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ARTIGO: SEM HARMONIA VEM O CAOS

O lockdown é uma medida extrema com resultados muito bons em países de renda média e alta, bem distribuída. No Brasil só funcionaria se grande parte da população, que é pobre, pudesse também ficar em casa. Para isso acontecer, o Governo Federal deveria fazer a sua parte e transferir renda para essas pessoas como está na lei. Como isso não acontece plenamente, essas pessoas vão para ruas “se virar” para não passar fome. Assim, o lockdown não funciona 100% e perde força. Se o Governo melhorar sua eficiência o lockdown funciona melhor.

Vamos aos fatos:
O Brasil não conhece a sua população e o que mais evidencia esse fato é o desastrado pagamento da ajuda de R$ 600,00 aos mais vulneráveis.E isso se torna evidente com os repetidos erros nas previsões desses contingentes, pois, cada dia é um número novo, sempre muito maior do que a estimativa anterior. Por falta de um sistema digital de identidades e cadastros públicos o poder executivo vai aos trancos e barrancos mostrando desconhecimento da realidade do país. E como planejar sem dados confiáveis?

O auxílio emergencial para trabalhadores informais já identificou 50 milhões de pessoas como seu público-alvo, mas esse número deve crescer para pelo menos 80 milhões e pode chegar a 112 milhões, mais da metade da população brasileira, caso a crise gerada pelo vírus gere mais perda de renda.

São dados da IFI (Instituição Fiscal Independente), órgão do Senado que realizou diversas simulações com base em dados das estatais Caixa e Dataprev, até primeiro de maio.

Se todos estivessem lutando coordenadamente para tomar medidas que abreviassem a crise, com um comando único, como seria o lógico e natural, tudo poderia funcionar melhor. Mas, todos sabemos que não é isso que acontece e, longe de querer politizar essa análise, se olharmos a entrega dos 600 reais, da forma como está sendo feita, gerando longas filas de pessoas exaustas, desesperadas, muitas vezes idosas e doentes, podemos ver que ali temos o maior foco de disseminação do vírus, pois as pessoas ansiosas e cansadas não guardam a distância recomendada, nem usam máscaras e quando voltam para casa se tornam vetores que levam a infecção a outros membros da família e vizinhos. E isso também se repete todos os dias em todas as cidades brasileiras.
Basta olhar o que acontece no lockdown. Nos bairros de renda mais alta quase não se vê movimento. Mas a TV mostra como é diferente nos bairros onde se concentram as pessoas mais vulneráveis, com grande oscilação de renda pela pandemia.

Essa falta de entendimento entre os diversos níveis de governo prejudica em muito os objetivos do lockdown, que é o de evitar o colapso do sistema de saúde, público e privado. E isso retarda o que todos querem: o afrouxamento da quarentena.
Mas, por que é que a entrega do auxílio tem que ser assim, humilhante para as pessoas necessitadas? Por que concentrar tudo na Caixa? Por que não usar a rede privada de bancos? Por que não fazer parcerias com as prefeituras? O problema começa mesmo com os meios eletrônicos oferecidos para cadastrar e habilitar os que teriam direito à ajuda. São inúmeros os relatos de lentidão, queda do sistema e outros empecilhos técnicos e burocráticos. Como se a China e a Índia, os dois países mais populosos do mundo não dispusessem de tecnologias altamente avançadas e disponíveis para isso.
Esse programa de ajuda, com apoio do Congresso e do presidente Bolsonaro, não pode se tornar um tormento para a população mais pobre e necessitada do país, expondo-a a riscos desnecessários.

Dessa maneira, acabamos nos tornando um dos países que vai levar mais tempo para se recuperar da pandemia.
Bem, vamos mudar de assunto. Sinto que o país e o mundo caminham para mudar o rumo adotado até agora. Acredito que as mudanças serão muito grandes assim como nossos valores. O mundo está se escandalizando com a quantidade de pessoas que convivem com esgoto jogado nas ruas e sem água tratada em suas casas, livre de contaminação. E o flagelo da desigualdade e da pobreza, das favelas, inaceitável.

Educação x desigualdade social – A desigualdade social tem inúmeros motivos, mas o principal vem da educação, vem da desigualdade inicial, básica, ocorrida na primeira infância, muito evidente entre as crianças nascidas em famílias pobres e as de família mais abastadas. A consciência de como isso é nocivo vem se alastrando, mas ainda não chegou à classe política brasileira. Nos países ditos de primeiro mundo é diferente. Se você se der ao trabalho de ler o discurso de Barack Obama ao aceitar a indicação do Partido Democrata, após vencer as prévias, em uma gigantesca convenção em um estádio de Denver, tem ali bem explicitada a preocupação do futuro presidente: “Este é o momento de finalmente cumprirmos nossa obrigação moral de garantir para cada criança uma educação de primeiro nível, porque será preciso nada mais que isso para competir na economia global. Michele e eu só estamos aqui esta noite porque nos foi dada uma chance de ter uma educação. Eu não vou compactuar com uma América em que algumas crianças não tenham essa chance” e continua mais adiante “Vou investir no ensino para a primeira infância”. Obama também afirmou naquela noite: “As obrigações do governo são nos proteger do mal e garantir a cada criança uma educação decente; manter nossa água limpa e nossos brinquedos seguros; investir em novas escolas, novas rodovias, nova ciência e tecnologia”.

Nós, mais do que todos, precisamos seguir rumos novos. Espero que isso seja prioridade pós-pandemia. Dentro desse contexto recorro, novamente, ao passado. Florença, na Itália, que depois da Peste Negra mudou a arquitetura, a cultura, a economia, a mentalidade das pessoas. A vida foi valorizada, e tempos depois nasceu ali o Renascimento humanista.

Assim, podemos ter fé que depois de passar essa terrível provação que amedronta e afeta a todos, tudo vai mudar. Amém!

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