
O plano da família Brandão de se perpetuar no poder por meio da candidatura do sobrinho Orleans Brandão começa a se mostrar um fracasso anunciado. Encabeçado por Marcus Brandão, irmão do governador Carlos Brandão, e por José Henrique Brandão, o projeto que deveria consolidar o domínio familiar no Maranhão está sem rumo, sem apelo popular e, agora, sem o apoio firme de parte dos próprios aliados políticos.
A mais recente declaração do deputado estadual Yglésio Moyses, durante o podcast Café Quente, apresentado por Rogério Cafeteira, escancarou o mal-estar nos bastidores da base governista. Ao afirmar que pode não apoiar a candidatura de Orleans, por não querer ir contra seu eleitorado, Yglésio expôs o que muitos apenas murmuravam nos corredores: a viabilidade do projeto Brandão está em xeque.
A declaração do deputado, considerado um dos “ponta de lança” do governo na Assembleia Legislativa, não apenas revela uma fissura política, mas também escancara a fragilidade de um projeto construído com base no aparelhamento da máquina pública, no clientelismo e na força de sobrenomes, e não em lideranças legítimas ou na confiança popular.
É de conhecimento geral que parlamentares como Yglésio e outros mantêm relações com o governo baseadas em cargos, emendas, institutos e acordos de conveniência. Ainda assim, o próprio deputado já deixou claro que sua fidelidade não é absoluta, e sim condicionada à sua sobrevivência política. A dúvida é: se até os aliados contratados cogitam abandonar o barco, quem sobrará para remar por Orleans Brandão?
O nome de Orleans Brandão, apesar dos esforços da família para promovê-lo, não empolga, não mobiliza aliados e não convence o eleitorado. Na Baixada Maranhense, região estratégica para qualquer disputa, o apelido de “Boneco de Olinda” já ganhou popularidade. Em outras rodas, o termo “Bebezão” ironiza sua falta de expressão política, maturidade e presença pública. Trata-se de um personagem fabricado nos bastidores, e não forjado nas ruas e o povo sente essa diferença.
Tentando reverter o quadro, Carlos e Marcus Brandão têm se utilizado de toda a estrutura do governo estadual para promover o sobrinho, ao mesmo tempo em que intimidam adversários, pressionam prefeitos e tentam cooptar aliados com promessas e benesses. Mas o esforço parece tardio, pois a rejeição pública cresce na mesma proporção em que aumentam as denúncias contra a gestão estadual.
Os bastidores políticos de São Luís e Brasília já ecoam rumores sobre um possível afastamento de Carlos Brandão do cargo de governador, a qualquer momento, em decorrência de investigações sigilosas que envolvem suspeitas de corrupção, tráfico de influência, nepotismo e outras práticas que minam a imagem do governo. Para muitos, Brandão é hoje governador apenas no papel, já que as decisões relevantes são tomadas por seus irmãos, especialmente Marcus.
A perda do comando do PSB, mesmo estando na cadeira de governador, foi mais uma demonstração do esvaziamento político do grupo. A falta de musculatura e prestígio nacional torna Brandão um nome frágil mesmo dentro do seu próprio partido, e reflete diretamente na falta de tração do projeto Orleans Bebezão.
Enquanto a base governista tenta manter o discurso de unidade, nos bastidores o clima é de guerra fria. Aliados reclamam da centralização do poder pela família Brandão, e muitos já se movimentam discretamente em busca de novos grupos para garantir sua sobrevivência nas próximas eleições.
A comparação feita por um político maranhense resume bem o momento: “Eles fingem que comandam, e a base finge que obedece”, uma variação local da célebre frase de Vampeta nos tempos conturbados do Flamengo: “Eles fingem que me pagam, e eu finjo que jogo.”
O tempo de Brandão como governador está se esgotando. Restam apenas 15 meses de gestão, mas o desgaste político da sua imagem e da marca familiar é muito mais profundo e precoce e pode naufragar antes mesmo do fim previsto.
A verdade é que o projeto de poder da família Brandão está ruindo, sem base popular, sem apoio confiável, atolado em denúncias e sendo rejeitado até mesmo por quem, até pouco tempo, o defendia por conveniência. E se nem seus próprios aliados acreditam mais no “Bebezão”, talvez seja hora de a família abandonar o plano dinástico e encarar a realidade: o Maranhão cansou de governadores por procuração.