
Uma tentativa de assalto à luz do dia, em uma área movimentada da capital maranhense, resultou na execução do major da Polícia Militar André Felipe dos Santos de Carvalho, de 35 anos, na tarde da última quarta-feira (30). O crime aconteceu por volta das 17h, em um posto de combustíveis no bairro São Francisco, e deixou a população em estado de choque.
Segundo informações repassadas pela Polícia Civil do Maranhão, o oficial foi atingido com um disparo no peito durante uma intensa troca de tiros com os criminosos. De acordo com o delegado da Superintendência de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP), os primeiros levantamentos indicam que o alvo da ação seria um cordão de ouro usado pela vítima, que morreu com a arma de fogo em mãos no local.
Imagens de câmeras de segurança do posto flagraram a ação violenta e audaciosa dos criminosos. Nas gravações, é possível ver o momento em que o major estaciona seu carro no acostamento, próximo a revenda de gás. Logo em seguida, dois homens chegaram em uma motocicleta e dispararam contra o veículo. O oficial sai do carro e tenta reagir, disparando contra os criminosos. Ele é atingido e mesmo ferido, tenta se proteger, mas cai logo depois vindo a óbito.

Toda a ação durou pouco mais de dois minutos, mas foi suficiente para tirar a vida de um policial com 17 anos de carreira, pai de dois filhos, casado e, segundo amigos e colegas, reconhecido por sua integridade, profissionalismo e dedicação à corporação.

O major André Felipe estava exercendo suas atividades administrativas no Gabinete Militar da Assembleia Legislativa do Maranhão (Alema), onde atuava como chefe da seção administrativa. No momento do crime, ele estava de folga e dirigia um veículo próprio, sem escolta, em uma área considerada de tráfego intenso e comércio ativo.
De acordo com o Centro Integrado de Operações de Segurança (CIOPS), os criminosos já vinham seguindo o policial antes mesmo de sua chegada ao posto. A suspeita é de que o cordão de ouro no pescoço da vítima tenha sido o fator de atração para os assaltantes, que, ao perceberem que se tratava de um homem armado, optaram por uma abordagem violenta e fatal.
A comoção pelo assassinato mobilizou uma força-tarefa conjunta das forças de segurança estaduais, envolvendo equipes da Polícia Militar, Polícia Civil, Centro Tático Aéreo (CTA) e unidades de inteligência. A meta era clara: localizar e prender os envolvidos o mais rápido possível.
O primeiro suspeito, identificado como Ailton Silva Júnior, de 22 anos, conhecido como “Juninho”, foi localizado na tarde da quinta-feira (1º), menos de 24 horas após o crime. De acordo com a SSP-MA, Juninho foi encontrado em uma residência no bairro Ilhinha, próximo ao local do crime. Ao ser abordado, ele reagiu à prisão e trocou tiros com os policiais. Foi baleado e, mesmo após ser socorrido, morreu no hospital.

Juninho possuía diversas passagens pela polícia, incluindo por porte ilegal de arma de fogo e adulteração de sinais de veículos, crimes registrados desde que ele tinha apenas 18 anos. A polícia acredita que ele conduzia a motocicleta usada na ação criminosa.
Ainda na mesma quinta-feira, outro envolvido, conhecido apenas como “Ligeirinho”, morreu em confronto com policiais na cidade de Barreirinhas, no litoral maranhense. Conforme informou o tenente-coronel Fábio, comandante do Policiamento Metropolitano Sul, Ligeirinho era líder da facção criminosa Bonde dos 40 e estaria ajudando na fuga do executor. Ele também reagiu ao ser localizado, foi baleado, socorrido, mas não resistiu e morreu.

