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A questão da saúde face a nova realidade

José Reinaldo Tavares, ex-governador e Secretário de Desenvolvimento Econômico e Programas Estratégicos (Sedepe). Foto: reprodução

Gastos e eficiência desafiam os governos na saúde. A pandemia criou enorme demanda reprimida por procedimentos e a estagnação de verbas federais agravou o cenário da saúde – tema que mais preocupa os brasileiros.

O sistema de saúde do país patina na vacinação contra a Covid e recebe alertas devido à queda acentuada das taxas de imunização do país. A Pesquisa Datafolha mostra que a saúde está no topo das preocupações dos brasileiros. A área viu seus desafios aumentarem com a pandemia, em um cenário de estagnação de financiamento público federal.

Cronicamente sobrecarregado e diante da queda orçamentária, o SUS (Sistema Único de Saúde) tem lidado com a demanda reprimida durante a crise sanitária. Houve diminuição de mais de 900 milhões de procedimentos, de acordo com a Fiocruz, que comparou os anos de 2020 e 2021 ao período pré-pandemia.

Houve também uma carga maior de pacientes com doenças crônicas descompensadas, como diabetes e hipertensão. Outros sofreram com os efeitos da Covid longa e com o agravamento da saúde mental. No último mês, o aumento de casos da “varíola dos macacos” acrescentou novos desafios à rede pública de saúde.

O país vive, ainda, um apagão de remédios, como antibióticos e analgésicos, devido à dependência de matéria-prima importada: o Brasil compra do exterior 95% de todo o IFA (Insumo Farmacêutico Ativo).

Déficit de investimentos – Além dos problemas na vacinação contra a Covid, o sistema de saúde vem sendo alertado para possível surgimento de novas epidemias em razão da queda acentuada das taxas de imunização infantil. Para lidar com essa tempestade, o novo presidente terá de ampliar e qualificar os investimentos em saúde pública nos próximos anos. O Brasil é um dos países que menos investe recursos na área, apesar de 150 milhões de pessoas no país dependerem, exclusivamente, da saúde pública.

Para melhorar o sistema, reduzir filas de atendimento especializado, e de cirurgias do SUS, é preciso uma atenção primária fortalecida, acesso a exames básicos e apoio de telemedicina que podem diminuir as filas de espera por especialistas, como alguns exemplos pelo país. É preciso, ainda, ampliar a cobertura do programa Saúde da Família, hoje em 66%, para 100%. Esse modelo é apontado como o melhor, segundo os resultados de diversos indicadores de saúde. Em relação às consultas especializadas, procedimentos e cirurgias, um dos caminhos é a implantação das redes de atenção em todas as macrorregiões, garantindo o acesso – desde a atenção primária e de média complexidade ambulatorial – até os hospitais. Mas, para isso será preciso  ampliar o financiamento federal. Os gastos com a saúde no Brasil estão estagnados desde 2012. O Governo Federal gasta em saúde 3,8% do PIB. A média de gastos públicos dos países da OCDE (Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico), o clube dos países ricos, é de 6,5%.

Para melhorar o serviço de saúde pública é preciso adotar ferramentas digitais que permitam às equipes ter acesso aos dados sanitários da população em todos os níveis do sistema, o que não ocorre hoje.

Artigo escrito por José Reinaldo Tavares

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