
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta uma crescente tensão com o Congresso Nacional após acumular derrotas significativas nas últimas semanas. O desgaste evidencia a fragilidade da articulação política do Palácio do Planalto com parlamentares de partidos do chamado Centrão, mesmo após concessão de ministérios a siglas como PP, Republicanos, PSD e União Brasil.
A insatisfação entre os congressistas aumentou diante da demora na liberação de emendas parlamentares e de medidas impopulares adotadas pelo governo, como o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Mesmo controlando oito ministérios e representando cerca de 39% do Congresso, esses partidos aliados têm protagonizado reveses ao Executivo.
O principal foco de tensão é o represamento das emendas: dos R$ 50,3 bilhões previstos para 2025, apenas R$ 775 milhões foram empenhados e R$ 5 milhões efetivamente pagos. A insatisfação pode crescer ainda mais com o avanço da federação entre PP e União Brasil, que cogitam reavaliar sua permanência na base aliada.
Entre as derrotas mais emblemáticas está a aprovação de um requerimento de urgência para votação do projeto que revoga o aumento do IOF, com apoio decisivo de parlamentares da base. A medida foi interpretada como um recado direto ao governo. Além disso, o Congresso derrubou 12 vetos presidenciais em sessão conjunta, incluindo pontos de forte impacto fiscal, como o retorno da pensão vitalícia a vítimas da Zika e o aumento de R$ 164,8 milhões no Fundo Partidário.
Outras ações ampliaram o desgaste do Planalto. Foi criada a CPI mista do INSS, que investigará fraudes em benefícios e deve manter pressão política sobre o Executivo. No Senado, a aprovação de um projeto que isenta de visto turistas dos EUA, Canadá e Austrália contrariou a posição do Itamaraty e dividiu a base governista.
Na área ambiental, o Congresso aprovou um novo marco do licenciamento, flexibilizando regras para empreendimentos de infraestrutura e dispensando licenças em casos específicos. A ministra Marina Silva classificou a medida como um “golpe de morte” na política ambiental do país.
Paralelamente, o Senado mantém paralisada a sabatina de 17 nomes indicados pelo governo para agências reguladoras, como ANVISA, ANS e ANP. As nomeações estagnadas contribuem para um ambiente de instabilidade em áreas estratégicas, agravando ainda mais o cenário político.