Na madrugada da sexta-feira (2), o terceiro e principal suspeito do crime, Caio Lúcio Câmara dos Santos, conhecido como “CL”, apontado como o autor dos disparos fatais, decidiu se apresentar na presença de sua advogada na delegacia. Ele foi localizado inicialmente em Barreirinhas, mas decidiu se entregar em São Luís.
Em depoimento à Polícia Civil, Caio fez uma confissão completa e revelou detalhes sobre a motivação e a execução do crime. Segundo seu relato, ele e Juninho estavam na região conhecida como Portelinha, consumindo drogas, quando decidiram cometer um assalto. A intenção inicial era abordar uma mulher vista usando joias, mas ao chegarem ao local, perceberam que a vítima era um homem. Mesmo assim, mantiveram o plano.
Ao se aproximarem do posto de combustíveis, identificaram o cordão de ouro usado pelo major e anunciaram o assalto com a expressão “perdeu”. Ao ver que a vítima reagiria, Caio efetuou sete disparos, sendo um deles o que atingiu o peito do policial.
Após o crime, ambos fugiram para uma oficina próxima, onde Caio escondeu a arma usada na ação criminosa. A pistola foi encontrada pelos investigadores no local indicado. O suspeito contou que após esconder a arma de fogo fugiu com a esposa para Barreirinhas com apoio de membros da facção criminosa “Bonde dos 40”, que pagaram R$ 400 pelo transporte.
Caio ainda admitiu ter participado de ao menos seis assaltos anteriores, sempre utilizando um revólver calibre .38. A arma usada contra o major, uma pistola, teria sido usada pela primeira vez naquele dia.
Durante a audiência de custódia, o juiz Francisco Ferreira de Lima considerou a prisão em flagrante legal e regular, com base no artigo 310 do Código de Processo Penal. Caio segue preso à disposição da Justiça e deve responder por latrocínio (roubo seguido de morte), além de associação criminosa e porte ilegal de arma de fogo.
Na manhã da sexta-feira (2), já custodiado na Central de Custódia do Estado do Maranhão, Caio protagonizou um episódio de desordem e ameaça dentro da unidade prisional. Por volta das 8h40, o preso iniciou uma série de gritos e batidas dentro da cela, desrespeitando comandos verbais dos agentes penitenciários e colocando em risco a segurança da unidade.
Segundo relato oficial, o agente Teddy Leonardo Sousa Froz tentou conter a agitação, sem sucesso. O diretor da unidade, Fabrício Henrique Ferreira Gomes, foi acionado para prestar apoio e, ao ser avistado, passou a ser ameaçado pelo detento, que afirmou que “acionaria membros de sua facção criminosa para atacar os policiais da unidade”.
A situação ficou ainda mais tensa durante o processo de identificação no Setor de Identificação (SIISP), momento em que Caio tentou agredir fisicamente o diretor e declarou: “Já matei um, e não vai valer nada matar outro.”
Diante da gravidade das ameaças, o inspetor de Polícia Penal Aldaires Silveira foi acionado e interveio com apoio da equipe de segurança, que utilizou os protocolos de contenção previstos. A ação foi concluída sem novos incidentes e o procedimento foi finalizado. O episódio foi registrado pelas autoridades responsáveis e reforça os riscos constantes enfrentados pelos servidores do sistema penitenciário.
O caso segue sob investigação da Superintendência de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP), que apura a participação de outros membros da organização criminosa no planejamento e execução do crime.
A morte do major André Felipe gerou comoção generalizada. Nas redes sociais, familiares, amigos e colegas de farda manifestaram solidariedade. Sua esposa publicou uma mensagem emocionada: “Te amarei até a eternidade, meu amor!”. O casal estava junto há sete anos e tinha dois filhos pequenos. Ele havia comemorado o aniversário de 35 anos há poucos dias, no dia 21 de abril.
A Polícia Militar do Maranhão prestou homenagem pública, destacando o comprometimento e a conduta exemplar do oficial. Em nota, a corporação afirmou: “Neste momento de dor e saudade, o Comando da Corporação expressa suas mais sinceras condolências aos familiares e amigos. Que o Major André Felipe encontre paz e descanso eterno.”
A Assembleia Legislativa do Maranhão, onde André atuava, também lamentou profundamente sua morte. O governador Carlos Brandão, por sua vez, declarou nas redes sociais: “Minha solidariedade aos familiares, amigos e colegas de farda do major André Felipe. Determinei o início imediato das buscas e investigação. Nossas forças de segurança não vão descansar até que a justiça seja feita.”
A execução do major André Felipe não apenas expôs a violência urbana que assola São Luís, como também simbolizou a dor de uma sociedade marcada pela impunidade e pelo avanço da criminalidade. Sua morte mobilizou uma estrutura estatal rara em velocidade e abrangência, com resultados importantes, mas que não apagam a dor deixada em sua família, amigos e corporação. A resposta rápida das forças de segurança, com prisões e confrontos, foi uma tentativa de justiça, mas também um grito de alerta sobre a realidade nas ruas da capital maranhense.