Um exemplo disso foi a desistência do deputado Pedro Lucas Fernandes (MA), líder do União Brasil na Câmara, de assumir um ministério no governo após divergências internas.
Do outro lado, o PSDB também se movimenta. Diante da perda de força nas últimas eleições, os tucanos devem aprovar a fusão com o Podemos, formando um novo partido com 28 deputados e 7 senadores. A reunião da executiva do PSDB está agendada para terça-feira (29), às 10h, em Brasília, e um congresso nacional deve ocorrer em junho para oficializar a nova legenda.
Inicialmente, o PSDB cogitava se unir a siglas maiores como MDB, PSD e Republicanos, mas optou por uma aliança com o Podemos, de porte semelhante. “Esse modelo de fusão com o Podemos significa a continuidade de todo o legado e de toda nossa história”, afirmou o presidente do partido, Marconi Perillo.
A nova legenda poderá, em um segundo momento, buscar uma federação com o Solidariedade e o Republicanos — este último partido do presidente da Câmara, Hugo Motta, e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Já a superfederação União Progressista, que tende a dominar o Congresso, decidiu não lançar pré-candidatura à presidência neste momento, evitando atritos com o governo federal e com lideranças regionais, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que é cotado para 2026. A discussão sobre o nome a ser lançado ficará para mais adiante.
Com as uniões, os partidos somam não apenas suas bancadas, mas também recursos dos fundos partidário e eleitoral, além de tempo de propaganda no rádio e na TV. Isso fortalece candidaturas ao Executivo e facilita a montagem de chapas proporcionais. Embora tenham validade de quatro anos, as federações são vistas por muitos como o primeiro passo para fusões permanentes.
No entanto, o movimento de unificação pode provocar perdas. União Brasil e PP, por exemplo, enfrentam disputas internas em nove estados. A direção nacional da federação terá a missão de administrar os conflitos. Há expectativa de debandada, com outros partidos já se articulando para atrair insatisfeitos.
Na quarta-feira (23), o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, publicou em suas redes uma foto com o presidente do PP, Ciro Nogueira, acompanhada da legenda: “Vem novidade boa em breve!!!”.
Mesmo o novo partido formado por PSDB e Podemos deve enfrentar assédio externo. Governadores como Eduardo Riedel (MS) e Eduardo Leite (RS) são alvos de outras siglas. Leite, por exemplo, mantém conversas com o PSD e pode disputar o Senado, enquanto o novo partido cogita lançá-lo à Presidência.
Esses movimentos fazem parte de um processo de reestruturação partidária iniciado em 2015, com a minirreforma eleitoral que dificultou a criação de novas legendas. Desde então, apenas um novo partido surgiu: o pequeno Unidade Popular (UP), fundado em 2019.
Outro marco foi a emenda constitucional de 2017 que acabou com as coligações proporcionais e criou a cláusula de barreira — mecanismo que restringe o acesso a recursos e tempo de TV a partidos com baixo desempenho eleitoral. A regra, que se torna mais rigorosa até 2030, tem forçado fusões e incorporações. Desde 2018, nove partidos desapareceram do cenário político nacional.
Atualmente, apenas três federações estão formalmente constituídas: PSDB-Cidadania, PSOL-Rede e PT-PCdoB-PV — todas firmadas em 2022 e válidas até 2026. Com a iminente criação de novas uniões, o mapa partidário brasileiro deve passar por novas transformações significativas nos próximos meses.