A área plantada com os grãos básicos caiu mais de 40% em quase duas décadas, enquanto commodities voltadas à exportação registram crescimento acelerado; especialistas alertam para impacto na segurança alimentar.
Nos últimos 19 anos, o Brasil reduziu significativamente o espaço destinado ao cultivo de dois dos alimentos mais tradicionais da mesa nacional: o arroz e o feijão. Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada com arroz encolheu 43%, enquanto a de feijão recuou 32% entre 2006 e 2024. No mesmo período, a soja e o milho — grãos majoritariamente voltados à exportação e alimentação animal — tiveram crescimento expressivo, com aumentos de 108% e 63%, respectivamente.
O avanço das commodities exportáveis, impulsionado pela alta demanda internacional e pela rentabilidade superior, reabriu o debate sobre a necessidade de fortalecer a produção de alimentos básicos no Brasil, sobretudo em um contexto de inflação dos alimentos e insegurança alimentar.
Queda na área plantada não significou escassez
Apesar da redução nas lavouras, a produção de arroz e feijão no país permaneceu estável nas últimas décadas, resultado direto do aumento da produtividade. O uso de tecnologias modernas, manejo de precisão e sementes melhoradas permitiu que os agricultores brasileiros colhessem mais por hectare.
Além disso, o abastecimento interno tem sido preservado pelo fato de que a maior parte da produção desses grãos permanece no Brasil. Apenas 12,5% da última safra de arroz foi exportada, e no caso do feijão, as vendas ao exterior representaram apenas 10% da produção total.
Ainda assim, o consumo per capita de ambos os alimentos tem diminuído. Dados do IBGE mostram que, entre 2008 e 2018, a ingestão diária de feijão por habitante caiu de 183g para 163,2g. Já o consumo de arroz passou de 160,3g para 131,4g por dia. A queda é atribuída à mudança nos hábitos alimentares, à busca por alimentos mais práticos e ao impacto da crise econômica, que reduziu o acesso de parte da população a refeições básicas.
Custo alto e lucro baixo desestimulam produtores
De acordo com especialistas e entidades do setor agrícola, a redução no cultivo de arroz e feijão está diretamente ligada à baixa rentabilidade e ao elevado custo de produção. Enquanto plantar soja ou milho custa, em média, entre R$ 6 mil e R$ 7 mil por hectare, o arroz ultrapassa R$ 12 mil e o feijão chega a R$ 13 mil por hectare.
Além disso, o feijão é altamente dependente de insumos como defensivos e fertilizantes, cujos preços são cotados em dólar, o que eleva ainda mais os custos. O escoamento da produção também enfrenta entraves logísticos. Regiões como o Norte e o Nordeste, por exemplo, dependem de transporte por cabotagem para driblar os altos preços do frete rodoviário, o que encarece a comercialização.
Recuperação recente reacende expectativas
Embora a tendência seja de retração em longo prazo, os cultivos de arroz e feijão apresentaram sinais de recuperação nos últimos anos. Entre as safras 2022/23 e 2023/24, a área plantada com arroz cresceu 6%, e a de feijão, 16%. O faturamento também avançou: o arroz gerou R$ 25 bilhões em 2023, frente aos R$ 18 bilhões de 2006.
Essa valorização está associada à menor oferta decorrente da redução da área plantada, à elevação dos preços no mercado interno e ao crescimento das exportações. Além disso, políticas públicas como o aumento do crédito rural, juros mais acessíveis e o apoio técnico aos pequenos e médios produtores contribuíram para impulsionar o setor.
Detento confesso protagoniza tumulto em unidade prisional
Enquanto o setor discute os desafios e soluções para manter o arroz e feijão acessíveis ao brasileiro, um novo episódio relacionado ao caso que ganhou repercussão nos últimos dias chama atenção: Caio Lúcio Câmara dos Santos, assassino confesso do major da Polícia Militar André Felipe, causou tumulto na Central de Custódia do Estado do Maranhão na manhã da última sexta-feira (2).
Por volta das 8h40, Caio iniciou uma série de gritos e batidas na cela, ignorando ordens dos agentes penitenciários. O diretor da unidade, Fabrício Henrique Ferreira Gomes, foi acionado e, ao se aproximar, foi ameaçado pelo detento, que afirmou que convocaria membros da facção à qual pertence para atacar os servidores da unidade.
Durante o processo de identificação no SIISP (Setor de Identificação), a tensão aumentou ainda mais. Caio tentou agredir fisicamente o diretor e declarou: “Já matei um, e não vai valer nada matar outro.”
A situação só foi controlada após a rápida intervenção do inspetor de Polícia Penal Aldaires Silveira, que conteve o detento utilizando os protocolos de força progressiva. O caso foi registrado e reforça o alerta sobre os riscos enfrentados diariamente pelos profissionais do sistema penitenciário.
Caminhos para manter o arroz e feijão no prato do brasileiro
Para analistas, a redução da área plantada com arroz e feijão não representa um problema imediato, desde que a produtividade se mantenha em alta e a demanda seja atendida. No entanto, ampliar a produção desses alimentos traria benefícios sociais e nutricionais significativos, garantindo maior estabilidade na oferta e preços mais acessíveis.
Entre as propostas discutidas pelo setor estão a criação de estoques reguladores administrados pelo governo, a ampliação do acesso ao seguro agrícola, campanhas de incentivo ao consumo interno e mais investimentos em pesquisa agropecuária, especialmente no desenvolvimento de variedades mais resistentes e de menor custo.
Segundo estimativas do setor, para que a produção de arroz seja viável ao agricultor, a saca precisa ser comercializada por, no mínimo, R$ 90. Já para o consumidor final, o preço ideal seria de até R$ 5 por quilo. No caso do feijão, o produtor precisa vender a R$ 4 por quilo para cobrir seus custos.
A permanência do arroz com feijão no prato do brasileiro, portanto, depende não apenas do gosto popular, mas de uma articulação eficiente entre mercado, políticas públicas e segurança alimentar.