O achado foi coordenado pelo professor Elver Mayer, atualmente na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), e marca um avanço significativo no entendimento da diversidade de dinossauros que habitaram o Brasil durante o período Cretáceo, há cerca de 100 milhões de anos.
O material composto por 13 ossos fossilizados foi localizado durante obras de construção de um terminal ferroviário da empresa Brado Logística. Curiosamente, a descoberta aconteceu em plena pandemia, quando chuvas intensas expuseram os fósseis em um barranco recém escavado.
Inicialmente confundidos com restos de uma preguiça gigante, os ossos chamaram a atenção do arqueólogo Daniel Ribeiro da Silva, da empresa Arqueologística, que acionou especialistas para verificar o material. Elver Mayer, na época professor da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), foi chamado para liderar as escavações e estudos por estar mais próximo do local.
Após serem cuidadosamente transportados para o Pará e passarem por um extenso processo de limpeza e reconstituição, os fósseis foram analisados por uma equipe multidisciplinar envolvendo paleontólogos de várias partes do país. O resultado foi a identificação de uma nova espécie de saurópode do grupo dos titanossauros dinossauros de pescoço longo, cabeça pequena e alimentação exclusivamente herbívora.
Embora o nome oficial da espécie ainda esteja sob sigilo (será divulgado com a publicação do artigo científico, prevista para o segundo semestre de 2025), o impacto da descoberta já é sentido. O exemplar maranhense preenche uma lacuna importante entre os saurópodes já conhecidos no Brasil, oferecendo pistas valiosas sobre a evolução desses animais no território nacional.
Mais do que um feito científico, a decisão de devolver os fósseis ao Maranhão reforça um posicionamento simbólico importante. Os ossos agora estão expostos no Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia, em São Luís, onde o público poderá vê-los de perto por um mês. Depois disso, seguirão para uso exclusivo da comunidade científica.
Apesar de a legislação permitir que fósseis permaneçam em qualquer instituição científica pública do país, Mayer optou por trazê-los de volta ao estado de origem. Para ele, manter o material onde foi encontrado fortalece a conexão da população local com sua própria história natural.
“Temos um passado de exploração colonial em que muitas das nossas riquezas naturais foram levadas para fora, até mesmo para outros países. Na paleontologia, estamos tentando mudar isso. Trazer esses fósseis de volta ao Maranhão tem um peso simbólico enorme. É sobre pertencimento, identidade e valorização do que é nosso”, afirma o pesquisador.
A descoberta representa um marco não só para a ciência, mas também para a memória cultural do estado provando que, às vezes, o passado pode emergir do solo com força suficiente para transformar o presente.