Os casos que vêm tomando conta do noticiário nas últimas duas semanas preocupam a todos, seja no Maranhão ou em nível nacional. Ataques isolados vistos aqui, ou ações beligerantes como as constatadas esta semana no Rio de Janeiro, ganham contornos de uma guerra urbana que se agrava a cada dia.
Na manhã (seis horas) de 28 de outubro de 2025 o Rio de Janeiro parou. A Cidade Maravilhosa, cheia de “encantos mil”, maior destino turístico do Brasil e vitrine de belezas comunais, sucumbiu diante do enfrentamento ao terror da criminalidade.
Os complexos do Alemão e da Penha assistiram ao avanço de tropas, incursões em ruas e vielas, policiais recebidos a bala, barricadas, explosões e ataques com drones. Algo antes visto apenas em guerras agora ocorre em nosso quintal, em território tupiniquim.
Os números confirmam o tamanho da operação: 2.500 policiais, 100 mandados de prisão, 15 horas de ação, totalizando 113 prisões, 121 mortos, 118 armas apreendidas (quase 100 fuzis), além de explosivos, munições e toneladas de drogas ainda sendo contabilizadas.
A dimensão impressiona e revela a força de um Estado paralelo que desafia a ordem dia após dia e torna reféns milhões de pessoas, situação que se repete em todo o Brasil, em maior ou menor proporção.
Territórios que antes serviam para crianças correrem, jogarem bola e soltarem pipa, onde pessoas circulavam livres, sentavam-se às portas para conversar e manter vivo o espírito comunitário, hoje são áreas vazias, desertas e escuras. O domínio territorial alcançou proporção tal que inverteu valores e encarcerou cidadãos de bem.
A questão já não é mais o controle do tráfico de drogas, que tende a se tornar um ativo secundário, mas a dominação de territórios para, sobre eles, promover todo tipo de exploração comercial possível. Estimativas apontam que mais de 20% do território brasileiro habitado está sob o domínio do crime organizado.
Há muitas críticas à operação do governo carioca, mas, pela primeira vez, tenho a sensação de que as opiniões se dividem de forma substancial. Há quem cobre respostas do Estado; por outro lado, há quem defenda que o Estado agiu dentro de sua competência, respondendo à ofensa recebida.
Naturalmente, em uma incursão policial em uma favela dominada por facção criminosa, o confronto tende a ser inevitável. É uma disputa de forças com alto poder bélico, em que nenhum dos lados se dispõe a ceder.
Diante da barbárie imposta a pessoas de bem, o Estado precisa ser firme e responder à altura, cumprindo seu papel de garantir o dever e a ordem. Contudo, o enfrentamento não deve ser o único caminho a ser adotado pelas forças oficiais.
Proponho, no entanto, um recorte para ressaltar que, em meio a esse caos, haja um tanto de reflexão pelo bem das pessoas de bem. As favelas podem ser dominadas por grupos que atuam ilicitamente, mas são habitadas por sorrisos, sonhos, esperanças, desejos, amor, trabalho e suor.
Nesse sentido, ações como as vistas no Maranhão também merecem aplausos e reconhecimento. Diante de tentativas de viralizar fake news sobre uma suposta onda de violência, o Governo agiu em conjunto com os Poderes Legislativo e Judiciário, assumindo a centralidade das ações.
Como já vem ocorrendo no sistema carcerário, onde cerca de 80% dos presos têm alguma ocupação, conforme entrevista do Desembargador Ronaldo Maciel do TJMA, depois de participar de uma reunião institucional sobre o tema, o Maranhão se consolida como farol ao integrar diferentes atores em uma mesa de deliberações interinstitucional.
Assim como no Maranhão, em todo o Brasil as instituições da sociedade civil organizada e os poderes públicos precisam se unir, fazendo valer o preceito constitucional de que a segurança é dever de todos. E isso não se trata apenas de ações armadas.
O crime não pode ser romantizado nem tomado como normalidade em nosso cotidiano urbano. E, ao que parece, a sociedade tem respondido a isso. Segurança é o tema que desperta maior preocupação por parte da população, uma vez que interfere na liberdade de ir e vir e limita o acesso a serviços públicos.
É essencial que essa integração gere resultados positivos nas áreas de educação, saúde, esporte, lazer, cultura, geração de emprego e renda. Entrar nas favelas apenas para atirar não resolve o problema, que já não é apenas de segurança pública.
Há caminhos para soluções concretas, que abandonem modelos ultrapassados. O Brasil precisa ser repensado e passado a limpo, com a complexidade que o quadro exige, sendo uma pauta transversal que perpassa políticas públicas estatais capazes de assegurar a promoção do bem-estar de forma ampla, independente de ideologias ou colorismos partidários.
