Apesar dos avanços na participação feminina na política brasileira, as mulheres ainda enfrentam enormes desafios para ocupar espaços de poder dentro dos partidos. Especialistas e parlamentares apontam que a baixa representatividade nos cargos de liderança das legendas prejudica não apenas a inclusão feminina, mas também a diversidade e a equidade nas decisões políticas do país.
Um dos reflexos desse cenário é a falta de recursos e oportunidades para candidatas, muitas vezes usadas apenas para cumprir a cota de gênero exigida pela legislação eleitoral. Além disso, é comum que mulheres sejam preteridas na escolha para ministérios, lideranças no Congresso e relatorias de projetos estratégicos, como o Orçamento ou propostas ligadas à administração pública e tributária.
Levantamento da GloboNews revela que, entre os 10 partidos com maior representatividade na Câmara dos Deputados, oito não alcançam sequer 30% de mulheres em suas executivas nacionais — o principal órgão decisório das siglas. Quando se trata do comando partidário, o quadro é ainda pior: apenas cinco legendas são presididas por mulheres. Esse monopólio masculino na estrutura partidária impacta diretamente a distribuição de candidaturas e recursos, dificultando o crescimento político das mulheres.
A baixa representatividade feminina se estende para outras esferas do poder. Apenas 13% das prefeituras brasileiras são comandadas por mulheres, e em 2022, apenas dois estados elegeram governadoras. No Congresso Nacional, o número de deputadas e senadoras ainda é extremamente baixo, apesar de ter atingido um patamar recorde. Desde 1934, quando a primeira mulher foi eleita deputada federal, apenas 335 mulheres passaram pela Câmara, um número que sequer preencheria todas as cadeiras do plenário.
Além da barreira de gênero, mulheres negras, indígenas e trans enfrentam obstáculos ainda maiores. Mesmo com a obrigatoriedade da destinação de 30% dos recursos partidários e eleitorais para candidaturas femininas, o repasse desses valores costuma beneficiar majoritariamente mulheres brancas, devido à concentração do poder nas mãos de dirigentes homens e brancos. Sem mudanças estruturais e compromissos reais com a inclusão, a desigualdade na política brasileira continuará sendo uma realidade.
Parlamentares e especialistas reforçam que é urgente implementar mecanismos que ampliem a presença feminina nas instâncias decisórias dos partidos. Sem isso, o ciclo de exclusão persiste, dificultando o avanço das mulheres na política e mantendo um sistema que não representa a diversidade da sociedade brasileira.