A PÁSCOA JUDAICA E O SEU CONTEXTO HISTÓRICO E TEOLÓGICO


Enquanto se comemora e se comenta em todo o mundo cristão sobre a páscoa, sua importância
e a sua comemoração, é necessário que reflitamos sobre o verdadeiro significado da páscoa. A
origem dessa comemoração, como já bem o sabem os leitores da Bíblia Sagrada, está ligada à saída
dos filhos de Israel da escravidão egípcia. De acordo com o dicionário VINE (p.854), O termo
Páscoa “é derivado do hebraico pãsach, que possui o sentido de passar sobre, poupar”. Esta foi a
festa instituída por Deus em comemoração da libertação de Israel do Egito, e, em figura, uma
antecipação do sacrifício expiatório de Jesus.
Quanto às deturpações que hoje se vê relacionadas à comemoração da Páscoa, o Pastor e
pedagogo Samuel Câmara fez importante declaração: “A Páscoa é uma das mais importantes festas
da religiosidade cristã, mas nem sempre é um processo de expressão de fé. Ou seja, nem sempre
representa uma atitude decorrente da obediência à Palavra de Deus. O fato é que, para a grande
maioria, produz suas melhores lembranças apenas na representação de “coelhinhos” e “ovos de
chocolate”. Se ela fosse uma expressão da fé cristã, por mais simples que fosse, falar-se-ia no
“cordeiro de Deus” que foi morto, e não num coelhinho fofo; falar-se-ia no amargor do sacrifício de
Cristo e no Seu sangue derramado na cruz, e não na doçura do chocolate”.
Há, portanto, nos dias atuais, uma grande “renda” no mundo comercial promovida por um
equívoco de muita gente que faz uma festa com chocolates e simbologias estranhas, inclusive
destacando o coelho como símbolo pascal, enquanto que biblicamente o verdadeiro símbolo da
Páscoa é um cordeiro conforme nos narram as Sagradas Escrituras em Êxodo capítulo 12.
Existe uma verdadeira riqueza de detalhes na interessante história que envolve os hebreus
escravizados no Egito e o seu pedido de libertação por meio de Moisés. Naturalmente, o rei do
Egito, pensando no prejuízo financeiro que viria sobre seu governo, não queria libertar todos os
seus escravos hebreus. Pois vinham, por muito tempo, trabalhando bem e ele precisava deles para
mais projetos de construção naquele país. A recusa de Faraó em permitir que fossem libertos foi
seguida de uma série de pragas ou fenômenos extraordinários que demonstraram o poder do Deus
de Israel, que visavam levar os egípcios à posição de inteira submissão à vontade de Deus nesse
assunto. As pragas e suas consequências, foram se avolumando, tomaram-se piores e criaram
conturbação em todo o país, no entanto, o rei ainda recusou deixar os israelitas saírem (Êx 5.1-11,
10).
A praga mais séria foi deixada por último. Através dos anos, os egípcios tinham causado aflição
a milhares de mães e pais hebreus com a matança de todo menino que nascesse em seus lares.
Agora a ira de Deus viria sobre os egípcios, e o filho mais velho em todos destes, morreria numa
determinada noite.
Os detalhes da história registram a instituição da Páscoa como uma ordenação de Deus para o
povo de Israel, através de Moisés (Êx 12.1-29). Seria, assim, uma festa comemorativa celebrada
pelo povo hebreu, através dos séculos, para lembrá-los deste ato de libertação. Durante a celebração
da Páscoa, um cordeiro sem defeito deveria ser oferecido como sacrifício, e seu sangue, aspergido
em volta da ombreira da porta de cada lar hebreu.
Naquela noite terrível, o juízo ameaçador veio de fato. Mas, como Deus havia dito, o anjo do
Senhor ‘passou por cima’ de todo lar onde o sangue do cordeiro pascal, sobre a porta, podia ser
visto e, todos os que se abrigavam naqueles lugares foram salvos. O ato de o anjo enviado por Deus
passar por cima das casas onde estava a marca do sangue de um cordeiro, originou a celebração da
Páscoa. Esta, é uma figura impressionante do livramento maior que mais tarde seria realizado por
Cristo, nosso Cordeiro Pascoal (l Co 5.7; l Pe 1.19). E também chamado de “o Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo.” (Jo 1.29). Neste ato, com sua abrangência e consequências, percebe-
se a importância histórica e teológica da citada comemoração. A obediência dos escravos hebreus
tornou possível seu livramento. Deus lhes disse o que tinham que fazer, e eles agiram de acordo
com as ordens divinas. No capítulo 12 de êxodo, portanto, o tema é Obediência ao Eterno Deus de
Abraão, de Isaque e de Jacó.
Os cristãos não necessitam comemorar a Páscoa com o mesmo sentido e da mesma forma que
era comemorada pelos judeus, pois, em Jesus, o sentido tipológico da mesma já se consumou. Por
isso, Jesus, quando convidou os discípulos para participarem com Ele da última ceia (um jantar de
Páscoa), ao mesmo tempo, deixou-lhes uma cerimônia sagrada, que seria a Nova Páscoa, até sua
segunda vinda (1 Co 11.23-32; Lc 22.14-20). Conforme o Dr. Russel Shedd (1997, p.89) em suas
notas à Bíblia Sagrada, a Páscoa, seria para os judeus: “O verdadeiro aniversário do povo de Deus”
e, em se tratando da importância histórica e teológica deste evento que deveria ser lembrado em
contínua comemoração, o mesmo Teólogo explica: “O Cordeiro da Páscoa era o sacrifício
aceitável, que Deus mesmo tinha instituído. Jesus é nossa Páscoa (1 Co 5.7), é o Cordeiro de Deus
(Jo 1.29). O Cordeiro tinha de ser sem defeito (Êx 12.5) e Cristo cumpriu essa exigência (1 Pe
1.18-19). Tinha de ser separado para o sacrifício quatro dias antes do dia 14 (Êx 12.3), assim
como Cristo entrou em Jerusalém no dia da preparação do cordeiro, e morreu no mesmo dia do
sacrifício. O sangue do cordeiro era o símbolo do sangue do Cordeiro de Deus e fazia estar sobre o
povo a proteção divina contra a escravidão do pecado e o castigo (Êx 12.13). Assim também o
sangue de Jesus nos liberta da escravidão de Satanás e da punição eterna”.
Hoje, todo e qualquer ser humano pode ser livre da servidão de seus pecados, se aceitar, pela fé,
o sacrifício do Cordeiro de Deus em seu favor. Amigo leitor, reflita sobre estas verdades bíblicas e
tenha uma vida de comunhão com Deus, através do sacrifício expiatório do Senhor Jesus Cristo na
cruz e dos benefícios eternos de sua ressurreição.