A cada nova revelação, vai se desatando a trama de um suposto esquema de corrupção que estaria operando no coração do governo do Maranhão, sob o comando do governador Carlos Brandão (PSB). Documentos oficiais, vídeos e denúncias protocoladas no Supremo Tribunal Federal (STF) indicam o uso de empresas de fachada, contratos públicos sem transparência e até o envolvimento direto de familiares do chefe do Executivo estadual.
A denúncia mais recente, apresentada pela advogada Clara Alcântara na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7780, revela um possível esquema de favorecimento empresarial e ocultação de patrimônio que envolve o governador, seus irmãos e aliados políticos. O STF já acionou a Polícia Federal para investigar o caso.
No centro do escândalo está a empresa VIGAS Engenharia Ltda., que nos últimos anos acumulou contratos milionários com a Prefeitura de Colinas, reduto político da família Brandão. Em 2024, a empresa recebeu R$ 13,2 milhões em recursos do Fundef, verba federal destinada exclusivamente à educação, aplicados em obras com pouca ou nenhuma fiscalização.

Um personagem-chave surge nesse enredo: Alessandro, que figura como preposto da VIGAS Engenharia em contratos com o município e aparece, em vídeo amplamente divulgado, no Parque de Vaquejada de Marcos Brandão, irmão do governador, se identificando como funcionário da família. A cena expõe uma possível conexão direta entre os contratos públicos e os interesses privados do clã Brandão.
A denúncia afirma que, apesar da VIGAS estar registrada em nome de um laranja, quem realmente controla a empresa são Marcus Barbosa Brandão (irmão do governador), Carlos Orleans Braide Brandão e Ítalo Augusto Reis Carvalho. Para legitimar a atuação da empresa em licitações, um Atestado de Responsabilidade Técnica (ART) teria sido emitido por Marcos Brandão, mesmo responsável por um acesso externo ao sistema da Secretaria de Infraestrutura do Estado (SINFRA-MA), vinculado a pagamentos da VIGAS acesso esse rapidamente cancelado após ser identificado.
Como se não bastasse, a denúncia ainda expõe um sofisticado esquema de blindagem patrimonial por meio da criação de holdings familiares (MBBRANDAO, JHBB e OLEA Holding) que passaram a controlar empresas como a Coagri Colinas Agropecuária. Em apenas um ano, o capital social da empresa saltou de R$ 600 mil para R$ 4,57 milhões, com movimentações internas de imóveis e cotas entre os membros da família, muitas vezes com valores subavaliados, segundo os documentos anexados à denúncia.
A narrativa que se forma é a de uma teia cuidadosamente montada, onde empresas de fachada, contratos públicos, vaquejadas e negócios familiares se misturam para beneficiar um pequeno grupo com acesso privilegiado ao poder. Tudo isso em meio a uma gestão que, publicamente, se vende como transparente, mas que nos bastidores é marcada por movimentações suspeitas, relações promíscuas entre o público e o privado e blindagem institucional.
A advogada Clara Alcântara pede ao STF que apure os indícios de lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, uso indevido de recursos federais e aparelhamento do Estado. Segundo ela, há provas suficientes de que a estrutura governamental está sendo usada para favorecer interesses particulares da família Brandão, sob o manto de legalidade apenas aparente.
Enquanto o governador silencia diante das denúncias, a Assembleia Legislativa do Maranhão, dominada por aliados do Palácio dos Leões, segue omissa ignorando documentos, vídeos e movimentações financeiras que exigem resposta imediata do poder público.
A pergunta que fica é: até quando o Maranhão será governado como uma extensão dos negócios de uma única família?
(Com informações do Diário 98)