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Por que acabaram com programas tão importantes?

Artigo escrito por José Reinaldo Tavares

Semana passada, recebemos para almoço Ceres Costa Fernandes e Antônio Carlos. Ceres é uma pessoa que dispensa apresentações. Intelectual, membro da Academia Maranhense de Letras, executiva focada e muito competente que comandou no meu governo alguns dos projetos mais bem avaliados e aprovados pela sociedade, de todos os governos até hoje. Foi uma tarde agradabilíssima, com as lembranças das grandes vitórias conseguidas que permitiram igualar oportunidades para os alunos das escolas públicas, com os das escolas particulares. E, principalmente, abrir-lhes e colocar ao seu alcance um mundo de possibilidades, dependendo do seu esforço e mérito.

O maior de todos foi o projeto Saúde na Escola, um programa idealizado pela crença de que muitos alunos eram considerados desinteressados porque não conseguiam acompanhar e assimilar os ensinamentos ministrados pelos professores. Eram de famílias pobres e não tinham acesso a bons serviços médicos e as famílias já tinham feito muito em relação ao que podiam fazer por eles, matriculando-os na escola.

Nós sabíamos que era mais do que isso. Nos comícios pelo interior que fiz na campanha, enquanto esperava minha vez de falar (geralmente era o último a falar, encerrando o comício), eu ficava observando o povo das cidades do interior que assistiam, interessados, aos comícios e ouviam o que falávamos na tentativa de saber o que iríamos fazer por eles. E eu comecei a me intrigar, me lembrando que precisamente, aos 40 anos, eu precisei usar óculos, devido ao ciclo inexorável da vida. Eu olhava muitas pessoas da minha idade e mais velhas. Quase ninguém usava óculos.

Então comecei a perguntar, meio brincando: a água em que vocês tomam banho deve ter alguma coisa já que ninguém usa óculos. Será que vocês estão mesmo enxergando direito ou têm algum problema? Olha, se vocês não enxergarem direito acabam votando na pessoa errada. Era uma risada coletiva e eu perguntava aos mais próximos o que estava acontecendo e eles me diziam que nunca tinham ido a um oculista, nunca tiveram acesso a óculos e estavam enxergando mal.

Ali nasceram os Mutirões da Cidadania, com médicos e oculistas voluntários e convênios com óticas, que atendiam às receitas dadas durante o programa. Foram feitas milhares de cirurgias de cataratas, salvando a visão de milhares de pessoas e dando-lhes qualidade de vida. Esse programa fantástico continuou a ser feito em outros governos. Eu não perdia nenhum, acompanhava tudo e o programa era muito bem conduzido pela Secretaria da Solidariedade.

Esse conhecimento da realidade foi o maior motivador para a criação do Saúde na Escola, na crença de que com as crianças acontecia o mesmo e observando, nas famílias mais abastadas, grande número de crianças já usando óculos. E nos colégios públicos quase ninguém usava óculos.

Qualidade Internacional – O projeto teve como objetivo elevar a qualidade de vida do alunado do Ensino Fundamental da rede pública estadual e reduzir os problemas de saúde, proporcionando a cada aluno oportunidade de tratamento, prevenção e acesso a bens e serviços, e, consequentemente, aumentar o rendimento escolar, influindo nos índices de evasão e repetência. Oferecia Oftalmologia, Otologia, Odontologia, Saúde Geral e realizava ações pedagógicas, construindo nas crianças hábitos higiênicos, com debates pertinentes nas escolas. Realizava atendimentos a portadores de necessidades especiais, contando para isso com profissionais capacitados e equipamentos de última geração. Na área de Odontologia, o programa alcançou o padrão de qualidade internacional CPO-D, índice usado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para avaliar a prevalência da cárie dentária em diversos países. Logo, resumindo, o programa fazia atendimentos de caráter educativo, preventivo e curativo, por intermédio dos serviços de Odontologia, Otologia, Oftalmologia, Educação em Saúde, consulta de enfermeiros, consultas médicas, exames laboratoriais, entrega de medicamentos e orientação psicossocial. Como exemplo, tínhamos a Clínica Odontológica Benedito Leite, da escola de mesmo nome, que possuía 6 gabinetes odontológicos, uma central de esterilização, escovódromo, uma sala de espera equipada com televisão, ar condicionado e uma capacidade de atendimento para 60 crianças por turno de trabalho, totalizando 120 crianças atendidas, diariamente.

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