
As promessas dos países do primeiro mundo, sempre repetidas solenemente nas atas das reuniões da COP já entraram em descrédito. Essas doações seriam para que os países pobres pudessem minimamente se defender das catástrofes climáticas, mesmo porque não contribuíram em nada para essa situação.
O aquecimento global foi causado, em sua essência, pelo padrão de consumo altíssimo de energia tão característicos das nações ricas e pelo alto nível de vida que conquistaram. Ninguém pode ser contra que uma nação possa conquistar um alto nível de vida, mesmo porque ninguém sabia que isso levaria a problemas
climáticos. Mas, o enorme consumo de energia fóssil liberava dióxido de carbono, causa maior do efeito estufa. Assim é justo que essas nações ajudem as nações pobres a sobreviver ao que involuntariamente causaram, e tanto é justo que aceitaram ajudar, com grandes quantias. Só que nunca cumpriram suas solenes promessas e ao que tudo indica, isso dificilmente acontecerá.
Não havia globalmente uma percepção de que esse consumo excessivo de combustíveis fósseis poderia causar um efeito estufa e aumentar a temperatura da atmosfera, repito. O fato era de que toda a atividade na vida moderna –cultivar coisas, fabricar coisas, deslocar-se de um lugar para outro- envolve a liberação de gases de efeito estufa e com o passar do tempo mais pessoas vão levar esse tipo de vida, com o aumento de sua renda. Todas as sociedades almejam viver como o que o primeiro mundo conquistou. Hoje sabe-se que que há uma relação entre renda e nível de energia, a renda per capita de um país e a quantidade de energia utilizada por sua população. Mas temos ainda mais de 800 milhões de pessoas na África subsaariana e no sul da Ásia que não dispõe de sistemas firmes de energia. A energia mais barata significaria não apenas luz a noite, mas também fertilizantes mais baratos para a lavoura e cimento mais acessível para as casas. E, em termos de mudança climática ninguém tem mais a perder do que elas. A maioria dessas populações vive em situação de pobreza e é composta de agricultores que já vivem no limite e não tem condições de suportar novas secas e enchentes. Por tanto, nada mais justo que sejam ajudadas, mas não são, mostrando a falácia por trás de tais promessas de doações. Elas não virão.
Mas precisamos estar conscientes que o problema não é tão simples assim como apenas deixar de emitir carbono evitaria as catástrofes climáticas. Não é verdade. Já se sabe que 1/5 do dióxido de carbono emitido hoje estará na atmosfera daqui há dez mil anos. Sem dúvidas, temos que diminuir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, mas, mesmo assim, só isso não basta para diminuir a espessura da camada de gases de
efeito estufa. Uma queda de 50% nas emissões, que é um desafio gigantesco para conseguir, não deteria o aumento da temperatura; apenas retardaria um pouco mais as coisas. De certa forma postergando, mas não prevenindo uma catástrofe climática.
Na verdade, para evitar os piores cenários climáticos,- é importante compreender isso-, em algum momento não apenas precisaremos parar de lançar mais gases, como também teremos de começar a remover parte do que já emitimos. São as emissões negativas líquidas. Significa simplesmente que um dia, teremos de eliminar mais gases de efeito estufa que já estão na atmosfera do que acrescentarmos, de modo a conseguir limitar o aumento da temperatura. E isso deve mobilizar toda a ciência, para obtermos a tecnologia para isso a um custo viável.
Portanto isso tira razão, por exemplo para a não exploração da margem equatorial pois essa renda é absolutamente necessária para que o aparato científico brasileiro possa se dedicar a busca da única solução possível de eliminar as catástrofes climáticas como descrito acima.