
O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, afirmou na quinta-feira (20) que o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, atuou com “soberba” e foi “insensível” ao questionar o profissionalismo dos médicos da ilha que trabalhavam no país.
“Não tínhamos outra opção além da retirada de Cuba do programa Mais Médicos”, disse Díaz-Canel em uma cerimônia de homenagem aos profissionais da saúde que retornaram a Havana.
“Era impossível permanecer de braços cruzados ante um governo [eleito] com soberba e insensível, incapaz de entender que nossos médicos chegaram ao país movidos pelo impulso de servir ao povo”, declarou.
O governante cubano confirmou o retorno de 7.635 médicos (90%) que integravam o programa “Mais Médicos” no Brasil e que atendiam principalmente áreas menos favorecidas, em cidades com vagas que não haviam sido preenchidas por profissionais brasileiros. Outros 836 optaram por permanecer no Brasil.
“Todos tiveram despedidas com abraços e lágrimas de milhares de brasileiros de coração nobre e valores humanos superiores aos do novo presidente, cujas declarações e ameaças provocaram o retorno”, disse.
Novas exigências brasileiras
Em novembro, Havana decidiu se retirar do acordo mantido pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) firmado havia cerca de cinco anos com o Brasil, em reação contra as críticas feitas por Jair Bolsonaro desde a campanha.
Para Bolsonaro, as condições a que se submetiam os médicos cubanos representavam “trabalho escravo”.
O presidente eleito condicionou a permanência deles à revalidação de diploma e a contratos individuais com o governo brasileiro, que lhes permitissem receber o salário integral (Cuba repassa para a seus médicos no exterior 30% do que eles recebem por seu trabalho).
Ele também impôs como condição a liberdade aos profissionais cubanos para trazerem suas famílias para o Brasil.
A exportação de mão de obra médica é a primeira atividade da economia cubana, que proporcionou mais de 10 bilhões de dólares anuais ao orçamento estatal. Esse montante baixou consideravelmente nos últimos anos, porém, devido à crise da Venezuela, onde trabalham milhares de médicos cubanos.
Cuba paga a seus médicos no exterior 30% do que recebem por seu trabalho, mantém seu posto de trabalho e salário na Ilha e dedica o restante dos recursos ao orçamento público, sobretudo, para o apoio de um sistema de saúde gratuito e universal para seus cidadãos.
Posse
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou nesta segunda-feira (17) que convidou, e depois desconvidou, Miguel Díaz-Canel para a posse de Jair Bolsonaro, que acontecerá em 1º de janeiro. O mesmo aconteceu com o chefe de estado da Venezuela, Nicolás Maduro.
Os governo dos dois países eram próximos ideologicamente dos governos petistas no Brasil.