
Segundo o material, extraído de duas frequências distintas, o voo seguia protocolos padrão, incluindo confirmações meteorológicas e mudança de canal de comunicação, até que os primeiros sinais técnicos de pane surgiram a bordo – já sem tempo para reação.
Rotina na cabine antes do colapso
As comunicações começaram por volta das 13h14 e indicavam um voo estável. Às 13h18, a tripulação informou estar no ponto ideal para iniciar a descida, mas recebeu ordem para manter o nível de voo. A última mensagem captada ocorreu menos de um minuto antes do início da falha técnica.
Logo após, os sistemas internos da aeronave registraram perda de velocidade e alertas sobre a presença de gelo na fuselagem. Ainda assim, não houve envio de mensagem de socorro.
As caixas-pretas, por outro lado, revelaram uma sequência de alertas sonoros e luminosos dentro da cabine, indicando comprometimento no desempenho da aeronave – agravado por uma possível falha no sistema de degelo.
Falha já teria sido notada antes do voo
A pane no degelo é um dos focos da investigação conduzida pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). Segundo depoimento de um ex-funcionário da companhia, o defeito já havia sido identificado na madrugada anterior, durante uma manutenção de rotina, mas não foi registrado no diário de bordo – uma grave infração aos protocolos de segurança.
Linha do tempo da tragédia
Com base nas gravações e nos dados da cabine, os principais eventos antes da queda foram os seguintes:
13h17min20s – Detector de gelo se desliga; copiloto conversa com a comissária;
13h17min32s – Gelo volta a ser detectado; comandante informa passageiros sobre o pouso;
13h18min41s – Alerta “CRUISE SPEED LOW” indica perda de velocidade;
13h18min55s – Alarme único soa; comandante mantém comunicação com o controle;
13h19min28s – Alerta “DEGRADED PERFORMANCE” sinaliza falha operacional;
13h20min00s – Copiloto menciona “bastante gelo”; sistema de degelo é ativado;
13h21min09s – Tripulação perde controle da aeronave;
13h22min30s – Aeronave colide com o solo.
Condições climáticas adversas foram relatadas
Outros voos que cruzavam a mesma rota também relataram presença de gelo. Às 13h15, o voo TAM 3361 informou à torre a presença de gelo moderado. Outros dois voos, entre 13h26 e 13h27, também citaram gelo leve ou formação na rota.
Esses relatos reforçam a possibilidade de que as condições climáticas tenham contribuído para a tragédia.
Investigação apura possível negligência
O relatório preliminar do Cenipa não aponta uma causa única para o acidente, mas indica falhas no degelo, comunicação ineficaz e decisões técnicas como fatores sob análise.
Segundo Carlos Eduardo Palhares, diretor do Instituto Nacional de Criminalística, a investigação busca determinar se as ações da tripulação seguiram os padrões de treinamento exigidos.
A Polícia Federal também investiga o caso. O delegado Edson Geraldo de Souza afirmou que a apuração se concentra nas rotinas da companhia e possíveis condutas irregulares que possam ter contribuído para o acidente.
A queda
O voo 2283 decolou de Ribeirão Preto às 11h58 com destino ao Aeroporto de Guarulhos. Após um trajeto estável, a aeronave perdeu altitude abruptamente às 13h21, despencando de 5 mil para cerca de 1.250 metros em pouco mais de um minuto, com velocidade de 440 km/h.
O avião caiu no quintal de uma residência em Vinhedo. Nenhum morador se feriu.