A pesquisa considera mulheres com idades entre 15 e 49 anos — o chamado período reprodutivo.
Segundo o levantamento, a taxa de fecundidade total no Brasil — que representa o número médio de filhos por mulher — caiu para 1,55 em 2022. Esse índice reforça uma tendência de queda observada desde a década de 1960.
Naquele ano, a média era de 6,28 filhos por mulher. Já nos anos seguintes, os números recuaram progressivamente: 5,76 (1970), 4,35 (1980), 2,89 (1991), 2,38 (2000) e 1,90 (2010).
Desde 2010, a taxa brasileira está abaixo do nível de reposição populacional, estimado em 2,1 filhos por mulher — número necessário para que uma população se mantenha estável ao longo das gerações.
Ainda de acordo com Marla, a queda da fecundidade começou nos anos 1960, especialmente em estados mais desenvolvidos da região Sudeste, em áreas urbanas e entre mulheres com maior nível de escolaridade. Nas décadas seguintes, esse movimento se espalhou por todo o território nacional.
DIFERENÇAS REGIONAIS
A análise por regiões mostra que o Sudeste lidera a tendência de queda na fecundidade. A região, que registrava 6,34 filhos por mulher em 1960, chegou ao nível de reposição populacional em 2000, com 2,1 filhos. Em 2022, a taxa foi de apenas 1,41 — a menor do Brasil.
No Sul, que já apresentava os menores índices em 1960 (5,89), a redução mais acentuada ocorreu entre 1970 e 1991. Em 2022, a taxa ficou em 1,50.
O Centro-Oeste também seguiu tendência semelhante, saindo de 6,74 filhos por mulher em 1960 para 1,64 em 2022.
Já nas regiões Norte e Nordeste, a queda foi mais lenta. O Norte passou de uma taxa de 8,56 em 1960 para 6,45 em 1980, atingindo 1,89 em 2022 — a mais alta entre as regiões brasileiras.
O Nordeste, por sua vez, foi a única a registrar um leve aumento de 1960 (7,39) para 1970 (7,53), antes de iniciar uma trajetória de queda. Em 2022, a taxa nordestina foi de 1,60.
ESTADOS COM TAXAS MAIS ALTAS E MAIS BAIXAS
Roraima é o único estado com taxa de fecundidade acima do nível de reposição: 2,19 filhos por mulher. Amazonas (2,08) e Acre (1,90) vêm logo atrás.
Entre os estados com menor fecundidade estão Rio de Janeiro (1,35), Distrito Federal (1,38) e São Paulo (1,39).
Além da redução no número de filhos, o Censo identificou um adiamento da maternidade.
A idade média em que as mulheres têm filhos aumentou de 26,3 anos em 2000 para 28,1 em 2022. Essa tendência foi verificada em todas as regiões do país.
O Norte ainda tem a menor média (27 anos), enquanto Sul e Sudeste lideram com 28,7 anos. Entre os estados, o Distrito Federal apresenta a maior média de idade (29,3 anos), e o Pará, a menor (26,8 anos).
MAIS MULHERES SEM FILHOS
O número de mulheres que chegam ao final da vida reprodutiva sem ter filhos também aumentou.
Em 2000, 10% das brasileiras entre 50 e 59 anos não tinham filhos nascidos vivos. Em 2010, o índice foi de 11,8%, e em 2022, saltou para 16,1%.
No Norte, esse percentual cresceu de 6,1% para 13,9%. Já no Sudeste, o índice subiu de 11% para 18%.
O Rio de Janeiro é o estado com o maior número de mulheres sem filhos (21%), e Tocantins tem o menor (11,8%).
INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO E DA RAÇA
As taxas de fecundidade variam também de acordo com a religião. Mulheres evangélicas registram as maiores taxas (1,74 filhos por mulher), acima da média nacional.
As menores foram observadas entre espíritas (1,01), seguidoras de umbanda e candomblé (1,25), e católicas (1,49). Mulheres sem religião tiveram, em média, 1,47 filhos.
No recorte racial, mulheres amarelas (de origem asiática) apresentaram a menor taxa de fecundidade (1,2), seguidas pelas brancas (1,4).
Pretas (1,6) e pardas (1,7) estão acima da média nacional. As indígenas ainda superam a taxa de reposição, com 2,8 filhos por mulher.
A idade média de fecundidade também variou conforme a raça: 29 anos entre mulheres brancas, 27,8 entre pretas e 27,6 entre pardas.
ESCOLARIDADE FAZ DIFERENÇA
O nível de instrução também influencia fortemente a fecundidade. Mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto têm, em média, 2,01 filhos. Já aquelas com ensino superior completo registraram taxa de 1,19.
Entre as demais faixas de escolaridade, os dados mostram: 1,89 filho por mulher com ensino fundamental completo ou médio incompleto e 1,42 com ensino médio completo ou superior incompleto.
A idade média para ter filhos também varia conforme o grau de instrução: mulheres com ensino superior têm, em média, o primeiro filho aos 30,7 anos, enquanto aquelas com baixa escolaridade têm filhos por volta dos 26,7 anos.