
É isso mesmo, a descoberta foi anunciada no começo dessa semana por um time de três astrônomos norte americanos. Scott Sheppard, David Tholen e Chad Trujilo estão no esforço para encontrar o tão famoso, quanto fugidio Planeta X, que acabou rebatizado de Planeta 9 recentemente.
A ideia, proposta pelo mesmo time de cientistas, diz que existe um planeta bem distante que esteja “pastoreando” objetos nos limites do Sistema Solar. Konstantin Batygin e Mike Brown, o astrônomo que matou Plutão, fizeram simulações em computador que mostraram a viabilidade dessa hipótese.
Ou seja, havendo um planeta com tamanho compatível com uma super-Terra, maior que a Terra e menor que Netuno, ele seria capaz de orientar as órbitas desses objetos distantes de modo que elas fiquem mais ou menos alinhados depois de bilhões de anos de interações.
Desde 2014 esses 5 astrônomos encabeçam a procura pelo Planeta 9, que, claro, envolve muito mais gente. Afinal, descobrir mais um planeta no Sistema Solar em pleno século 21 é carimbar seu lugar na história da humanidade.
Batygin e Brown em 2016 apontaram os locais mais prováveis para se encontrar esse planeta e, além disso, sugeriram também que o instrumento ideal para essa missão era o telescópio japonês Subaru com 8 metros de diâmetro, operando do alto do vulcão Mauna Kea, no Havaí. Isso porque ele possui uma câmera de campo bem amplo, capaz de tirar uma imagem de uma região relativamente grande do céu cada vez que é acionada. Isso é fundamental, já que ninguém tem uma estimativa das coordenadas do planeta, apenas qual região do céu procurar. Além disso, é preciso observar a mesma região do céu duas ou três vezes com um intervalo de tempo de pelo menos alguns dias entre as observações. Isso serve para detectar o movimento do objeto procurado, observando duas vezes o mesmo campo, as estrelas não devem se mover. Tudo aquilo que se mostrar em posições diferentes entre uma imagem e a outra é suspeito.
Com essa motivação e essa técnica, já foram descobertos diversos Objetos do Cinturão de Kuiper, os KBOs na sigla em inglês. Inclusive os planetas anões que fazem companhia a Plutão, além de vários outros candidatos. Sheppard, Tholen e Trujilo foram responsáveis, inclusive, pela descoberta recente do objeto 2015 TG387, anunciada em outubro deste ano e mais conhecido como Gobblin, por ter sido avistado pela primeira vez perto do Halloween.
No começo dessa semana a União Astronômica Internacional (IAU em inglês) reconheceu oficialmente a descoberta de 2018 VG18, apelidado de ‘Farout’, uma junção de ‘far out’, ou ‘bem longe’ numa tradução rápida. E não é para menos, segundo os 3 pesquisadores, esse objeto está atualmente a uma distância de 125-130 unidades astronômicas (ua), que representa 125-130 vezes a distância Sol-Terra, o que dá entre 18 e 19 bilhões de km. Plutão, para se ter uma comparação, está atualmente a 34 ua, ou “apenas” 5 bilhões de km de distância.
Farout tem uma órbita bem alongada, sua distância máxima ao Sol é de quase 170 ua e a distância mínima é de 22 ua, ou um fator 8 aproximadamente. A essa distância toda, um ano em Farout, ou seja, uma volta em torno do Sol, dura 929 anos terrestres. Quase um milênio! Esses valores todos, e outros elementos orbitais, ainda são preliminares e servem para ter a descoberta validada, mas precisam ser refinados. É bastante difícil estabelecer esses dados quando se trata do mais distante e mais lento objeto do Sistema Solar, né?
Com as observações feitas no telescópio Subaru (cujo nome se refere às Plêiades e não ao carro) e no Observatório Carnegie no Chile, dá para se estimar o tamanho desse objeto em aproximadamente 500 km, o que já dá para chama-lo de candidato a planeta anão. Outra coisa que esses dados mostram é que Farout tem uma coloração rosada, característica de objetos ricos em gelo, principalmente gelo de metano.
Outra coisa interessante de Farout é que ele está mais ou menos na mesma distância da Voyager 2. Recentemente, a NASA anunciou que as medidas de radiação enviadas por essa sonda indicavam que ela tinha atingido a fronteira do Sistema Solar. Não há uma definição muito precisa de onde acaba o Sistema Solar, ou melhor, há várias definições para isso. A influência gravitacional do Sol, por exemplo, não é um bom parâmetro, pois em tese ela nunca será zero, por mais distante que um objeto esteja. Por isso costuma-se usar a distância em que o vento solar se equilibra com o vento estelar de estrelas próximas. Em outras palavras, quando o vento solar tem a mesma intensidade que o vento de outras estrelas. Essa região é chamada de Heliopausa.
A Voyager 1 já teria cruzado essa região em agosto de 2012, quando chegou a uma distância de 121 ua, mais ou menos a distância de Farout. Os mesmos efeitos observados nessa época foram reportados pela Voyager 2 agora, quando ela atingiu distância semelhante. Isso tudo somado, estamos vendo pela primeira vez um objeto, talvez um planeta anão, que esteja bem no limiar do Sistema Solar! Isso com um telescópio de 8 metros de diâmetro, imagina o que iremos descobrir quando os telescópios gigantes, com 30 metros ou mais, começarem a operar!