
O governador do Maranhão, Carlos Brandão, começa a experimentar o refluxo de um projeto político construído com base na prepotência, no descumprimento de acordos e em alianças frágeis. Em Brasília, o cenário já não é favorável. Brandão está cada vez mais isolado, e sua permanência no PSB tem data de validade. Seu estilo autoritário e a recusa em cumprir compromissos políticos firmados com aliados estratégicos estão cobrando um preço alto talvez irreversível.
Reuniões recentes entre interlocutores maranhenses e a direção nacional do PT escancararam o mal-estar: o Partido dos Trabalhadores exige o cumprimento do acordo firmado em 2022, segundo o qual caberia ao PT encabeçar a chapa majoritária em 2026. Brandão, porém, insiste em atropelar o combinado e tenta manter o partido em sua base mesmo depois de romper unilateralmente os compromissos. Essa manobra foi recebida como traição por setores da esquerda, que já classificam sua postura como incoerente, oportunista e desleal.
O resultado? O grupo político que o sustenta começa a rachar. A confiança dos aliados estratégicos se esvai, e o projeto de poder do governador entra em fase de desmonte. A aposta de Brandão em uma coalizão ampla, que tenta reunir PT, PSB e partidos de direita no mesmo palanque, começa a ruir. A colheita amarga da famosa “lei da semeadura” se impõe com força.
Ao centro desse projeto desgastado, Brandão tenta forçar a figura do sobrinho, Orleans Brandão, como seu sucessor político. Mas o que deveria ser um movimento de renovação virou motivo de desconfiança tanto dentro da base quanto fora dela. A tentativa de emplacar um herdeiro familiar no cenário político estadual revela o que muitos já apontam: que o governador está mais interessado em garantir a continuidade do seu clã no poder do que em construir uma aliança sólida e representativa.
E quando a política começa a escorregar pelas mãos, Brandão recorre a meios que fogem do campo republicano. Informações de bastidores dão conta de que, recentemente, ele e o sobrinho teriam visitado um terreiro de umbanda em Codó, mais precisamente a casa do falecido Bita do Barão, hoje comandada por sua filha. A visita, segundo fontes do JIB teve como objetivo um “passe espiritual” e, de acordo com as mesmas fontes, teria culminado na celebração de um suposto pacto espiritual.
Embora práticas de matriz africana façam parte da cultura maranhense e mereçam respeito, o uso político dessas crenças, sobretudo em um momento de crise e desespero, levanta preocupações. A repercussão entre líderes evangélicos, um dos principais grupos de influência eleitoral no estado, foi imediatamente negativa. Para muitos, o gesto extrapolou o campo da religiosidade e passou a ser visto como manobra desesperada para tentar “blindar” espiritualmente o enfraquecido projeto político do governador.
A crise, porém, não para por aí. O PSB, partido ao qual Brandão está filiado, também já sinalizou que pretende retirá-lo do comando estadual. O motivo? Simples: o governador não cumpriu o que prometeu. A direção nacional da sigla decidiu entregar o diretório estadual a um de seus principais adversários, o que representa um golpe direto na influência política de Brandão.
Na tentativa de evitar o afastamento, o governador apresentou à direção nacional um balanço político e partidário, prometendo que o PSB sairia fortalecido em 2026 sob sua liderança. Mas suas palavras foram vistas como vazias e desconectadas da realidade. A decisão já está tomada, e a perda da legenda deve ser oficializada nos próximos dias.
Na prática, Brandão acreditou sozinho, que poderia controlar o jogo político, rompendo acordos com o PT e o PSB e, ao mesmo tempo, mantendo alianças com partidos de centro e direita. Criou uma ficção onde tudo girava ao seu favor, acreditando ter habilidade para manter todos os lados satisfeitos, mesmo à custa da quebra de compromissos públicos.
Mas política não se sustenta com ilusão. E o governador, que ainda ocupa a cadeira mais alta do Palácio dos Leões, assiste agora, com pouca reação, à erosão da própria autoridade. Perde força, perde aliados, perde influência e, principalmente, perde o rumo.
O barco de Brandão, antes guiado por promessas de estabilidade e articulação política, começa a naufragar lentamente, afundado pelo peso da vaidade, da intransigência e do oportunismo. E o mais simbólico: sem sequer ter tempo de lançar o próprio herdeiro ao mar.