PM é indiciado por homicídio com qualificadora de feminicídio

A Polícia Civil concluiu, após dez dias de investigação, o inquérito sobre a morte de
Bruna Lícia e José Willian no Condomínio Pacífico I, na Vila Vicente Fialho, em São
Luís, no último dia 25 de janeiro. O Departamento de Feminicídios, da
Superintendência Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP), concluiu que
ocorreu o homicídio qualificado com qualificadora de feminicídio, como introduzido
no Código Penal Brasileiro (CPB) em 2015.

Com os laudos dos peritos criminais ficou comprovado que houve uma luta corporal
entre o policial militar Carlos Eduardo Nunes Pereira e as vítimas antes do assassinato.
Só que, segundo a polícia, a agressão partiu de Carlos Eduardo e não das vítimas. A
delegada titular do Departamento de Feminicídio, Viviane Fontenele, disse que o
crime pode ser caracterizado como um assassinato no contexto de violência de gênero.
“O que é o crime considerado passional? É aquele cometido pela paixão, pelo amor.
Amor não mata, paixão não mata. Isso aí é uma romantização da violência e agente
repudia esse termo crime passional porque a gente não pode romantizar a mais
extrema violência contra a mulher que é o feminicídio. O que aconteceu foi um
assassinato no contexto de violência de gênero, de violência doméstica, onde um
homem não admitiu ver a sua ex-companheira que estava seguindo a sua vida com
uma outra pessoa e resolveu tirar a vida dos dois. Isso sim que aconteceu e não um
crime passional”, explicou a delegada.
O crime
O policial militar saiu de sua casa, no condomínio localizado na Vila Vicente Fialho,
para o serviço. Lotado no 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM), ele trabalhava no
Terminal da Ponta da Espera, área Itaqui-Bacanga. O PM retornou mais cedo para o
imóvel. Quando entrou no apartamento, encontrou um rapaz, que seria homossexual,
na sala. Ele, então, pediu que essa pessoa se retirasse. Em seguida, entrou no quarto e
flagrou a mulher dele, Bruna Lícia Fonseca Pereira, de 23 anos, transando com José
William dos Santos Silva, 24.
Segundo o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), sem discussão,
Carlos Eduardo deferiu vários disparos de arma de fogo na esposa e no homem. Cada
um caiu de um lado da cama, já sem vida. Em seguida, o PM teria ligado para o seu
superior imediato, que solicitou o envio de uma guarnição ao condomínio. Segundo
declarações de vizinhos, o militar ainda tentou se matar, mas desistiu e foi conduzido
pela equipe até o Plantão da SHPP, juntamente com a pistola .40.
Preso no “Manelão”
No Plantão da SHPP, o policial foi ouvido e confessou o crime. Depois de autuado, foi
encaminhado ao “Manelão”, presídio que fica no quartel do Comando Geral da Polícia
Militar, no Calhau, em São Luís. Ele foi autuado, de acordo com o delegado Jeffrey
Furtado, pelo duplo homicídio. José William, que foi morto ao lado de Bruna Lícia,
era noivo e trabalhava junto com ela em uma empresa localizada em São Luís.
Conforme o Ciops, o suposto amante e o amigo encontrado na sala do imóvel
chegaram ao condomínio em um carro por aplicativo.
O porteiro do condomínio liberou a entrada dos dois depois que Bruna Lícia permitiu,
segundo apurado pela polícia. Carlos Eduardo chegou ao local cerca de 30 minutos
depois. Os peritos criminais recolheram no quarto oito cápsulas de pistola .40. Os
vestígios foram encaminhados ao Instituto de Criminalística (Icrim). As duas vítimas
foram sepultadas na tarde de domingo (26), por volta das 15h, sendo que a mulher foi
enterrada no Cemitério Jardim da Paz, na Estrada de Ribamar.
Em momento posterior, a Justiça decretou a prisão preventiva do soldado Carlos
Eduardo, que continuará encarcerado no “Manelão”, a não ser que consiga um habeas
corpus.
Processo de separação
Segundo a delegada Viviane Fontenelle, o casal já estava separado, embora não
oficialmente. Os dois teriam confirmado o divórcio no dia anterior ao crime, em uma
conversa no apartamento. Ele estava apenas em processo de mudança, para levar suas
coisas a outro local da ilha.
No dia seguinte ao duplo homicídio, dois homens apareceram no condomínio se
passando por policiais e pediram ao porteiro que liberasse a entrada, pois iriam entrar
no quarto onde Bruna e William foram mortos. Porém, o porteiro desconfiou de que
não fossem policiais e não permitiu a entrada. Os dois homens o ameaçaram de morte
e depois desapareceram.