Brasil vira potência global em apostas online: setor deve movimentar R$ 22 bilhões em 2025
País já aparece entre os cinco maiores mercados do mundo e especialistas alertam para riscos da “betização” da renda das famílias

Segundo a projeção, o Brasil deve atingir um volume de US$ 4,139 bilhões em apostas, entrando no top 5 mundial, atrás apenas dos Estados Unidos (US$ 17,3 bilhões), Reino Unido (US$ 9,9 bilhões), Itália (US$ 4,6 bilhões) e Rússia (US$ 4,5 bilhões).
A explosão do setor ocorre após a regulamentação oficial das apostas online em 2024, seis anos depois da legalização da atividade, em 2018. No primeiro semestre de 2025, as 78 empresas autorizadas já faturaram R$ 17,4 bilhões, de acordo com dados da Secretaria de Prêmios e Apostas.
Como o Brasil virou gigante nas apostas
Especialistas atribuem esse crescimento acelerado a uma combinação de fatores históricos e comportamentais:
Demanda reprimida após décadas de proibição dos jogos de azar;
Abertura do consumidor brasileiro às plataformas digitais e ao consumo online;
Adoção em massa do Pix, que facilitou depósitos e saques instantâneos;
Campanhas de marketing agressivas, patrocinando futebol, carnaval, influencers e redes sociais;
Gamificação da experiência de apostar, com bônus, missões e recompensas.
Segundo o economista Victo Silva, o Brasil se tornou um “laboratório da economia comportamental”, onde a experiência de apostar foi desenhada para ser intuitiva, contínua e altamente viciante.
Futebol: o campo favorito das casas de apostas
O futebol brasileiro se consolidou como o principal motor de visibilidade e receita para o setor. Hoje, 18 dos 20 clubes da Série A exibem marcas de apostas em seus uniformes.
Os cinco maiores contratos de patrocínio ultrapassam R$ 500 milhões, com destaque para:
Betano (R$ 220 milhões – Flamengo)
Superbet (R$ 113 milhões – São Paulo)
Esportes da Sorte (R$ 103 milhões – Corinthians)
Sportingbet (R$ 100 milhões – Palmeiras)
H2Bet (R$ 60 milhões – Atlético Mineiro)
Para os analistas, essa exposição ajudou a normalizar a prática de apostar, especialmente entre torcedores jovens e ativos no ambiente digital.
Riscos sociais e a “betização” da renda
Apesar do crescimento do setor, preocupações sociais e econômicas têm ganhado destaque. Estudos do Banco Central apontam que mais de 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família transferiram dinheiro para casas de apostas via Pix.
Em resposta, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a proibição do uso de recursos oriundos de programas sociais para apostas — uma norma que começou a valer em outubro de 2025, segundo a Secretaria de Prêmios e Apostas.
“Estamos assistindo à betização da renda familiar”, alerta Victo Silva. “Isso pode comprometer orçamentos domésticos e aprofundar desigualdades.”
Atualmente, a regulamentação proíbe publicidade dirigida a menores de idade, mas ainda há debate sobre a necessidade de regras mais rígidas.
Um projeto de lei aprovado no Senado em maio de 2025 — e atualmente parado na Câmara — propõe banir o uso de influenciadores, atletas e artistas em campanhas publicitárias do setor.
Legalização x mercado clandestino: o embate
Enquanto parte da sociedade civil defende restrições mais duras e políticas públicas de conscientização, representantes do setor privado argumentam que a publicidade contribui para combater o mercado ilegal, que não recolhe impostos nem protege consumidores.
“O Brasil é um dos nossos mercados mais importantes, com alto grau de bancarização e segurança nos pagamentos”, afirma Antonio Forjaz, diretor da Entain, multinacional britânica do ramo.
Já André Gelfi, do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), defende que a visibilidade do setor legal ajuda a direcionar apostadores para plataformas reguladas, fiscalizadas e comprometidas com a responsabilidade social.