Ninguém poderia esperar, no final do ano passado, a terrível pandemia que se avizinhava. Eu, recém casado, de viagem marcada para a Itália, começando por Milão (o restante da viagem seria de trem por várias cidades da região), fui alertado na véspera da pandemia no país. Conseguimos cancelar a viagem na véspera de embarcar. Foi muita sorte, seria terrível chegar lá e ter as igrejas históricas, museus, e outras áreas de grande interesse para nós, fechadas, sem visitação.
Pensamos em ir para outros locais dentro do país, mas tudo foi se fechando devido à pandemia do coronavírus. Daí em diante, estamos em confinamento e em intensa atividade de leitura, de escrita, de assistir filmes e séries, na TV e na Netflix, e ver os noticiários. O restante do tempo tem sido para compartilhar com amigos próximos, nossas impressões e perplexidades pelo momento em que vivemos. E assim vamos levando, sem esquecer da hora da ginástica, que não paramos de fazer. Por drive-thru, fomos vacinados e, até a comunhão, na quinta-feira santa, foi assim sem sair do carro e com máscara, que só tiramos para receber a hóstia. E não perdemos a nossa missa dominical na TV. Estamos rezando sempre para que tudo isso passe logo e pedindo proteção à família e aos amigos. Mas, é claro que, como todos, sentimos falta da nossa vida em comunidade, além de saudades da família e dos amigos.
Quem poderia pensar que a mais poderosa indústria do planeta, a do petróleo, estivesse no chão, em pleno abril, que sem consumo nas cidades, sem tráfego aéreo, o petróleo virou um estorvo para os importadores, que o estão armazenando nos próprios navios de transporte. Um dos maiores ativos financeiros do mundo, por décadas, hoje ninguém quer. É claro que isso passará, mas é um aviso.
Solidariedade global – A globalização se impôs através de um vírus, pois derrubou todo mundo, no mundo todo. Isso mostra claramente que nenhum país, rico ou pobre, está livre do que acontece nos outros e que, se tudo não for mudado, outras viroses, cada vez mais violentas, certamente virão. Fica o aviso de que se a humanidade não for mais solidária, até o que nos parecia eterno, pode mudar, de uma hora para outra.
E o mundo, que parecia ir em marcha batida rumo a uma mudança radical no clima, vê em poucos dias que a diminuição do consumo desenfreado está limpando imensas áreas inteiramente poluídas de muitas regiões do planeta. Os dados mostram que diminui em 60% a poluição do ar. Até os canais de Veneza, esse grande monumento histórico, estão mais limpos. Isso prova como somos predadores da natureza. Os países que entregaram à China a missão de ser o supridor do mundo, jogando as indústrias todas para lá, vêem que as receitas de Wall Street, do ganho mais fácil com o consumo, sem maiores riscos e investimentos, estão prestes a mudar a direção que tomaram. Ninguém sabe mais como fazer um respirador! Tem que importar da China, assim como máscaras hospitalares e tantas coisas mais. E assistimos aos países mais fortes avançando para tomar encomendas desses produtos feitas por outros países como aconteceu diversas vezes. Um canibalismo!
Uma parte do desemprego nos países mais pobres vem dessas mudanças. Precisamos voltar a nos industrializar, não podemos ser apenas compradores, pois isso tira milhões de empregos. Para isso, temos cadeias produtivas que se fazem usando componentes produzidos em muitos outros países.
Mas, um tipo de poluição, gravíssima, e que vinha sendo tolerada, mas que no passado tinha sido origem de tantas epidemias, a poluição pela falta de saneamento básico, essa não diminuiu. E está matando e prejudicando bilhões de pessoas no mundo pobre, presente em todos os estados brasileiros em intensidades diferentes. Esse é um problema urgente para o Brasil, quando vemos que nem o cuidado básico para enfrentar o covid -19 que é, antes de tudo, lavar as mãos com água e sabão, muitas pessoas não podem fazer. Como, se não tem água? E o esgoto correndo pelas ruas?
Outro problema gravíssimo é o aglomerado urbano existentes nas favelas em todo o Brasil. Esse é um pecado que vem de longe, quando a expansão das nossas cidades não levou em conta áreas para moradias de menor custo para pessoas que poderiam tirar o seu sustento trabalhando nesses locais no comércio, nas lojas, nas casas ou seja no próprio bairro. Temos que urbanizar as favelas, diminuindo o seu adensamento com soluções criativas já adotadas em outros países, com sucesso, e que eu tratei do assunto com mais detalhes em artigo, semanas atrás.
Pensando bem, vivia-se assim no passado. Eu morava na rua do Alecrim, que não era diferente das demais ruas da cidade onde algumas casas maiores, as “morada inteira”, se misturavam com as “meia morada” e dezenas de “porta e janela” bem menores. E todos nós jogávamos bola nos mesmos locais, empinávamos papagaios juntos, estudávamos nos mesmos colégios e ficamos amigos até hoje. Esse modelo precisa voltar a existir, essa é a única forma de evitar as favelas e de não excluir as pessoas. O que não pode é investir bilhões de reais, em projetos como Minha Casa, Minha Vida, segregando milhares de pessoas em áreas sem mistura social, longe do emprego e desintegradas da sociedade. Não pode dar certo isso. É o urbanismo como ciência.
Temos, enfim, que investir em programas que evitem a desigualdade social, apoiando as famílias pobres para que seus filhos cheguem ao Ensino Fundamental em igualdade de condições com as crianças nascidas em lares de classe média, como prega o professor James Heckman, Prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Chicago, principalmente do zero aos seis anos, quando o cérebro da criança é formado em plenitude.
Está mais do que na hora de criarmos a infraestrutura para acabar com as deseconomias, como a falta de uma logística de transportes causa ao nosso Agronegócio, apoiar para valer as melhores soluções, investir no desenvolvimento dos nossos próprios satélites, banda larga, inteligência artificial, 5G e no desenvolvimento dos supercomputadores quânticos. Tudo isso nos dará em troca melhores e mais racionais sistemas de saúde, de Educação, de Segurança e de Mobilidade Urbana. Temos que ser mais humanos e solidários. Senão vem o vírus e pega todo mundo.
Isso, tenho certeza, não é pedir demais.