Na manhã (seis horas) de 28 de outubro de 2025 o Rio de Janeiro parou. A Cidade Maravilhosa, cheia de “encantos mil”, maior destino turístico do Brasil e vitrine de belezas comunais, sucumbiu diante do enfrentamento ao terror da criminalidade.
Os complexos do Alemão e da Penha assistiram ao avanço de tropas, incursões em ruas e vielas, policiais recebidos a bala, barricadas, explosões e ataques com drones. Algo antes visto apenas em guerras agora ocorre em nosso quintal, em território tupiniquim.
Os números confirmam o tamanho da operação: 2.500 policiais, 100 mandados de prisão, 15 horas de ação, totalizando 113 prisões, 121 mortos, 118 armas apreendidas (quase 100 fuzis), além de explosivos, munições e toneladas de drogas ainda sendo contabilizadas.
A dimensão impressiona e revela a força de um Estado paralelo que desafia a ordem dia após dia e torna reféns milhões de pessoas, situação que se repete em todo o Brasil, em maior ou menor proporção.
Territórios que antes serviam para crianças correrem, jogarem bola e soltarem pipa, onde pessoas circulavam livres, sentavam-se às portas para conversar e manter vivo o espírito comunitário, hoje são áreas vazias, desertas e escuras. O domínio territorial alcançou proporção tal que inverteu valores e encarcerou cidadãos de bem.
A questão já não é mais o controle do tráfico de drogas, que tende a se tornar um ativo secundário, mas a dominação de territórios para, sobre eles, promover todo tipo de exploração comercial possível. Estimativas apontam que mais de 20% do território brasileiro habitado está sob o domínio do crime organizado.
Há muitas críticas à operação do governo carioca, mas, pela primeira vez, tenho a sensação de que as opiniões se dividem de forma substancial. Há quem cobre respostas do Estado; por outro lado, há quem defenda que o Estado agiu dentro de sua competência, respondendo à ofensa recebida.
Naturalmente, em uma incursão policial em uma favela dominada por facção criminosa, o confronto tende a ser inevitável. É uma disputa de forças com alto poder bélico, em que nenhum dos lados se dispõe a ceder.
Diante da barbárie imposta a pessoas de bem, o Estado precisa ser firme e responder à altura, cumprindo seu papel de garantir o dever e a ordem. Contudo, o enfrentamento não deve ser o único caminho a ser adotado pelas forças oficiais.
Proponho, no entanto, um recorte para ressaltar que, em meio a esse caos, haja um tanto de reflexão pelo bem das pessoas de bem. As favelas podem ser dominadas por grupos que atuam ilicitamente, mas são habitadas por sorrisos, sonhos, esperanças, desejos, amor, trabalho e suor.
Nesse sentido, ações como as vistas no Maranhão também merecem aplausos e reconhecimento. Diante de tentativas de viralizar fake news sobre uma suposta onda de violência, o Governo agiu em conjunto com os Poderes Legislativo e Judiciário, assumindo a centralidade das ações.
Como já vem ocorrendo no sistema carcerário, onde cerca de 80% dos presos têm alguma ocupação, conforme entrevista do Desembargador Ronaldo Maciel do TJMA, depois de participar de uma reunião institucional sobre o tema, o Maranhão se consolida como farol ao integrar diferentes atores em uma mesa de deliberações interinstitucional.
Assim como no Maranhão, em todo o Brasil as instituições da sociedade civil organizada e os poderes públicos precisam se unir, fazendo valer o preceito constitucional de que a segurança é dever de todos. E isso não se trata apenas de ações armadas.
O crime não pode ser romantizado nem tomado como normalidade em nosso cotidiano urbano. E, ao que parece, a sociedade tem respondido a isso. Segurança é o tema que desperta maior preocupação por parte da população, uma vez que interfere na liberdade de ir e vir e limita o acesso a serviços públicos.
É essencial que essa integração gere resultados positivos nas áreas de educação, saúde, esporte, lazer, cultura, geração de emprego e renda. Entrar nas favelas apenas para atirar não resolve o problema, que já não é apenas de segurança pública.
Há caminhos para soluções concretas, que abandonem modelos ultrapassados. O Brasil precisa ser repensado e passado a limpo, com a complexidade que o quadro exige, sendo uma pauta transversal que perpassa políticas públicas estatais capazes de assegurar a promoção do bem-estar de forma ampla, independente de ideologias ou colorismos partidários.
Osmar Gomes dos Santos é Juiz de Direito na Comarca da Ilha de São Luís (MA).
Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas, da ALMA – Academia Literária do Maranhão e da AMCAL – Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras

