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Mundo caminha para aquecimento sem precedentes, alerta relatório da ONU

A Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência especializada das Nações Unidas, divulgou nesta semana um relatório alarmante sobre o avanço das mudanças climáticas.

Segundo o documento, há 80% de probabilidade de o planeta registrar ao menos um novo recorde anual de calor entre 2025 e 2029 — o que elevará significativamente os riscos de desastres ambientais como secas extremas, inundações e incêndios florestais.

Pela primeira vez, o relatório também aponta que existe uma chance, ainda que pequena (cerca de 1%), de que o mundo experimente um ano com temperatura média 2ºC acima dos níveis pré-industriais antes de 2030 — cenário que os cientistas classificam como “chocante”.

A constatação ocorre após uma sequência inédita dos dez anos mais quentes da história registrada. A nova atualização climática global de médio prazo destaca a ameaça crescente às populações humanas, às economias nacionais e aos ecossistemas, caso não haja uma redução urgente no uso de combustíveis fósseis como carvão, petróleo, gás e até a queima de madeira.

Acordo de Paris ameaçado

Entre os destaques do relatório está a projeção de que há 70% de probabilidade de que a média de aquecimento global no período entre 2025 e 2029 ultrapasse 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. Esse é o limite mais ambicioso estabelecido pelo Acordo de Paris, embora o tratado leve em conta médias de 20 anos.

Para pelo menos um dos próximos cinco anos, a chance de ultrapassar a marca de 1,5°C já atinge 86% — um salto expressivo frente aos 40% estimados no relatório de 2020.

Em 2024, o mundo ultrapassou pela primeira vez o limiar de 1,5°C numa base anual, fato considerado improvável nas previsões anteriores a 2014. Esse valor é calculado em relação ao período de 1850 a 1900, antes da Revolução Industrial e da queima em larga escala de combustíveis fósseis, principal causa do aumento de dióxido de carbono na atmosfera.

Apesar do otimismo inicial, climatologistas já consideram que a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C se tornou inalcançável, uma vez que as emissões de CO₂ continuam em alta, sem sinais concretos de redução global.

A caminho dos 2°C

A probabilidade de que um ano ultrapasse os 2°C de aquecimento antes de 2030 ainda é considerada baixa — cerca de 1% —, mas não mais impossível, como se pensava há apenas alguns anos. Isso poderia ocorrer com a combinação de vários fatores climáticos extremos, como um forte El Niño e alterações na oscilação do Ártico.

“É chocante que os 2°C sejam plausíveis”, afirmou Adam Scaife, do Met Office britânico, que liderou a compilação dos dados. Ele relembrou que, há uma década, também se via como remota a possibilidade de um único ano ultrapassar 1,5°C — algo que acabou se concretizando em 2024.

Cada fração de grau adicional intensifica os efeitos das mudanças climáticas: mais ondas de calor, chuvas intensas, secas severas, derretimento de geleiras e do gelo polar. Segundo Leon Hermanson, também do Met Office, 2025 tem grande chance de ser um dos três anos mais quentes já registrados.

Impactos regionais

A OMM alerta que os impactos da crise climática não serão uniformes. A previsão é de que o Ártico continue a aquecer num ritmo 3,5 vezes superior à média global nos próximos cinco anos, o que se deve, em parte, ao derretimento do gelo marinho — fenômeno que reduz a capacidade de refletir o calor solar de volta ao espaço.

Outras projeções incluem:

Mais secas na bacia amazônica;
Chuvas acima da média no sul da Ásia, no Sahel africano e no norte da Europa;
Redução do gelo marinho nos mares de Barents, Bering e Okhotsk;
Aumento das temperaturas extremas em partes da Ásia e do Oriente Médio, onde, recentemente, China, Emirados Árabes Unidos e Paquistão registraram temperaturas acima de 40°C e até 52°C.

Friederike Otto, climatologista do Imperial College de Londres, também chamou atenção para os recentes desastres naturais em diversos continentes, incluindo enchentes na Austrália, China, Gana e Índia, e incêndios florestais devastadores no Canadá.

Apesar do cenário preocupante, o diretor dos Serviços Climáticos da OMM, Chris Hewitt, reforça que ainda é possível evitar os piores impactos, desde que haja ação urgente para cortar emissões.

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