Justiça nega exame de sanidade a mulher acusada de matar crianças com chocolate envenenado no Maranhão

A Justiça do Maranhão negou o pedido de exame de sanidade mental feito pela defesa de Jordélia Pereira Barbosa, de 36 anos, acusada de enviar um ovo de Páscoa envenenado que causou a morte de duas crianças e deixou a mãe delas em estado grave. O crime ocorreu em abril deste ano, em Imperatriz, e chocou a população local.
A decisão foi tomada durante a primeira audiência de instrução do caso, realizada na segunda-feira (14), no Fórum Henrique de La Roque Almeida. O juiz entendeu que não há indícios de que a acusada apresente qualquer condição psiquiátrica que a tornasse incapaz de compreender os próprios atos.
Depoimentos e ameaças
A audiência contou com o depoimento de Mirian Lira, mãe das vítimas e única sobrevivente do ataque, que falou por videoconferência. Ela relatou ter recebido ameaças após iniciar um relacionamento com o ex-marido de Jordélia, o que, segundo a investigação, pode ter motivado o crime.
Também participaram da audiência, de forma virtual, o mototaxista responsável pela entrega do ovo, o irmão de Mirian e colegas de trabalho da vítima. Francisca Lira, mãe de Mirian e avó das crianças, prestou depoimento e relembrou a ligação feita por Jordélia no dia do crime. Segundo ela, a acusada apenas quis saber se a encomenda havia sido entregue, sem revelar sua identidade.
Laudos confirmam envenenamento
O laudo pericial elaborado pelo Instituto de Criminalística confirmou a presença de “chumbinho” – um pesticida altamente tóxico e de uso proibido – no ovo de chocolate enviado à família. A substância foi encontrada também nos corpos das crianças e em objetos apreendidos com Jordélia no momento da prisão.
A filha mais velha, Evely Fernanda, de 13 anos, morreu no dia 23 de abril, após sofrer falência múltipla dos órgãos. O irmão, Luiz Fernando, de 7, faleceu cinco dias depois. Mirian sobreviveu após ser internada em estado grave e chegou a ser entubada.
Em depoimento, ela afirmou que pensava se tratar de uma ação promocional de alguma empresa de chocolates.
Crime premeditado
As investigações indicam que Jordélia planejou o crime com antecedência. Moradora de Santa Inês, ela viajou até Imperatriz disfarçada, usando peruca preta, óculos escuros e um nome falso. Na cidade, comprou o ovo de Páscoa em uma loja e contratou um mototaxista para entregá-lo na casa de Mirian.
Durante a estadia, hospedou-se em um hotel usando crachás falsificados, se passando por uma mulher trans chamada “Gabrielle Barcelli”, e alegou estar em processo de retificação de documentos.
Após o crime, retornou para Santa Inês em um ônibus intermunicipal. Foi presa logo após desembarcar, carregando perucas, restos de chocolate e o bilhete da viagem.
Acusação
Jordélia Pereira Barbosa responde por duplo homicídio qualificado e tentativa de homicídio. Em seu depoimento, ela confirmou que enviou o ovo de Páscoa à família, mas negou ter colocado veneno no doce. Alegou que terceiros seriam responsáveis pelo envenenamento, tese que foi considerada infundada pela Justiça, diante das provas reunidas.