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O Programa Espacial Brasileiro

Por José Reinaldo Tavares

Para o Centro de Lançamento de Alcântara se tornar realmente importante para o desenvolvimento do Maranhão, e do Brasil, é preciso, primeiro, que ele funcione. O Brasil nunca, apesar de importantes estudos realizados, conseguiu fazê-lo se tornar funcional, estruturado e sustentável. Se ele não funciona nenhuma empresa interessada em ser fornecedora desse setor, investirá para se estabelecer aqui em função do CLA. Seria como jogar dinheiro fora. E, também, não teria sentido construir um Centro Tecnológico em função dele, pois os formandos não teriam empregos garantidos.

Muita gente pensa que porque existe um CLA no Maranhão tudo viria automaticamente. Mas na prática a realidade é outra.

Ideologia sem sentido já nos fez perder grandes oportunidades e muito dinheiro. Não sei se lembram da luta para aprovar o Acordo de Salvaguardas Tecnológico com os Estados Unidos. Divulgavam que se assinássemos
estaríamos entregando o CLA para os EUA e que os nossos técnicos e engenheiros nem poderiam entrar na
base sem anuência dos americanos. Tudo mentira, nada disso constava do texto. O Acordo era necessário porque
a tecnologia usada em diversos componentes espaciais que levam anos de pesquisas e experimentos, muito
caros, podem ser copiados e usados por outros países para desenvolver seus próprios foguetes sem pagar nada
por elas roubando segredos e tecnologias de outros países. O Acordo obriga que o parceiro se responsabiliza
pela tecnologia de terceiros usada em seu território, o que é muito sensível na área espacial, ou aeronáutica e
outras mais. Quando o governo Fernando Henrique Cardoso submeteu ao Congresso o Acordo, acabou sendo
rejeitado. Alguns deputados comemoravam como se eles houvessem impedido que o Brasil fosse alvo da cobiça
internacional. Tristes figuras.

Quando o governo conseguiu fazer um acordo com a Ucrania para que seus excelentes lançadores e foguetes,
fossem feitos aqui com transferência de tecnologia, nada se conseguiu embora a Ucrania se dispusesse a isso. O
resultado foi não permitir um formidável avanço no Setor Espacial Brasileiro. Quem perdeu foi o Brasil. Os foguetes ucranianos tinham componentes americanos e como não havia acordo de salvaguardo assinado entre o Brasil os EUA, os americanos não permitiram que a Ucrania fizesse qualquer acordo nesse sentido e os foguetes ficaram no chão. O programa acabou aí. Foi terrível para o CLA que seria o palco iluminado disso tudo, para o Maranhão e para o Brasil.

Quando eu, como deputado federal, consegui mais de 200 assinaturas de apoio em um documento criando a
Frente Parlamentar de apoio ao CLA, me aproximei muito do Ministério da Aeronáutica, da Agência Espacial
Brasileira e do ITA. E consegui o curso mais importante do setor o de Engenharia Aeroespacial para ser o embrião do projeto que eu perseguia a muito tempo, ter um ITA aqui.

Eu tinha nessa ocasião todo o apoio do próprio ITA, do Ministério da Aeronáutica, da Agência Espacial Brasileira
e de toda a bancada do Maranhão na Câmara e no Senado. O Ministro da Aeronáutica me comunicou que precisava de uma indicação de uma universidade para ancorar o curso e indiquei a UFMA, conforme orientação
do governador Flávio Dino, a quem consultei.

O apoio da bancada foi tão forte e significativo que por unanimidade atendeu meu pedido e uma das duas
emendas a que a bancada tinha direito destinou 60 milhões de reais para equipar o ITA, a UFMA e o CLA, com
novos laboratórios, equipamentos, material especializado para que esse curso pudesse ser ministrado em conjunto pelo ITA e pela UFMA e pelo CLA. Através de vídeo conferência professores do ITA dariam aulas para os
alunos e professores da UFMA fariam temporadas de especialização no ITA. O ITA forneceu a UFMA toda a
estrutura do curso, as matérias a serem ministradas, a carga horária em um esforço gigantesco para que o
embrião vingasse. Um acordo foi assinado no CLA pela reitora da UFMA, o Reitor do ITA e o presidente do CLA,
Eu e Pedro Fernandes, também deputado e Vice- Presidente da Frente Parlamentar, assinamos como testemunhas. Depois deixei de ser deputado assim como o Pedro, o governo mudou, tanto estadual como federal, o ministro da Aeronáutica mudou, tudo mudou e hoje o curso perdeu força e nem sei mais como está.

Quem ascendeu ao Ministério da Educação foi o Ex-governador do Ceará que amparado no fato de que
ninguém do Maranhão conseguiu aprovação no ITA e mais de duzentos passaram no Ceará, fato que vem se
repetindo há vários anos e usando seu senso de oportunidade fez um gol de placa e levou um segundo
campos do ITA para lá, a primeira fora de São José dos Campos, em São Paulo. Hoje vejo que todo o esforço feito se perdeu, na fraqueza comparativamente, a outros estados, de nossa educação.

O Maranhão precisa cuidar das famílias pobres que não conseguem deixar de ser pobres, exatamente porque a pobreza não permite igualdade de oportunidades. Cuidar das crianças pobres de zero a seis anos como está posto no programa Casas de Esperanças aprovado pela Assembleia Legislativa por unanimidade, é uma esperança e uma certeza de mudança. Quantos e quantos gênios e pessoas de grande talento, são perdidos sem oportunidades, presos pelos grilhões da pobreza. O presidente do INSPER, em artigo na revista VEJA desta semana mostra isso claramente. Essa na verdade é nossa maior batalha e tenho esperanças que neste ano de 2024 vamos conseguir fazer o projeto piloto do programa.

Bem, para terminar começaram a disseminar uma notícia de que teríamos perdido para a Bahia um Centro Tecnológico Aeroespacial. Não é verdade. O governo não está construindo nenhum Centro Tecnológico, mas sim, por iniciativa do CNI, que nos foi apresentada e com a qual concordamos esperançosos, o Senai Cimatec da
Bahia uma universidade tecnológica dedicada a industrialização, uma entidade muito acima do padrão a
quem a Bahia deve parte fundamental de seu grande desenvolvimento, recebeu a incumbência de ajudar a
preparar quadros e tecnologia para o Programa Espacial brasileiro. No final do ano passado, em Novembro,
estivemos reunidos na FIEMA com o Pessoal do Senai discutindo esse assunto e concordamos inteiramente.
Nós já estivemos, convidados pela FIEMA, alguns dias no Senaicimatec da Bahia e o Reitor no começo do ano
passado passou conosco uma semana muito proveitosa. Ele inclusive apoia uma Senaicimatec no Maranhão.

O que falta ao programa brasileiro para funcionar de verdade é criar uma Embraer para o setor aeroespacial
brasileiro. Foi esse modelo que fez um país que não sabia fazer aviões a se tornar a terceira indústria mundial de
aviões que hoje voam em todos os continentes do mundo. Um programa espacial financiado pelo
orçamento da união está fadado ao fracasso e sem isso o CLA vai ficando para trás quase sem nenhum lançamento e sem se tornar importante e vital para o desenvolvimento brasileiro.

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