Gospel
Como deve ser a postura de um político evangélico?

Há ainda uma reminiscência na memória de cada evangélico que há tempos idos as discriminações para com os mesmos eram as mais diversas, éramos tratados com todo aviltamento, porém, com o trabalho e crescimento sério que passaram a ter, algumas opiniões positivas foram sendo dadas por especialistas no campo da sociologia, antropologia, política e em revistas nacionais. Destacaremos alguns para efeito de recordação.
Para o antropólogo John Burdick, a suposta alienação pentecostal seria justamente fonte de mudanças efetivas porque cria comunidades de descontinuidades e transformações. Nas Palavras do antropólogo Rubém César Fernandes os evangélicos representam um movimento de mudança radical, pois enfrentam de modo mais convincente assuntos envolvendo dinheiro, saúde, doenças, crise mora e familiar. Nas palavras do antropólogo Luiz Eduardo Siares, os evangélicos representam uma emergência de uma nova sociedade igualitária. Mas uma tônica altissonante vem da revista Veja, na qual um diretor de uma organização não governamental afirma que hoje os evangélicos são a alternativa ao narcotráfico, a principal resistência em termos de produção de identidade, de conjunto de valores, de respeito pela força comunitária.
Com tais assertivas sendo propagadas, os evangélicos deixaram de ser vistos apenas como homens da pregação, trabalhando apenas entre as quatro paredes dos templos, salões, como pessoas sem muita capacidade, isso se deve a ação dessa comunidade presente no aspecto espiritual, social e moral.
Os louvores pela atuação e postura dos evangélicos nas ações comunitárias, na igualdade social, na inclusão dos desprezados têm gerado aplausos, porém, pelo lado político, muitos evangélicos eleitos não provocaram grandes repercussões.
A causa para isso tem sido a questão corporativista e triunfalista, que tem tido grande influência no meio evangélico. É bem verdade que com o crescimento dos evangélicos no Brasil algumas autoridades, e até a mídia têm se voltado para os mesmos. O aspecto numérico tem seu peso positivo, pois pode fazer com que alguns olhem para nós com mais respeito, todavia, quando prevalece o corporativismo evangélico na política, visando especificamente o interesse de uma determinada classe, isso se torna por demais perigoso.
Já há grande interesse nos partidos não evangélicos em colocar no seu partido pessoas que fazem parte dessa grande massa, é claro, não estão interessados nos seus valores cristãos, mas simplesmente em aumentarem a legenda do partido. Assim, todos acabam se tornando massa do mesmo pão, em que o fermento da hipocrisia e do dinheiro fala mais alto.
Cada evangélico deve ter em mente que o sonho messiânico não se realiza por alguém ser da direita ou da esquerda, isso porque, pelo processo transitório da alternância do poder, qualquer um pode ser um bom ou péssimo presidente, isso tem se configurado no cenário político.
Os candidatos evangélicos não podem agir nem pensar corporativamente no aspecto político, antes devem ter uma postura que priorize a realidade de sua comunidade, sem serem apenas sonhadores. Os evangélicos, precisamente os candidatos, precisam de discursos não apenas teóricos, mas que sejam realmente mobilizadores, que reflitam os valores familiares como defesa da vida, segurança, honestidade, justiça, igualdade.
Para que os candidatos evangélicos tenham aceitação do seu público é necessário que as vidas dos mesmos sejam marcadas por procedimentos morais intocáveis, têm que ser ficha limpa. Precisam defender de fato os bons valores, inclusive a família, não tendo esse assunto como um chavão, mas que busque fazer isso com fundamentos legais e verdadeiros, com bases históricas, ressaltando a importância da família no seu processo social existencial e histórico.
Tanto os candidatos evangélicos como os outros, precisam entender aquilo que faz parte de uma ação eclesiológica e aquilo que não faz, daí a necessidade de se fazer distinção entre moral e legislação, saber isso é importante porque existem ações que vão depender do pastor, do seu ensino, de sua prática pastoral, mas outras são questões atinentes propriamente às leis do país, por exemplo, no tocante à pobreza, o que se deve fazer é lutar por reformas estruturais que diminua a má distribuição de renda.
Um político evangélico pode lutar por ideias justas, claro, não por sua autoridade religiosa, mas pelos princípios bíblicos que lhe movem, visando boas mudanças no aspecto econômico e social.
Na verdade, o que se pode propor é que haja uma conscientização política no meio evangélico para que se faça distinção entre pessoas e questões políticas, a fim de que não se faça discursos de ataques, menosprezos a qualquer pessoa por causa do seu partido. Precisamos entender que política é mais do que eleição, ela envolve diversos processos, o que requer da comunidade evangélica uma ação conscientizadora, pensante, reflexiva, daí a necessidade de palestras, encontros, seminários sobre o assunto, visando um crescimento coerente e bem ajustado, para que se ele estiver no meio deles, saiba proceder como Paulo (1 Co 9.22).
Não se pode votar em evangélico apenas por ser evangélico, mais que isso é necessário que ele seja modelo de vida, que tenha boas propostas, ideias que possam influenciar a sociedade. Que seja alguém capaz de trabalhar para que haja mudança e gere no povo esperança, confiança. Jamais o candidato evangélico deve procurar impor sua crença ao povo, sua moral, antes por sua postura deve evidenciar a todos que os valores cristãos estão também interessados no bem-estar da sociedade.
As Igrejas e Convenções Evangélicas, no quesito de apresentar um candidato, devem ater-se à vida, postura, conhecimento, ética, bom testemunho não somente em sua comunidade, mas nas de fora também (1 Tm 3.7). Quando os evangélicos, por meio de seus representantes, desenvolverem políticas sociais sérias, que beneficiem a todos, expressando uma vida exemplar, os louvores dos de fora continuarão a crescer, mas isso só irá acontecer quando cada cristão, conscientemente votar em homens que desejam realmente fazer a justiça, que não pensam em si mesmos, mas que aja baseado nos pilares da humildade e verdade.