
O Brasil intensificou sua reivindicação junto à Organização das Nações Unidas (ONU) pelo controle da Elevação do Rio Grande, uma formação geológica submersa no Oceano Atlântico localizada a cerca de 1.200 km da costa do Rio Grande do Sul. A área, de aproximadamente 500 mil km² — o equivalente ao território da Espanha — está a 5 mil metros de profundidade e pode ter sido parte do antigo território continental brasileiro.
A solicitação, formalizada pelo governo federal em 26 de fevereiro de 2025, está baseada na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), que permite a extensão da plataforma continental de um país, desde que haja comprovação científica de continuidade geológica.
Pesquisas lideradas por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) revelaram que o solo da Elevação do Rio Grande possui composição semelhante à do interior paulista, reforçando o argumento de que a estrutura submersa integra geologicamente o continente sul-americano.
Além de sua importância científica, a Elevação é vista como uma área estratégica, com potencial econômico significativo. Estudos apontam a existência de minerais raros — essenciais para a produção de tecnologias limpas como turbinas eólicas, veículos elétricos e painéis solares — além de depósitos de basalto e argila vermelha, típicos de antigas ilhas vulcânicas tropicais.
Apesar de o Brasil deter a segunda maior reserva mundial de terras raras, o país ainda enfrenta desafios tecnológicos no processo de beneficiamento desses insumos, exportando parte significativa como matéria-prima sem valor agregado.
Reivindicação está em análise na ONU
A Elevação do Rio Grande faz parte de uma das três áreas que o Brasil pleiteia em águas internacionais, denominada Margem Oriental-Meridional, que abrange 1,5 milhão de km² além da Zona Econômica Exclusiva (ZEE). As outras duas regiões em disputa são a Margem Equatorial e a Região Sul.
Em março de 2025, a Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) — vinculada à ONU — aceitou os fundamentos técnicos e metodológicos apresentados pelo Brasil, mas ainda não há previsão para a decisão final.
Evidências apontam que área já foi uma ilha tropical
Desde 2018, cientistas de diversas universidades brasileiras, como USP, Mackenzie, UERJ, UnB, Unisinos e UFES, participam de expedições e estudos multidisciplinares na região. Utilizando veículos subaquáticos não tripulados, os pesquisadores encontraram picos submersos com mais de 4 mil metros de altura, maiores que o Pico da Neblina — ponto mais elevado do território brasileiro.
Um dos achados mais notáveis é um cânion extenso conhecido como “Grande Fenda” ou Rifte Cruzeiro do Sul, além de camadas geológicas que sugerem que a região foi, no passado remoto, uma ilha tropical com clima quente, vegetação densa e recifes ao redor.
A presença de solos e rochas semelhantes aos do continente sul-americano é considerada uma das evidências mais fortes da ligação geológica da Elevação do Rio Grande com o território brasileiro — e pode ser decisiva para o reconhecimento internacional da soberania brasileira sobre a área.