
O livro de Eclesiastes nos lembra que “existe um tempo para falar e um tempo para calar”, enquanto o provérbio popular “a palavra é prata, o silêncio é ouro” nos ensina que, muitas vezes, é mais sábio saber quando não dizer nada. No entanto, a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva — mais conhecida como Janja — parece não compartilhar dessa visão. Ela tem se mostrado uma defensora fervorosa da palavra e, muitas vezes, da polêmica, parecendo não medir as consequências de suas declarações. Essa característica poderia ser apenas uma peculiaridade pessoal, se não fosse o fato de ela ser casada com o presidente do Brasil.
Essa relação, claro, não exige que ela compartilhe das mesmas opiniões de seu marido, tampouco que sua voz seja silenciada. Ela tem todo o direito de expressar suas ideias e tentar influenciar as decisões do governo, o que é natural em qualquer casamento. No entanto, a posição de primeira-dama exige um certo cuidado com o impacto público de suas palavras, principalmente em momentos delicados para a política externa e interna do país.
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A mais recente demonstração de descontrole verbal de Janja aconteceu no contexto de uma reunião do G20. Durante um debate, ela mandou um sonoro “fuck you” ao bilionário Elon Musk, em resposta a uma interrupção técnica. Não apenas isso, ela ainda insistiu na provocação, dizendo: “Eu não tenho medo de você”.
Musk, como é sabido, é um empresário poderoso e um ativista político de extrema-direita, frequentemente crítico do governo de Lula. Após o ataque de Janja, Musk não perdeu tempo e compartilhou a gravação da fala dela em suas redes sociais, acompanhada de emojis de risadas e uma provocação direta: “Eles vão perder a próxima eleição”.
A reação de Lula a esse incidente foi imediata e, surpreendentemente, de censura à esposa. Em uma fala pública, o presidente repreendeu Janja, dizendo: “Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha em que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém. Nós precisamos apenas indignar a sociedade, indignar as pessoas que conquistaram o direito de comer, que a gente tem que trazer junto essas pessoas que não têm para comer”.
O comentário de Lula reflete a preocupação com os efeitos negativos de um comportamento impulsivo por parte da primeira-dama, que pode criar tensões desnecessárias no cenário político internacional. Como observam os diplomatas, a fala de Janja não foi um erro dela, mas um verdadeiro “tiro no pé” para o governo brasileiro. Afinal, o Brasil não pode se dar ao luxo de abrir uma frente de confronto com o novo governo dos Estados Unidos, especialmente com figuras como Musk, que possuem influência significativa no cenário político global.
Não ajuda o fato de que Janja, antes de xingar Musk, tenha se referido de forma pejorativa ao autor dos atentados de 13 de novembro em Brasília, chamando-o de “bestão”. Esses episódios de descontrole verbal não contribuem para a imagem de sofisticação e diplomacia que o Brasil precisa projetar, ainda mais quando o país busca restabelecer seu status no palco internacional.
Se existia alguma dúvida sobre o impacto político das palavras da primeira-dama, basta observar a reação da oposição. Bolsonaro e seus aliados não escondem o sorriso, observando o governo Lula ser envolvido em uma sequência de controvérsias que, até o momento, só favorecem seus adversários. Em tempos de polarização extrema, um deslize como esse é combustível para os rivais.
Portanto, é importante que Janja, mais do que nunca, saiba que nem todas as batalhas devem ser travadas com palavras. Algumas, como as do G20, precisam ser enfrentadas com cautela, sabedoria e, principalmente, silêncio.