A pesquisa analisou dados de mais de 160 mil pessoas, oriundas de 40 países — incluindo o Brasil —, e contou com a colaboração de 41 cientistas de diferentes continentes, como América Latina, Europa, África e Ásia.
De acordo com os pesquisadores, aspectos políticos, sociais e ambientais exercem uma influência significativa sobre a saúde mental e física da população, podendo levar ao declínio cognitivo precoce e ao aumento dos casos de demência.
Entre os fatores associados ao envelhecimento acelerado, destacam-se:
– Físicos, como a má qualidade do ar;
– Sociais, incluindo desigualdade econômica, desigualdade de gênero e migração;
– Sociopolíticos, como a limitação de direitos políticos, fragilidade democrática e ausência de representatividade.
O trabalho utilizou inteligência artificial e modelos epidemiológicos avançados para avaliar as chamadas “diferenças de idade biocomportamentais” (BBAGs), que indicam a distância entre a idade cronológica de uma pessoa e a idade prevista com base em sua saúde geral, cognição, escolaridade, funcionalidade e fatores de risco como doenças cardiovasculares e deficiências sensoriais.
Com base nessa metodologia, os pesquisadores estabeleceram uma relação direta entre o envelhecimento da população e os contextos políticos, econômicos, sociais e ambientais específicos de cada país.
Países europeus e asiáticos apresentaram os menores índices de envelhecimento acelerado. Por outro lado, Egito e África do Sul registraram os maiores. O Brasil ficou em posição intermediária nesse ranking global.
CORRUPÇÃO E ENVELHECIMENTO ACELERADO
Em algumas regiões, o estudo identificou que a polarização política, falhas de governança e instabilidade institucional estão diretamente relacionadas ao declínio cognitivo e à redução das capacidades físicas da população.
Esses elementos prejudicam o funcionamento dos sistemas de saúde, comprometem a distribuição de recursos públicos e enfraquecem a coesão social, agravando as disparidades entre diferentes grupos sociais.
Países com altos índices de corrupção, baixa qualidade democrática e pouca transparência registram os maiores níveis de envelhecimento acelerado.
“A confiança no governo está ligada a melhores condições de saúde. Já a desconfiança e a polarização política aumentam a mortalidade e fragilizam as respostas de saúde pública”, aponta o artigo.
A exposição prolongada à instabilidade política pode gerar um estado crônico de estresse na população, o que contribui para o desgaste cardiovascular e o declínio das funções cognitivas.
Segundo os cientistas, o envelhecimento deve ser compreendido em uma perspectiva mais ampla, como o resultado de múltiplos fatores aos quais somos expostos diariamente — e não apenas por características individuais como genética ou estilo de vida.