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O passado escravagista precisa ser corrigido

José Reinaldo Tavares, ex-governador e Secretário de Desenvolvimento Econômico e Programas Estratégicos (Sedepe). Foto: reprodução

A escravidão era, na palavra de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, um cancro que contaminava e roía as entranhas da sociedade brasileira. Comprar e vender gente era o maior negócio do Brasil.

O Brasil jamais educou, deu moradias, renda e empregos decentes, como propunha Joaquim Nabuco. Nunca promoveu os negros e os mestiços brasileiros à condição de cidadãos plenos, com os mesmos direitos e deveres assegurados aos demais brasileiros, como desejavam Luiz Gama e José do Patrocínio. A população brasileira foi negligenciada, marginalizada explorada sob formas mal disfarçadas de trabalho forçado e mal remunerado. E, assim, permanece até hoje. A abolição libertou os brancos do fardo da escravidão, abandonando os ex-escravos à própria sorte – resumiu a historiadora Emília Viotti da Costa.

A abolição, por si mesma, não pôs fim, mas agravou o genocídio, como afirma o escritor Abdias do Nascimento. Formalmente liberto, o negro foi condenado à periferia da sociedade, como se não pertencesse à ordem legal, o que expôs a extermínio moral e cultural, que deixou sequelas econômicas e demográficas.

O racismo brasileiro é algo profundo e inquietante, de natureza estrutural, cultural. Pode-se ver, ainda hoje, comportamentos inaceitáveis de preconceito e intolerância, profundos e graves – ou ela é democrática para todas as raças e lhes confere igualdade econômica, social e cultural, ou não existe uma sociedade plurirracial e democrática, como acentuou Florestan Fernandes no livro de Abdias Nascimento.

Na crônica “Bons Dias”, publicada no jornal Imprensa Fluminense, Machado de Assis denunciava que o clima era de festa em todo o país, pela Abolição da Escravatura, com uma exceção, na distante Província do Maranhão, uma das fronteiras do tráfego negreiro. Dizia ele: menos em Bacabal, província do Maranhão, onde alguns homens declararam que a lei não valia nada e, pegando no azorrague, castigaram os seus escravos cujo crime nessa ocasião era unicamente haver sido votada uma lei, de que eles sabiam nada. Todos os dados aqui citados com trechos inteiros são do importantíssimo livro de Laurentino Gomes, volume III, Escravidão – Da Independência do Brasil à Lei Áurea. Fundamental para conhecer o nosso passado, permitindo planejar o futuro do País, sem as sequelas do passado.

Eu preferi copiar trechos para contextualizar melhor o momento em que vivemos neste governo, o Governo Brandão, com importantes projetos que corrigem as desigualdades do passado, cujos resultados nos impedem até hoje de crescer com mais força e com inclusão social. Esses programas não serão projetos sociais não sustentáveis, mas sim, programas de desenvolvimento econômico, estratégicos para corrigir a herança colonial brasileira.

Igualdade social – Em um deles, o governo se propõe a cuidar das crianças defamílias muito pobres, de zero a seis anos, nas Casas de Esperanças, onde começaremos por cuidar das mães, em sua gestação. O programa será
presidido por Larissa Brandão, primeira-dama do Estado, e está pronto para ser lançado após a eleição, na região Itaqui-Bacanga. O objetivo final é prepararmos essas crianças para entrar em igualdade com todas as outras no
Ensino Fundamental e prepará-las para vencer na vida.

O outro é cuidar das comunidades quilombolas, ajudando-as para que possam desenvolver habilidades e ter recursos para promoverem empreendimentos na área rural e urbana. Os recursos viriam de rendimentos de projetos de energia solar, implantados com essa finalidade. Os estudos estão prontos e os recursos obtidos assim serão substanciais, capazes de mudar rapidamente a situação de muitas dessas famílias. Esses projetos são fundamentais para colocar o estado na vanguarda da reparação histórica dos erros cometidos no trato aos negros escravos, mesmo depois da Abolição da Escravatura.

Artigo de José Reinaldo Tavares

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