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ALUÍSIO ROMÂNTICO ?

Dr. Osmar Gomes

O romantismo é uma vertente literária que predominou no século XIX e que, no Brasil, se desenrolou por pelo menos três fases: indianista, sentimentalista e social. Esta última é a que, em alguma medida, nos interessa aqui.

É nessa fase que o maranhense Aluísio Azevedo se destaca, apesar de transitar entre a vertente mais romântica – em razão do apelo comercial do gênero – e o lado mais realista, marcado pelo naturalismo inaugurado por O Mulato.

Por essa razão, seus textos ficaram marcados intencionalmente por duas características: os romances românticos, com maior aceitação por parte dos leitores, e os romances naturalistas, carregados de críticas sociais.

Da primeira característica destacam-se as obras Uma lágrima de mulher, Memórias de um condenado (A condessa Vésper), Mistérios da Tijuca (Girândola de amores), Filomena Borges, O esqueleto e A mortalha de Alzira.

Já a segunda face é marcada por características que desafiaram o próprio Azevedo, já que não tão bem recebida pela sociedade da época, apesar de hoje ser reconhecida como a de maior relevância social por retratar o Brasil como ele era.

Essa é a fase de cunho realista, voltado para os amores latentes, mas não mais sob o olhar ultrarromântico. Um período em que os amores eram contados seguindo uma narrativa com doses de realidade, com paralelos sobre acontecimentos da sociedade transportados aos personagens.

Apesar de beber no romantismo suas ideias para construir enredos, parecia não aceitar a proposta quase utópica de amores perfeitos ou da narrativa intimista em tom egocêntrico

Dessa forma, rompeu as barreiras sentimentais para colocar pitadas de suas acertadas críticas sociais. Atreveu-se a escancarar ao leitor os bastidores guardados sob o signo do silêncio de uma sociedade conservadora, notadamente da classe dominante.

Atacou a hipocrisia, a demagogia, a falsidade, a insensatez, o racismo. Mostrou que para apesar da divisão de classes, a sociedade era marcada por estigmas comuns a todos: paixões, sentimentos, traições, dramas, vaidades, ganância.

Seus romances foram influenciados pela corrente positivista, resultando em personagens construídos a partir do meio social no qual viviam. Comportamentos e atitudes que não escapavam às observações de Azevedo.

Além da aplicação de uma abordagem científica nos enredos, observa-se um forte teor de crítica às desigualdades sociais, o que torna a obra de Aluísio Azevedo um duro retrato da realidade brasileira.

Romântico? Sim, mas com ressalvas. Não aquele ultrarromântico, marcado pela (auto)supervalorização das emoções pessoais e de um subjetivismo fora do alcance da compreensão humana. Um romântico naturalista, que enxergava a sociedade como ela era e que pisava o mesmo chão de sua gente.

Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

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